Conto - Cabana dos Prazeres


Sinopse

Uma cabana desabitada e caindo aos pedaços descoberta por acaso por algumas crianças e adolescentes pode ser o cenário de muitas encontros e revelações de amores quase platônicos.



Ingrid Lacerda e Bruniele Leite eram amigas inseparáveis desde a infância quando se conheceram na rua das mangueiras no bairro de Pituaçú. Era uma das ruas detrás do Parque Metropolitano de Pituaçú que dava acesso por um portão nos fundos ao parque.

Ali as duas cresceram em meio a outras crianças que também habitavam aquele pedaço de paraíso em forma de lugar. O rio era utilizado para esportes aquáticos como os pedalinhos em forma de patos, jet skys e a natação.

Mas havia uma parte do rio que era proibido banhistas e era nessa parte que os moradores do bairro pescavam e as mulheres lavavam roupa de ganho. A vida daquele povo era simples e sem luxo, mas o prazer e a solidariedade compensavam.

Os jovens conheciam um caminho por entre as matas que dava para uma cabana velha. Aparentemente abandonada e caindo aos pedaços mal conseguiria os abrigar de uma eventual chuva. Os jovens então a consertaram da forma que conseguiram. Tapando seus buracos com madeiras que encontravam no caminho, de restos de tecidos que sobravam das costuras de sua mãe,  Bruniele fez uma cortina para a única janela do local e a porta só podia ser trancada por dentro.

Quando saiam da cabana, amarravam um pedaço de corda entre a maçaneta e uma vaga de madeira na parede do casebre. Aquele cenário foi palco de muitos eventos. Namoricos, brincadeiras, descobertas sexuais e iniciações nessas descobertas. Maridos ali foram traídos e esposas igualmente.

Foi ali também o lugar que testemunhou as descobertas de Ingrid e sua amiga a cerca de suas orientações sexuais. Enquanto Bruniele era negra de seios fartos e quadril largo  e um sorriso lindo que chamava a atenção dos rapazes da época pela simpatia, comunicação e inteligência, Ingrid era seu oposto.

Pele dourada do sol, tão magra quanto essas modelos de passarela. Introvertida ao extremo arriscava algumas palavras apenas com amigos. Medrosa e tímida completavam o quadro de suas virtudes. Sabia- se apaixonada pela Bru desde o inicio da adolescência, mas como dizer se a garota mal conseguia respirar perto de seu amor?

Preferia ficar perto e quem sabe talvez ela um dia a notasse? E assim seus dias seguiam sem tomar conhecimento dos sentimentos que cresciam no intimo de sua amiga. Mas o que realmente doía era ver os garotos dando em cima da sua garota.

Quando isso acontecia, Ingrid corria para a cabana e ficava lá até o fim da tarde ou certo alguém ir buscá-la. Como acontecia nesse dia.

-Ind, espera. – Bruniele pedia em vão enquanto a outra corria pela mata.
-Não. Me deixa. Quero ficar só. – Tentou em vão fechar a porta antes que a outra chegasse.

Por ser maia alta, Bruniele também tinha mais força que a outra e após forçar a porta com o corpo conseguiu entrar. O duelo era de olhares. As respirações descompassadas e as vontades gritantes em seu silêncio.

-Por quê? – Um fio de voz saiu da garganta de Ingrid.
-Você é minha amiga... E estava chorando... E podia ter acontecido algo... -De maneira incerta tentava explicar.
-Era só isso. Sou sua amiga. – O desprezo era notório em sua voz.
-Você... Não gosta de ser minha amiga? – Bruniele já tinha lagrimas nos olhos quando a resposta que menos esperava se fez ouvida. E sentida.
-Não. – Virou-se bruscamente enquanto terminava sua fala. – Não gosto, detesto, odeio ser sua amiga.

O choro da mais alta saiu sofrido. Nunca pensou que escutaria essas palavras dela. Seu peito doía de forma descomunal. O ar começava a lhe faltar fazendo com que a outra escorasse o corpo na parede.

-Mas... Não entendo...
-Não quero ser só sua amiga.
-Não?! – A confusão e uma fagulha no peito brigavam por espaço.
-Não. Às vezes você é tão lenta, Bru. Eu gosto de você.
-Ora. – Enxugou o rosto. -Mais eu também gosto de você...
-Como amiga. – Rolou os olhos. – Gosto de você mais que de uma amiga... -Revelou temerosa afastando-se da outra.
-Eu também.
-O que? – O susto daquelas palavras elevando seu tom de voz.
-Eu sinto... Coisas por você. Coisas que não deveria, mas sinto. Aqui. – Segurando a mão da outra a pousou em seu peito. -Aqui. – Deslizou pela barriga. – E aqui. – Parou no baixo ventre.

Os olhos conversavam e se entendiam. Os lábios entreabertos eram de um convite a perdição e antes que o cérebro processasse, as bocas se uniram em urgência. Braços se colaram a corpos e o tempo parou para aquele recém-casal.
Depois de longos minutos que pareceram horas, o folego findou-se as obrigando a parar. Com os olhos fechados encostaram suas testas e aguardaram as respirações normalizar. A mais alta puxou a outra para que sentassem na cama improvisada no local.

-Nunca imaginei que você sentisse o mesmo. Não deu nenhuma pista.
-Não? E por que acha que eu bati no Sinval no dia que ele tentou te agarrar?
-Proteção de irmã, talvez.
-É... Faz sentido. Mas era ódio mesmo por ele estar agarrando a minha garota.
-Sua é?
-Não quer ser minha?
-Quero. – Olhos nos olhos o pedido foi feito. -Me faça sua.

Reiniciaram o beijo. De vontades confessas, de segredos resguardados no fundo da memória e do calado coração. As peças de roupa abandonavam os corpos sendo substituídas por beijos e carícias mais ousadas. A morena deitou sua amada no amontoado de folhas cobertos por um lençol e admirou aquele corpo belo e frágil.

Os seios médios e firmes, a barriga lisa, os pelos pubianos aparados, as pernas firmes e um ar angelical em meio a toda aquela tentação. Como resistir?

Desceu beijando desde os lábios passando pelo lóbulo da orelha, seguindo um rastro pelo pescoço, colo e se demorando nos seios. Lambeu, chupou, mordeu e se deliciou. Beijou a barriga e sua fina pelugem que encerrava seu caminho no monte de Vênus.

Olhou uma ultima vez como se pedisse permissão. Que lhe foi concedida. Os lábios saborearam o ponto rijo como se fosse uma ambrosia. A ambrosia mais saborosa existente na terra. Todo aquele local foi explorado por uma jovem ávida e sedenta por descobrir aqueles prazeres escondidos.

A resposta vinha através do corpo da outra na forma de arrepios e contorcionismos. O ápice avizinhava-se. Um grito desprendeu-se de forma libertadora. A respiração acelerada, o rosto no tom afogueado e o sorriso denunciavam. Ingrid estava em êxtase.

Bruniele subiu beijando-a e envolveram-se em um abraço. Um aconchego. Os corações em paz. O por do sol deixando o céu em tons alaranjados e o frio começava a se fazer presente devido a proximidade das aguas de Pituaçú. O silencio do momento foi quebrado pela menor.

-Bru?
-oi.
-Posso te confessar algo?
-Sim.
-Eu estava com vergonha.
-De mim? – A jovem sentou-se fazendo com que a outra também sentasse.
-É que... Eu...
-Você o que?
-Eunãomedepileienãosabiasevocêiriagostar. – Disse em um folego.
-Devagar ou não entendo.
-Eu... Não... Me depilei... E não sabia se iria gostar.
-Ah! É isso? Que bobagem. Eu gosto de você do jeito que és. E podemos resolver isso de outras formas. – Sugeriu junto a um sorriso malicioso.
-Conheço esse sorriso, mas infelizmente precisamos ir.
  
Banharam-se no rio e voltaram correndo em meio a sorrisos e brincadeiras pelos caminhos anexos a pequena mata atlântica daquele parque. Se esse relacionamento teria futura apenas Cronos poderia precisar, mas como diz o dito popular “O presente é uma dádiva.”

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