Arranjo - Capitulo VI



Quando eu estava fazendo aulas de condução, meu pai me disse que o meu bem mais precioso era a vida e que eu sempre deveria ter isso em mente quando pegasse o volante para dirigir. Minha cautela e zelo não foram suficientes para evitar que outro condutor batesse seu carro na traseira do meu.  

Senti o impacto, perdi a direção por causa da água na pista, o carro rodou e bateu em uma mureta de proteção. Com dificuldade, abri os olhos. Ao passar a mão na testa senti o sangue escorrendo. Resmunguei uma palavra chula ao passo em que tentava me soltar do cinto de segurança.

Algumas sirenes chamaram minha atenção. Forcei o cinto e consegui desprendê-lo, mas senti uma dor insuportável do meu lado esquerdo. Um dos policiais chegou ao carro me pedindo calma, pois os bombeiros já estavam próximos. Enquanto aguardávamos, ele me perguntava algumas coisas para manter minha consciência.

Assim que chegaram, um dos oficiais do corpo de bombeiros abriu a porta e me explicou os procedimentos que adotariam para me locomover dali. Ao ser colocada na prancha e estabilizada voltei a sentir aquela dor. Sinalizei esse fato ao socorrista e eles entreolharam-se preocupados.

Me conduziram a ambulância e de lá para o hospital. Uns enfermeiros me levaram para uma sala para fazer curativos e exames. O sono começou a nublar-me os olhos e adormeci. Quando acordei, uma enfermeira consertava o soro em meu braço. Minha boca estava seca, os olhos ardiam por conta da luz e senti algo apertando minha cabeça. Ao tentar passar a mão para descobrir o que era aquilo, a enfermeira advertiu-me.


- Não pode mexer na atadura, menina.
- Que horas são? Há quanto tempo estou aqui? __ Indaguei-a.
- Assim que sua acompanhante chegar, o médico virá explicá-las sua situação.


Saiu do quarto deixando-me pensativa. Senti novamente aquela sonolência e adormeci.


Alguns minutos após a chegada da ambulância...

O policial discava para o número gravado como contato de emergência. Depois de duas tentativas sem sucesso, a ligação é atendida.

- Boa tarde, sou o Tenente Maciel. Com quem estou falando?
- Ingrid.
 - Dona, a senhora Dominick Meyer sofreu um acidente de carro, embora não tenha ocorrido nada grave com a moça, alguém precisa tornar-se responsável por ela nesse momento. A senhora estaria disposta?
- Não posso e nem quero.
- Tudo bem. A senhora poderia me passar o contato de alguém que possa?

"Tira a máscara que cobre o seu rosto. Se mostre e eu descubro se eu gosto do seu verdadeiro jeito de ser."

Depois de anotar o número, o oficial tornou a fazer uma ligação telefônica.

Helena e Katrina estavam saindo da casa noturna quando o telefone da moça começou a tocar. Ao ler o nome da amiga no visor, Katrina cogitou não atender, mas decerto soaria estranho perante os olhos de sua amada. Atendeu e ficou visivelmente pálida. Helena ao notar o estado da outra, tomou o aparelho celular e ouviu tudo o que a pessoa do outro lado dizia. Deixou Katrina no Compasso e foi para o hospital indicado.


Acordei tempos depois com a garganta e boca secas e uma sensação de estar sendo observada. Ao olhar na direção da porta, vi quem menos esperava naquele lugar.

-Helena?! __ Franzi o cenho em nítida confusão.
-Olá! Vim te auxiliar.

Antes que outras palavras viessem, o médico entrou. Conversou brevemente conosco e disse o meu diagnóstico recomendando descanso e imobilização do braço esquerdo. Receitou alguns analgésicos e a troca dos curativos que protegiam os arranhões e escoriações diariamente. Após sua saída, ficou um silêncio sepulcral. Nos olhávamos como se fôssemos desconhecidas.


- Onde você mora?
- Em uma chácara.
- Tem alguém lá que possa te ajudar com os curativos e remédios?
- Infelizmente não. Moro só.
- Hum! Então você irá ficar em minha casa. Lá tenho acomodações melhores e terá sempre alguém ao seu dispor.
- Não, obrigada! Não quero te incomodar tampouco somos tão íntimas assim.
- Não está me incomodando. Quanto a proximidade é você que não me deixa te conhecer.
- ... __ Eu sabia que ela tinha razão.
- Olha! Não faça por mim. Quando Katrina soube do seu acidente ficou em estado de nervos e preocupada. Fica lá em casa com a gente. Você é importante para ela por tabela é para mim também. E então? Aceita?
Notas finais:
Crédito musical: Pitty - Máscara

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