Conto - Throwback Thursday
- INFEEEERNOOOOO! - O primeiro copo estourou na parede. - DESGRAÇADA! - foi a vez do jarro que enfeitava a mesa de centro.
- O que é isso, Árias? Enlouqueceu? - Jack perguntava enquanto retirava a irmã do meio dos estilhaços.
- É dor. É amor. É saudade. É tristeza. É só... Eu. Eu sou isso que você vê. Alguém que amou profundamente e não pôde viver a plenitude desse amor por causa da raiva alheia, da inveja, do despeito. AAAAAHHHHHH!
A mulher apertou-se no único abraço que a confortava, em meio ao prantos. Paciente, Jack a conduziu para a cozinha e por ali ficaram, em um silencioso abraço.
Já havia se acostumado com os rompantes e ataques de fúria da irmã. Olhando para a mesa de centro e vendo o notebook com a tela preenchido pela caixa de emails, especulou sobre o possível motivo.
Ela.
Cujo nome era proibido pronunciar. A mulher responsável por levar sua caçula do céu ao inferno. Assim que Árias se acalmou, pediu desculpas pela bagunça.
- Já fazem anos que ela sumiu e você continua aí com essa cara de idiota, com atitudes infantis...
- Amando-a loucamente. Ou já nem sei se é amor ou doença. Por que não há forma de removê-la de mim? Por que ela foi embora? Por que não nos deu a chance que ela tanto pediu? Por quê?
O cheiro recomeçava. Jack preparou um chá e colocou algumas gotas de floral. Sabia que se a mulher não se acalmasse ninguém dormiria essa noite.
Três anos.
Ela havia ido embora em uma noite chuvosa. Deixou um bilhete de desculpas e perdão. Desculpa pelo ato covarde de fugir e perdão por não ser merecedora do imenso amor que lhe era devotado.
Tudo permaneceu igual na casa. As fotos estavam espalhadas pela casa. As decorações, livros e CDs na estante. As roupas, sapatos e todo o arsenal de maquiagem e cosméticos no banheiro da suíte. E aí daquele que tentasse tirar qualquer objeto, por menor que fosse, do lugar.
Até o carro, Árias manteve. E quando a saudade era maior do que a dor do abandono ela se trancava ou no quarto ou no carro. Nessas horas, o Scott e uma foto tirada em meio a um campo de girassóis eram seus companheiros.
Depois de se acalmar, a morena catou os cacos e , quando pegava o último, sentiu um fisgar e uma gota de sangue pingou no tapete. Antes que dissesse qualquer outra coisa, foi retirada da voluntária função. Tomou um banho e limpou o corte, colocou um curativo e deitou-se.
Chovia forte e ao som da voz de sua âncora e alicerce, pegou no sono. Sonhou com todos os momentos vividos. Quando se conheceram e antipatizaram ao primeiro esbarrão. Do círculo de amigos em comum que insistia em juntá-las. Das primeiras conversas permeadas de sarcasmo e ironias até o primeiro diálogo franco.
Lembrou também do primeiro momento em que sentiu seu coração palpitar e as famosas borboletas no ventre. O primeiro beijo, trocado as escondidas, com gosto de chocolate e Concha Y Toro Reservado Cabernet Sauvignon. Passeios de mãos dadas, juras de amor, a primeira noite juntas e tantas outras primeiras vezes.
A madrugada ia alta quando uma vibração no criado mudo a despertou. Pegou o aparelho celular e olhou a foto de proteção de tela; um sorriso feliz dela. Desbloqueou e viu algumas chamadas perdidas da empresa que administrava, de amigos, dos pais e um número desconhecido que ligou em três horários distintos.
Deixou o aparelho na cama e conxenteou-se em olhar a chuva pela porta de vidro que dava acesso a varanda. A cama vibrou. Olhou para o celular e viu o mesmo número desconhecido. Atendeu.
- Alô?
-...
- Oi? Vai ficar mudo mesmo?
-...
- Palhaçada, viu?! Isso não é hora para passar trote. Vou desligar.
- Espera! Não desliga.
- Sweet...
- Eu... Eu preciso... Preciso ver-te. A verdade é que eu não esqueci você... Nós.
- ...
- Vou entender seu silêncio como uma neg...
- Vem! Estou a sua espera.
Incrível; cadê o desfecho?!
ResponderExcluirAté o presente momento, não há. Sua imaginação poderá criar um ou alguns.
ExcluirDelícia de leitura. Como sempre: encantada.
ResponderExcluirAaahhh!
ExcluirObrigada pela leitura.
Eu que fico encantada em saber que esses pequenos devaneios agradam.
Naay , como sempre você me deixando com a imaginação a mil.
ResponderExcluirNayara pleaaase, faça desse conto uma história com continuação por favoooor.
Pensarei em seu caso...ou não.
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