(Des)Encontros Amorosos - Epilogo

 



(Des)Encontros Amorosos – Epílogo 

Escrito por Lily Porto

 

Ponto de Vista: Maria de Fátima

Revivendo certas memórias percebo que já passamos por muitas coisas “juntas”. O que está me ocorrendo agora é que desde o primeiro encontro pessoalmente, físico ou frente a frente, como queira chamar, nós não nomeamos o que estamos vivendo. Mesmo agora, com o quase casamento, devido a esse momento de pandemia pelo o qual estamos passando.

Logo eu, que sempre gostei das coisas bem resolvidas e esclarecidas. E depois de anos em um relacionamento fracassado, me pego em meio a análise de um caso que logo será julgado e pensando que estou vivendo uma das melhores, digo, a melhor fase da minha vida ao lado dessa menina-mulher maravilhosa. Nunca parei para dizer a ela o que realmente somos uma da outra. Não é que ela esteja me cobrando algo do tipo. Não. A cobrança é minha, por tratar algo tão importante com tal falta de zelo.

Aproveitei que ela estava entretida e concentrada com a aula que estava ministrando via internet. Passei rapidamente pela porta do escritório indicando a chave do carro, já munida da minha inseparável máscara, acenando com a mão.

Para a minha sorte, a chácara não ficava tão longe assim da sede de Vila Verde. Onde também não foi tão difícil de encontrar o que eu estava procurando. Uma hora e meia fora de casa foram o suficiente para comprar o que precisava e me preparar para o que faria logo mais.

Em casa, a minha ansiedade que quase nunca se aflorava, agora era uma companhia nada agradável. O dia passou e com ele veio a calmaria do anoitecer, Dona passou a tarde inteira sentada naquela janela com aquele laptop no colo. Como aquela cena me deixava aflita. Meu medo sempre foi que em algum momento ela perdesse o equilíbrio e caísse. Mas, hoje, usarei isso ao meu favor. Enchi os pulmões de ar, e segui para perto dela.

 

— Perdoe-me, mas não saberei dizer com exatidão há quanto tempo estamos “juntas”. — fiz uma careta diante de tal afirmação, afinal, pensar é uma coisa, falar, é outra totalmente diferente. Deixa os devaneios para depois Maria de Fátima. Percebi que ela me olhava como se tentasse decifrar o que passava em minha mente e, antes que a primeira palavra saísse de seus lábios, continuei mais desajeitada que antes. — Bom, como dizia ou tentava, não conseguirei tal exatidão agora. Droga, não foi assim que ensaiei... — Neste momento, o olhar dela era um misto de curiosidade e desagrado, percebi que estava fazendo tudo errado. Levei a mão livre ao rosto respirando fundo, na tentativa de obter o controle da situação outra vez.

— Fafy, você quer me dizer exatamente o que? Essa conversa está enrolada.

 

Vê-la com o ar preocupado assolando seu semblante me deixou angustiada. Deixei o ensaio que fiz outrora para lá, me ajoelhei aos seus pés, bem clichê, eu sei, mas não me restava outra saída, e não abandonaria o meu plano sem a resposta que eu tanto queria ouvir.

 

— Doriana Eusébio Aleixo... — mostrei-lhe a mão direita, com a caixinha onde mantinha o solitário que entregaria naquele momento e o par de alianças que seria usado por nós em poucos dias. Ao ver o conteúdo da caixa, ela abafou um grito com as mãos me deixando louca de preocupação por ter quase caído daquela maldita janela. Levantei mais que depressa sustentando seu corpo com o meu. Beijei docemente seus lábios. — Me desculpe por isso. Planejei tudo diferente. Você está bem?

— Se estou bem, Fafy? — Enlaçou meu pescoço dando-me um beijo demorado nos lábios e afastou-se sorridente — Estou bem e posso ficar ainda melhor se você terminar o que estava fazendo. E dessa vez pode caprichar um pouquinho mais, sem nervosismo e sem pressa, tá bem?

— Olha que debochada! — Ela sorria em meus braços olhando a caixinha que antes eu segurava.

— Fafy, estou esperando. Se demorar mais, desistirei.

— Minha menina, você já sabe do que se trata a minha tentativa frustrada e que quase me fez levá-la ao hospital, devido ao tombo que levou da janela.

— Já falei que estou bem. Aguardando que você conclua o que ia dizer. Afinal, não faço ideia — sacudiu a caixa devolvendo-me — do que se trata.

 

A minha alternativa diante da peraltice de minha amada foi apenas sorrir e voltar a minha posição inicial. Ajoelhei-me novamente, mostrando-lhe agora apenas o solitário em minhas mãos.

 

— Doriana Eusébio Aleixo, você aceita ser minha esposa?

— Vou pensar. Depois te conto minha resposta. — Olhou-me com um certo desdém fazendo um arrepio percorrer minha espinha dorsal.

— Eu... é...Tá. — Desconcertada diante da cena, não consegui formar uma frase sequer.

 

*****

 

Dona sorria, enquanto contava sua peraltice que quase me levou ao hospital no mesmo dia em que a pedi em casamento, a sua amiga Rose. Uns quarenta e cinco dias depois do ocorrido, após ter me dito sim na frente de uma amiga minha que era juíza de paz, na nossa singela cerimonia de casamento. Reunindo apenas seus familiares, alguns dos meus e poucos amigos íntimos nossos.

Diante do atual cenário, que volta a nos amedrontar com o aumento continuo de casos de infecção dentro e fora do país, optamos por uma cerimonia pequena em nossa chácara, que fica na divisa do meu estado natal, Pernambuco, e da linda Bahia, estado natal da minha amada esposa. Não passaram de cinquenta pessoas ao todo. Tudo dentro das atuais regras da OMS. Não casamos online porque eu não suportaria, mas ela, decerto cogitaria. E agora, enfim posso dizer, que eu sou loucamente apaixonada por minha esposa. A moça séria, que ao mesmo tempo é uma comediante nata, que me irrita e me encanta com a mesma facilidade e que eu não sei mais viver longe.

Bom, fico feliz em não ter morrido para precisar conhecer o tal paraíso. Para mim ele é exatamente aqui, ao lado da minha linda Dona... De meu coração, desejos e sentimentos mais doces.




 


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