Vida sem Glamour - Relato de um Jovem Trans - Parte III

 

Parte III

"Os “trans” e “lésbicas” a maioria não aceitavam deu namorar uma moça que seja “lésbica”, isso também infernizavam quando sabiam.  Porque os “trans” a maioria pensa que as “lésbicas” apenas gostavam deles por causa do órgão sexual ser feminino e não por serem homem. Já a maioria das “lésbicas” falavam que em vez de namorar um homem “trans” era melhor namorar um homem de verdade. Pra mim esse tipo de pensamento deles são errados, eu nem me importo com isso, contando que não atinja a pessoa que eu namore. Eu gosto de mulheres lésbicas, bi e hetero, pra mim tudo é mulher. Se eu namoro uma mulher lésbica, logo o casal não é hetero?! Pois no meu modo de pensar a moça mesmo namorando comigo continua sendo lésbica e não vai virar hetero, o que importa é o amor que tanto eu e a moça sente. Por isso que quando alguém falava que era um casal hetero, eu simplesmente falava que não, pois eu sou hetero e a moça ou era lésbica ou bi. A maioria das pessoas não compreendiam.

Os “trans” a maioria eu acabava vendo eles usarem e indicarem medicamentos ilegais. Eu ficava observando o modo como eles pensavam e nunca gostei. Para eles o medicamento “Durateston” fazia mais efeito que o outro que era “Deposteron”, a medica sempre passava “Deposteron”. Sempre achei que era burrice da parte deles pensarem desse jeito e indicarem para outros comprarem ilegal, pois a maioria estava fazendo o tratamento tudo certo com a médica e não se pode usar nada ilegalmente e a médica explicava tudo sobre os medicamentos. Mas como a maioria pareciam ser burros, pois mal informados ninguém nunca esteve. Eu compreendia e percebi que qualquer medicamento reage de um jeito no organismo de cada um, então não tem como saber ou adivinhar qual vai reagir melhor. A maioria dos “trans” colocavam a própria vida em risco por usar ilegalmente, se caso desse algum problema de saúde o culpado seria eles e a poderia acabar nunca mais podendo fazer o tratamento. 

Em outros estados sempre o tratamento era demorado, pois tem “trans” que ficava 1 ano ou mais para ser atendido por uma endócrina. Nesse caso até que dá para compreender que uma boa parte usarem ilegal, isso por causa da espera para fazer o tratamento. Mas em caso de quem está fazendo tratamento legalmente e ficar usando medicamentos ilegais, isso já é burrice. Também em outros estados nem todos tinha o ambulatório e nem a tal carteira de nome social.

Tinha também uma situação que as vezes eu ficava pensando como é que surgia certas coisas, como se um “trans” sentia algo do medicamento acabava que todos sentiam. A única coisa que todos os “trans” sente no começo só é a voz mudar, pois fica parecendo que esta roco ou gripado, isso que alguns ficam assim em uma semana ou duas e outros só vão sentir isso com três meses, então vária de organismo para organismos. Também a libido aumenta por causa da testosterona. Mas fora isso as outras coisas não tem cabimento algum, pois tantos efeitos bons e ruins isso vária do organismo de cada um.

Em 2017 logo que comecei o tratamento em alguns meses depois lançou uma novela que tratava o tema sobre “transgenero”, mesmo a novela não sendo quase nada parecido com o mundo real, mas pequenas partes tentavam fazer que todas as pessoas compreendessem, minha família assistia e percebia o que estava acontecendo comigo. A novela não ajudou tanto, mas pelo menos tentava fazer a sociedade compreender sobre a existência de algumas pessoas e tentava fazer os pais compreender sobre os filhos que passavam por isso.  

Nesse mesmo ano se estou me lembrando surgiu para colocar o nome social em CPF, RG, etc eu não fiz isso, pois para quem não conhece sobre isso acaba não sabendo direito que poderia dar muita confusão por colocar, mesmo assim a maioria dos “trans” fizeram. Eu resolvi me contentar apenas com a carteira de nome social. Eu mesmo fazendo universidade ficava era triste por não poder ainda fazer concurso militar.

Em 2018 logo no inicio a lei de retificação dos documentos para os “trans” tinha sido pela primeira vez alterada, eu fiquei muito feliz, pois eu poderia começar a trocar os documentos e a poder voltar fazer concurso. A lei só iria começar a valer lá para junho ou julho. Quando foi no final de novembro de 2018 fui direto na defensoria publica para da entrada na minha retificação, eu não quis ir direto ao cartório só pagar a taxa para mudar a certidão, pois eu queria um documento que comprovasse isso, por isso fui na defensoria pública, eles fizeram vários documentos para eu tirar alguns documentos (várias certidões), isso sem pagar nada. Eu tirei todos no mesmo dia e só tinha uma certidão que demorou uma semana, quando eu peguei o último documento voltei na defensória e eles fizeram um novo documento com algumas páginas explicando sobre a retificação de documentos e o motivo da troca do meu nome e gênero/sexo nos documentos. Esse documento era para entregar uma cópia no cartório e outra ficava comigo. Algumas vezes foi preciso eu usar o documento que tenho como copia que está assinado pela defensória e cartório, se eu tivesse feito como a maioria dos “trans” fizeram que era só ir no cartório, eu estava lascado, pois não teria como comprovar tudo o que fiz.

Em janeiro de 2019 ficou pronta a minha certidão na semana do meu aniversário, comecei a trocar aos poucos os meus documentos como RG, CPF, Titulo de eleitor e por último foi o histórico e certificado do ensino fundamental e depois médio, tudo isso demorou meses. Em junho ou julho de 2019 que foi o ultimo mês para se alistar, fui me alistar para ver como era e principalmente para enfrentar o preconceito que eu esperava. Fui normal e não falei sobre mim, apenas perguntaram como eu estava estudando na universidade sem ter me alistado e fizeram algumas perguntas. Eu fui no local como qualquer homem vai, apenas já tinha passado dos 18 anos, paguei as multas e no dia do exame medico fiz normal, foi quando só avisei o médico que tinha nascido em um corpo feminino, o médico conversou de boa sobre isso e falou que não tinha problema algum sobre isso.  Apenas como eu estava a cima do peso precisava perder peso, isso uns 10 kilos e voltasse lá de novo, pois não seria eliminado naquele momento do alistamento, já que eu queria servir e só faltava perder o peso, o medico me deu 3 meses para perder, eu me esforcei demais e com a ajuda da endócrina e minha força de vontade eu antes estava com 87 kilos e fiquei em 3 meses com 70 kilos. 

Voltei no local depois de três meses e com o papel que o medico tinha dado para eu voltar e só me pesar de novo para saber se realmente eu perdi ou não o peso. Eu fui feliz porque poderia conseguir servir, chegando lá estranhei toda a situação, logo no inicio que verificaram o meu nome estava dando que fui eliminado e não poderia servir, falei que o medico tinha falado para eu voltar só por causa do peso e eu estava com o papel que ele me deu, mandaram eu entrar para realizar de novo o peso, mas quando entrei o “capitão” pelo jeito era essa a patente dele, pois ele mandava em tudo, queria conversar comigo, eu fui até a sala dele, o capitão ficou enrolando e enrolando, ele não quis ser direto em dizer que não aceitava homem “trans” para servir, apenas tentou me explicar sobre o peso por causa do IMC que isso elimina qualquer pessoa, eu falei na cara dele que perdi o peso mais do que o medico tinha pedido, nessa hora ele ficou puto de raiva e mandou um tenente me acompanhar para sair da sala, entrei em outra sala para me pesa e percebi que o médico e duas médicas estavam de cabeça baixa e não conseguiram olhar na minha cara, uma médica que veio me pesar quase chorou na hora, pois viu que eu tinha perdido o peso a mais do que foi solicitado por outro medico de lá. Eles assinaram o documento para eu ser eliminado, com toda a situação pelo que pareceu eu fui eliminado ilegalmente, sair da sala e fui assinar outro documento apenas virei para o tenente e falei bem alto para todos escurem que eu iria voltar lá concursado, pois eu fazia graduação, todos ficaram olhando, pois pelo jeito o capitão e todos pensavam que eu fosse igual os “trans” e iria fazer onda no local, mas todos se enganaram, pois eu não sou igual os “trans” e estava lá para saber o tipo de preconceito que viriam deles.  Um dos garotos que estavam lá também se pesando, conversou comigo e não sabia o motivo deu ser eliminado, mas eu já sabia qual era, o garoto precisava perder uns 14 ou 16 kilos e só tinha perdido 4 ou 6 kilos, acabou que o garoto conseguiu ser aprovado no exame do peso, isso porque era “homem”, achei interessante que eu que perdi muito peso e não passei, fora que eu sou técnico e ainda fazia engenharia, já o garoto só treinava um tipo de luta. Para eles o que valeu só foi o fato de o garoto já ter nascido homem.

Em 2019 também comprei a minha prótese realística, isso a melhor que tem no Brasil, é uma prótese igual um pênis de verdade, que tem a mesma temperatura do corpo e tonalidade, os traços são muito realísticos até as veias tem, além de da para fazer volume na cueca, mijar e fazer sexo. O dia que chegou a prótese fiquei parecendo um garoto de 15 anos de idade kkkk... Eu queria usar camisinha, ficava muito com vergonha de ir na farmácia e para comprar pela primeira vez uma camisinha.  Os meus amigos de universidade me davam dicas sobre camisinha e outras coisas, mesmo eles sendo heteros conversam comigo de boa sobre isso.

Nesse ano a minha aparência já tinha mudado um pouco mais, pois o medicamento nos meus organismos estava sendo lento as mudanças. A única coisa que marcava era os peitos na camisa, pois o volume aparecia e eu só uso top e não curto “binder” (é um tipo de faixa para apertar os seios demais). Como a maioria das pessoas sempre olhavam para cima para ver se eu era homem ou mulher por causa do volume dos peitos, quando eu percebia isso eu perguntava se estavam com inveja que eu tinha peito e eles não. Eu não deixava ninguém fazer eu passar vergonha por quem eu sou, se alguém fazia eu passar vergonha eu fazia a pessoa também passar. As pessoas sempre olhavam para o volume dos peitos ou olhavam para baixo pra ver se tinha volume de um pênis. 

Por causa do uso de medicamentos que tem testosteronas ao longo dos meses e anos uma das coisas que alteram vem ser o clitóris, ele cresce um pouco e fica parecendo um mini pênis. Alguns “trans” usam o “pump” (objeto parece uma seringa que puxa várias vezes durante o dia o clitóris para ele poder crescer muito mais, mas o clitóris desse jeito só chega a uns 7 cm ou 8 cm). Eu nunca usei o pump, pois não gostava do clitóris ter mudado, pois ter um mini pênis me incomodava demais, isso pelo tamanho, mas como eu não quero fazer cirurgia para ter um pênis, pois a cirurgia nem se quer funciona direito e a pessoa precisa tirar pedaços grandes de pele do braço e coxas para poder colocar no pênis, pra mim isso fica igual o frankenstein e ainda não funciona direito, na maioria dos casos o cara tem que apertar o pênis para poder ele ficar reto e duro. Por essa situação eu não quero passar, me contento com a prótese que é bem melhor e principalmente que a maioria das moças nem percebem direito que é uma prótese. Só vim me costumar com o clitóris em 2020, pois é normal pelo uso de hormônio a maioria ficar excitado todo dia quase, então acabou que eu estava namorando com uma moça até que ela compreendia sobre mim e acabou rolando pela primeira vez deu usar o clitóris em uma mulher. 

Em janeiro de 2020 peguei  a certidão de dispensa, que é o que a maioria chama de reservista, pois se alistou e foi dispensado. No dia eu tinha que fazer um juramento a bandeira, eu me neguei a fazer, não coloquei a mão no peito e nem falei nada, fiquei junto com vários garotos que também foram dispensados. Eu não jurei nada, pois tudo o que estava sendo falado para a gente repetir era que devemos proteger o Brasil e etc, da a vida pelo país. Isso pra mim foi o cumulo da hipocrisia, pois fui dispensado ilegalmente e ainda tinha que jurar a minha vida para um país caso tenha guerra, quer dizer que não sirvo para servir, mas se tiver uma guerra eu vou servir. Isso que me deu raiva, mas se tiver uma guerra eles que vão lá lutar contra, pois eu vou ficar pintando a minha unha kkkk...Já que para me dispensar foi porque nasci em um corpo “feminino”, então faço minhas unhas kkkkkk...  Nesse dia que peguei o documento foi quando pode voltar a fazer qualquer concurso militar e outros concursos, pois eu já tenho todos os documentos no masculino e faço o tratamento legalmente, então posso fazer todos os concursos para o sexo masculino e fazer o mesmo TAF que os homens. Todos os editais de concursos que saíram esse ano vieram modificados um item, pois desde 2017 tinha o item nos editais de concurso sobre nome social, mas até hoje não tem nada sobre retificações dos documentos, isso é uma falha, pois nos editais diz que se não apresentar certos exames pode ser eliminado, mas tem exames que não tem como eu fazer, pois não nasci com um órgão genital masculino. Também os editais estão com uma parte sobre medicamentos e cirurgias, as pessoas não estão analisando direito, pois não entendem sobre o item de nome social, mas a parte de medicamentos e cirurgias, isso não deixa claro nos editais, mas vem ser sobre pessoas “trans” que usam medicamentos legalmente e também outras pessoas. Portanto, a maioria que usa Ritalina e bomba ilegalmente vão serem eliminadas, por não terem como comprovar com laudo que faz tratamento. 

Pode voltar a fazer concursos militares a nível superior e concursos policiais, eu esperei anos para isso sem saber quando poderia voltar, mas voltei em 2020, isso foi a minha maior alegria. A única coisa de ruim que aconteceu nesse ano foi ter surgindo essa pandemia, mas eu passei por várias coisas e não vai ser agora que eu vou desistir.  

 

 Portanto, com tudo o que relatei é o resumo da minha história, além de todo tipo de preconceito da comunidade LGBT, eu não me considerado um homem “transgenero”, eu apenas sou um homem, pra mim não existe dois tipos de homens e mulheres, só vai existir um tipo de homem e mulher, isso quem decide é a pessoa. Por causa disso quando conheço uma pessoa eu pergunto qual é o nome da pessoa e como gosta de ser chamada, assim eu sei se a pessoa é homem ou mulher, não reparo a aparência. Na minha opinião o preconceito acaba surgindo das próprias pessoas a maioria das vezes. Quando as vezes eu chamo algum homem “trans” de homem, a maioria das vezes ou eles ou a namorada respondem na minha cara que é homem “transgenero”, eu rebato que pra mim é homem, pois não existe dois tipos de homens. Nenhum documento vem a palavra “transgenero” fora que esse passado nem aparece nos documentos, por isso tem como se casar legalmente nas duas igrejas. Eu analiso os “trans” parecendo com o “mito da caverna de Platão”, pois falta a maioria deles acordarem para o mundo real e perceberem que são homens e não ficarem tentando dizer que são homens “trans”, pois  parece dois tipos de homens e passarem a ver o mundo como realmente é. Nunca vi em documento algum escrito que a pessoa é Cis e também nunca escutei os meus amigos e nem outras pessoas falarem que são Cis, então pra que falar que é “trans” direto e querer exigir a maioria das vezes para ser chamado de “homem transgenero”. Em relação para falar sobre quem realmente foi quando nasceu isso acontece em poucos casos como exames de saúde e etc. Eu não levanto uma bandeira a qual eu sei que existe o preconceito dentro e fecham os olhos para combater o preconceito de dentro, apenas vivem lutando para combater o preconceito de fora, era para combater o preconceito de dentro e fora ao mesmo tempo. Fora que ainda tem homem “trans” que é machista, nem parece que passou por várias coisas que as mulheres passam todos os dias.

Eu sou homem e gosto de mulheres, nasci em um corpo feminino. Sempre me perguntei o motivo deu ter nascido assim, mas ao longo desses anos hoje tenho a resposta para isso. Eu nasci assim para eu poder passar por tudo o que uma mulher passa para eu sentir na pele, como andar na rua e ter um idiota mexendo, como sentir medo de andar sozinho na rua e acontecer de aparecer algum tarado, etc sentir tudo isso para eu me tornar um homem bom e não ser um homem que é uma porcaria como pessoa. Também tive que aprender a lidar com os preconceitos de todos os tipos de pessoas e ver como a maioria dos LGBT são. Porque se dependesse do apoio da maioria dos LGBT simplesmente eu estaria era morto. Uma coisa de diferente que mudou foi deu poder andar na rua a qualquer hora sem sentir medo, isso é o que a maioria dos homens sentem, mas as mulheres não, eu espero que algum dia as mulheres possam sentir essa sensação boa que eu sentir. Um conselho que eu dou para as mulheres é praticarem algum tipo de luta, pois se algum dia tiver um homem mexendo com vocês, se defendam. Também deixo outro conselho que é quando vocês forem conhecer alguém olhem para o caráter da pessoa, como a pessoa trata vocês, etc, e tentem evitar descartar as pessoas por causa do órgão genital. O amor verdadeiro é aquele que não importa a aparência e órgão genital das pessoas, mas o que importa é o caráter.  

Hoje é dia 28 de janeiro de 2021, estou escrevendo isso que relatei nessas várias páginas, além de ser véspera do meu aniversário.  Amanhã dia 29 de janeiro de 2021 é meu aniversario e por ironia do destino acaba sendo a data que os “trans” comemoram o dia deles. Tentei relatar o resumo da minha história e tudo o que eu passei, sei que várias coisas que digitei a maioria das pessoas desconhecem, ainda mas porque os “trans” não costumam falar direito sobre tudo o que acontece. Sei que uma boa parte das pessoas podem não gosta sobre toda a verdade que eu relatei, mas eu sempre prefiro falar a verdade."

 Respeito é direito de todes.

"Parem de nos matar!"