Nossa Forma de Amar - Capitulo XXIV


24 - Esperar É A Chave


- Mãe, quando ele sair à senhora me liga e vou encontra-la.
-Certo, minha filha. Vou desligar. Que o Senhor te proteja.
-Amém mãe.


José iria viajar por dois dias a uma cidadezinha próxima a capital baiana. Segundo ele, era uma visita a um irmão de congregação. Maria aproveitaria para matar a saudade da filha. Preparou a mala do marido com o habitual esmero e deixou o almoço encaminhado. Como dona de casa que era foi cuidar das roupas que precisavam ser lavadas e quaradas. Perto do horário do almoço José chegou trazendo como sempre Moises e os irmãos.

Moises como bom observador que era percebeu a impaciência daquela mulher. Vez ou outra olhava de relance o relógio. Assim que se encerrou o almoço com a costumeira oração de agradecimento todos se encaminharam para seus afazeres. José pegou sua mala no quarto e despediu-se da sua esposa.


-Maria, não pretendo demorar por lá. Qualquer problema você liga pro irmão Moises, certo?
-Certo homem. Que nosso Senhor te acompanhe.


Depositou um beijo na testa dela e seguiu para a rodoviária. Assim que viu o marido entrar no ônibus, Maria trocou sua roupa e após certificar-se de ter fechado a casa saiu. Parou um taxi na rua e deu-lhe as coordenadas de onde iria.


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Assim que encerrou a ligação, Luiza tratou de arrumar as compras que havia feito no mercado em sua despensa. Arrumou as roupas no pequeno guarda roupas em seu quarto e aproveitou para fazer uma rápida faxina. Quando terminou seus afazeres já era a hora de sair. Trancou a casa e seguiu para a Avenida Sete de Setembro famosa por ter se tornado um polo comercial no centro da capital baiana.

Esperaria por sua mãe em uma pequena lanchonete em frente a praça. Depois de quinze minutos a senhora desceu do taxi exatamente no local combinado. Deu uma olhada pelo local e viu sua pequena acenando. Entrou no estabelecimento e abraçou a jovem que havia levantado para cumprimentá-la.


-Filha, quantas saudades suas.
-Eu também, mãe. Mas com papai naquele estado não quis causar uma briga entre vocês.
-Eu sei. Como você esta? Onde esta morando? Tem se alimentado direito? Esta tão magrinha.

Após rir da quantidade de informações processadas por sua mãe Luiza começou a responde-las calmamente.

-Estou bem mamãe. Estou morando lá no bairro só que algumas ruas depois da de vocês, me alimento bem e não estou magra. E o pai?
-Foi a um congresso.
-Por que a senhora não foi? Vocês sempre vão juntos.
-Seu pai não quis me levar porque disse que não demoraria. Coisas dele, filha.
-Mãe, mãe. Essa historia esta estranha.
-Filha, na época que saiu aquela reportagem no jornal não tive como conversar com você. É verdade o que estava escrito ali? Você e aquela moça estão nessa vida mundana do inimigo de Deus?

-Mãe, naquela época eu e a Milena éramos duas pessoas se conhecendo. Não havia acontecido nada, mas hoje somos namoradas. Não há nada de mundano ou de diabólico na nossa relação. Existe apenas amor, carinho, respeito entre duas pessoas.

-Não é possível, meu Deus! Onde eu errei na criação dessa menina? Ensinei tudo que A Palavra...
-Sim, a senhora me ensinou alguns dogmas da Bíblia sim. Incluindo o mandamento que Jesus Cristo nos deixou em vida. “Amai-vos uns aos outros assim como eu vos tenho amado.” O amor não tem definição de orientação sexual, mãe. Não escolhemos de quem gostamos. O amor não aprisiona, nem ilude, tampouco maltrata. Quem ama de verdade quer o outro feliz mesmo não sendo ao seu lado. Em nenhum momento eu li enquanto criança na Bíblia que Deus condenasse os homossexuais.

-Mais filha, deus criou o homem para a mulher e a mulher para o homem. Não foi homem para homem e mulher para mulher. Para que crescessem e multiplicassem a espécie. Como vocês farão para cumprir?

-Adotando mamãe. Existe tanta criança abandonada pelos pais heterossexuais passando fome,sede e outras coisas que não sabemos a espera de alguém que os ame, cuide, dê amor. Pai e mãe são quem cria, não apenas quem os coloca no mundo muitas vezes de maneira inconsequente, na hora errada, sem apoio e sem estrutura mínima necessária. Uma casa, por exemplo.

-Tudo bem filha. Não entendo dessas coisas, mas você é minha filha e quero sua felicidade.
-Eu sei, mãe.
-Me conta dessa casa que CE esta morando.


Passaram mais de duas horas conversando sobre tudo. Assim que começou a anoitecer, Maria e Luiza despediram-se, pois em breve Jose ligaria e a esposa precisava estar em casa. Luiza seguiu direto para casa. Milena não estaria então pegou alguns filmes na locadora da rua e planejava fazer uma noite de cinema em casa. Assim que pos a chave na fechadura sentiu a sensação de esta sendo observada. Após olhar os lados viu-se sozinha, pensou ser apenas impressão e adentrou a casa.


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Moises desconfiou da atitude impaciente da esposa do pastor. Assim que saiu com seus irmãos de lá seguiram para a pequena casa atrás da igreja e compartilhou seus pensamentos com os irmãos.


-Será que ela vai vê a fia, mano? – Venâncio perguntou.
-Tô pensando isso. Vou vortá lá e atocaiar. Se ela sair sigo o rastro dela.

Ficou escondido embaixo de uma arvore perto da casa do pastor e viu a esposa sair. Assim que ela entrou em um taxi, ele adentrou no que vinha atrás. Seguiram a senhora até seu destino e o rapaz ficou feliz ao ver que sua ideia deu certo. Passou as horas seguintes vendo as duas conversarem e quando se despediram. Ele seguiu a jovem, descobrindo assim onde esta morava atualmente.


-Peguei ocê. Agora já sei onde tu mora, Luizinha. Cê vai ser minha. Pode escrevê. – o homem sorria diabolicamente

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