Nossa Forma de Amar - Capitulo XXVI


26 - Ewó

-Vamos Mile. A mãe daqui a pouco vem. – Lila a apressava para terminar o que fazia.
-Aquele veado vai ficar me devendo. – Sorria enquanto levava um potinho com tangerina já descascada e cortada para o quarto onde Luca estava descansando.


Lentamente abriram a porta e viram uma cena no mínimo curiosa. O jovem rapaz estava abraçado ao travesseiro que por sua vez estava enrolado no cobertor. Mesmo dormindo alisava o travesseiro como se fizesse carinho em alguém e depositava-lhe beijos. As irmãs entreolharam-se e riram.


-Vem cá. Quando vocês dormem juntos ganha carinho é?! – Mile arreliou a irmã.
-Quisera eu! Nem sei o que é carinho masculino há tempos. – Queixou-se.
-Mana, você tem certeza que é hétero? Tenta o lado colorido da vida.
-Sai pra lá. Deixo pra você. Eu gosto é daquilo que balança. – Dalila falou rindo da careta que a irmã fez.
-Que nojo! Acorda esse veado que precisamos sair antes da mãe chegar aqui.


Dalila balançou o rapaz até que este acordou. A principio pensou que os passos iniciais da sua iniciação na religião fosse sonho, mas quando despertou e olhou ao redor se deu conta da realidade.


-Então trouxe?
-Toma aqui guloso. Se você passar mal pode dizer a mãe a verdade,viu?!
-Aham! – Luca falava enquanto mastigava com prazer a fruta de aroma forte, cítrico e marcante. – Pega água pra mim, Lila, por favor.

-Olha! Esta até educadinho. Aqui. – pegou uma quartinha que estava junto a um prato de porcelana para as refeições do rapaz. – Agora quero saber como vocês vão tirar esse cheiro do ar.

-Simples. Trouxe uma goiaba para ele. Um cheiro forte para camuflar o outro.
-Não é que minha irmã mais velha é inteligente?! – Dalila provocou.
-Hoje você esta uma gracinha. Vamos. Depois voltamos Luis.


As duas saíram do quarto e cada uma seguiu uma direção. Dalila foi em busca da mãe que havia saído com um dos ogans da casa para pegar algumas folhas especificas. Milena foi para seu quarto a procura do celular. Quando o encontrou viu que tinha uma mensagem. Sorriu ao ver o remetente.


“Saudades. “
“Eu também, anjo. Como foi seu dia?”
“Um pouco cansativo. Faxina e encontrar minha mãe.”
“Como foi o encontro?”
“Um pouco tenso no começo. Ela não entende minha orientação sexual e tentou mais uma vez dissuadir-me a dar uma chance a um rapaz da igreja.”

“Ser gay ou lésbica significa apenas que preferimos nos relacionar afetiva e sexualmente com parceiros do mesmo sexo. O resto é parecido com os héteros. Trabalhamos, estudamos, nos divertimos.”

“Não entendo o porque disso afetar e incomodar tanto as pessoas.”
“O diferente incomoda, minha flor.”
“Ela está tentando me aceitar. Entendo o lado dela, pois foi criada dentro da igreja. Com todos aqueles dogmas rigorosos. E lá pelos anos 50 não existia essa liberdade de expressão que temos agora.”
‘Verdade.”
“E seu dia como foi?”
“Um pouco cansativo rsrs. Fiz algumas coisas aqui, conversei com minha irmã e estou nesse momento em meu quarto esperando mamãe chegar para algumas funções.”
“Bom seria se você estivesse no MEU quarto. *_*”
“Ai ai! Não provoca, amor.”
“Mais eu nem fiz nada... Ainda.”


A porta de seu quarto é aberta abruptamente e uma Dalila desesperada entra.


-Mana acode o Luca. Ele esta passando mal.
-Eu disse que essa benção iria passar mal. Prepara um chá de Boldo que vou ver ele.

“Anjo vou precisar sair aqui. aconteceu um pequeno problema e terei de ir resolver. Boa noite pra ti dorme bem, sonha comigo.”

“Vai lá amor. Idem. Beijos.”

Dalila caminha calmamente pelos corredores do enorme casarão. Ela já sabia do que se tratava a dor que Luis sentia. Havia passado por isso certa vez que em um jantar de confraternização da empresa havia em seu prato o peixe Arraia e ela não sabia. Foram dias sentindo-se mal e nem desconfiava. Até que resolveu ir visitar sua mãe e ao pisar no terreno da roça seu orixá incorporou e deixou Perola Prateada, seu erê passar para dizer o motivo do mal-estar.  Ser médium rodante tem suas vantagens.
Dalila trazia o chá morno. Entraram no quarto e encontraram Luis suando frio enquanto contorcia-se de dor. Dalila o ajudou a sentar e Milena deu-lhe o chá. Pouco a pouco ele sorveu todo o liquido. Ainda suava e pediu que elas ficassem até que a dor passasse.

Milena sabendo que o rapaz na verdade sentia medo cantou para ele Prece de Pescador a musica que lhe acalmava quando estava nervosa. Com o som melodioso da voz da morena aos poucos o jovem dormiu.



Ewó - quizila(restrições desde objetos a alimentação)

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