Divã de Todos os Santos - Capitulo III





No quarto andar do edifício Fundação Politécnica, na sala 407, funciona o consultório de Eleonora, nas segundas, quartas e sextas-feiras. Negra dos olhos também negros, detentora de 1 metro e 70 centímetros acrescidos por um par de saltos. Corpo tipicamente brasileiro com seus quadris largos, coxas e pernas grossas, cintura modelada e atributos que causariam inveja em outras mulheres.

Um homem aparentando ter entre quarenta e cinquenta anos caminhava sem pressa. Olhava as pessoas ao redor sempre correndo como se dependesse disso para sobreviver. Quem por ele passava, observava suas vestes um tanto exóticas. Uma túnica marrom cinturada por um cordão branco. Nos pés, sandálias em couro trançado e um chapéu de palha o protegia do sol.

Ao parar em frente aquela escada estranha se viu indeciso, mas assim que pôs os pés ali, sorriu. No andar de cima pegou o elevador com destino a sua primeira consulta. Ideia de Pedro, seu amigo de longa data. Também foi ele quem percebeu que o compadre já não estava tão bem da cabeça depois dos últimos trabalhos realizados pelo homem.
Ao chegar na recepção de paredes em tom azul claro com alguns quadros de paisagem espalhados e luminárias dando a sensação de aconchego, foi atendido por Luciana, secretária e amiga pessoal da psicanalista. Ao manter sustentado uma breve troca de olhares, Antônio identificou traços de admiração inconfessa deduzindo um possível alvo. A moça pediu que o homem aguardasse um instante enquanto anunciava sua chegada.

Em cima da mesa de centro havia algumas revistas e livros com os mais variados temas e assuntos. Um em especial chamou-lhe atenção e decidiu folheá-lo. Tratava-se de uma pequena revista de simpatias com diversas "poções" para atrair amor e prosperidade. Sorriu da ironia. A permissão para entrar lhe foi dada.
Com passos tranquilos, levantou-se em direção à porta de madeira pintada em alto relevo uma espécie de flor rara, a rosa de sangue. Com base em uma fotografia tirada na plantação da sua cidade natal, o pintor fez um excelente trabalho.

Girou a maçaneta encontrando uma bela moça a esperá-lo com um conjunto de louças inglesas próprias para servir chá em uma mesa próxima a janela. Caminhou até a mesa, sentou-se e aguardou que o servissem. Após bebericar um pouco do líquido fumegante, a moça enfim apresentou-se.

-Me chamo Eleonora e serei sua analista caso o senhor aceite continuar nossas sessões.
-Prazer, senhorita. Chamo-me Antônio.

A vida é uma caixinha de surpresas.
A terra é tão redonda que gira.
Se os continentes que um dia se afastaram
Caminham para uma colisão em outras extremidades.
O que diremos do encontro de pessoas distintas em personalidades
E com histórias tão interligadas na espiritualidade?!
Eu, que de abestada pouco tenho, estou no aguardo do resultado.

Versos de uma Nordestina

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