Romance - (Des)Encontros Amorosos - 9

 


Aviso de possíveis gatilhos emocionais 


9. Onde houver tristeza, que eu leve a esperança


Fiquei devastada. Meus pais perderam mais dois filhos. Ricarda perdeu o amado marido e companheiro de todas as horas, Célia e José perderam um pai maravilhoso. Os cinco irmãos teriam de segurar uma super barra. Rose se mostrou uma amiga leal. Aorendam que amigo mesmo, verdadeiro, te ajuda a superar as adversidades da vida. 

Saindo do hospital fomos providenciar os trâmites funebres, avisar os parentes e amigos, preparar a casa para o velório duplo e fazer comida para o batalhão de gente que apareceria. Donizete e Ricarda estavam tal qual um zumbi se arrastando pelos corredores da casa. Tia Dalva, assim que soube, se prontificou a cuidar dos meus pais enquanto dávamos um jeito em tudo.

Passei a noite em claro. Sentada no quintal com alguns álbuns em cima da mesa que papai havia feito. Fotos da familia espalhadas. A renovação de votos dos meus pais, o casamento do Damasceno, o batismo de Célia e José pequnino. Demorei meu olhar sobre uma foto em específico. Era final de tarde, estavamos eu e Dara, deitadas e abraçadas na rede, tirando um cochilo. Eu amava dormir ali no quintal. Era uma fresca boa. Quando me assustava, era Dara ou Donizete se jogando em cima de mim. Uma espessa e solitária lágrima caiu.


-Doriana?! 


Escutei as pisadas nas folhas e me virei. Era Doralice. Trajando um longo vestido preto; cor remetida ao luto. Não contive mais aquela agonia em meu peito e chorei acolhida em seus braços. Tanto tempo que eu não a tinha daquela forma tão próxima. Será que seria necessário uma tragédia tão... Dolorosa para que pudéssemos olhar nos olhos uma da outra?! 

Enxuguei as lágrimas e tornamos a sentar no banco. Ela me ajudou a guardar as fotos e ficamos lembrando de algumas peripécias da infância. Quando entramos, o sol já estava no céu e Rose já tinha preoarado um café bem forte. Nos ofereceu e eu aceitei de bom grado. Agradeci com um beijo na bochecha e vi minha prima revirar os olhos. Fui para o banho. 

Quando retornei a sala, Dora sorria levemente com Rose a enchendo de perguntas sobre o convento. Meus pais chegaram com tia Dalva e Seu Toninho, um amigo da familia. O ar havia pesado. Abracei meus pais com todo cuidado que poderia. Passados exatos trinta minutos, o carro da funerária chegou e a casa lotou. 

Tinha gente da vila, parentes que já moravam na capital, vizinhos, os colegas de trabalho do mano, na fábrica de charutos. Ricarda alisava o rosto do marido uma ultima vez. Tentava reter os traços no fundo da memória. Poupamos os meninos dessa dor. Saí de fininho e fui olhar a horta. Senti meu telefone tocar. Não reconheci o número,  mas ainda sim, atendi. 



-Oi, meu anjo. Como estão as coisas aí?

-Pesadas. Meus pais e um banfonde gente lá dentro chorando e... E eu só queria eles de volta. Sabe?! Dói tanto... Tanto que...

-Eu sei, meu anjo. Dói. E vai doer por um tempo. E você irá gritar, chorar, implorar para que eles voltem. Mas... Um dia você irá acordar e a dor não estará tão forte. No lugar daquela dor, terá uma lembrança e mais oitra e outras. Seu coração vai aquecer a cada vivência, a cada experiência que você teve o privilégio de passar ao lado deles. E irá sorrir por saber que em todos os momentos você foi amada por eles assim como eles a amaram.

-Obrigada, flor! Suas palavras me acalmaram.

-Lembre-se que ainda não posso estar presencialmente contigo, mas estou na brisa que acaricia teu rosto. Valeu a pena esperar, não é mesmo?!

-Muito. Adoro-te. Preciso ir, pois o cortejo irá sair.


Havia encerrado a ligação com um pouco mais de esperança e a certeza de que, independente do que o futuro nos reservasse, eu faria de tudo para tê-la ao meu lado. Eu sentia que em meio àquela temoestade, ela era a calmaria.




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