Romance - (Des)Encontros Amorosos - Último Capítulo


 

11. Chegamos até aqui.


Depois de aceitar a bandeira branca, Fátima me ajudou a encontrar um bom profissional. Quando penso tudo o que vivemos, a forma como nos conhecemos e os anos iniciais de amizade, chego a uma conclusão: tudo o que fez parte da minha vida contribuiu para minha formação enquanto ser humano. "Nada na vida é em vão: ou é bênção ou é lição." 


Na primeira vez que ela veio, ficou hospedada em um hotel alguma estrela. Tinha a imensidão do mar como vista principal de sua suíte e não pôde aproveitar direito de nada. Pense numa semana de chuva. Nunca vi um temporal daquele jeito. Eu, nervosa, planejei tudo. Iria levá-la para jantar em um restaurante de comidas típicas. Ainda bem que o estabelecimento era próximo do hotel. Já tinha meu carro, mas preferi um táxi.


Não sou "sapatão emocionada", mas poxa... Essa mulher me dava cada fora de lascar em dois, quando nos conhecemos. Deixou claro desde sempre que não tinha interesse m mim porque eu fazia parte do quadro de funcionários da Vita, uma empresa responsável pela limpeza urbana - e uma parte dos garis - ela estava me chamando de vassoura, educadamente. Com o passar dos anos, entendi que não era só capricho de menina mimada porque não a tive entre lençóis, e sim que haviam sentimentos bons entre nós. Sabe quando rola um estalo de que aquela pessoa é A Pessoa?! Foi mais ou menos isso.


 Estava usando uma jeans de lavagem escura, botas de cano médio pretas, regata branca e uma jaqueta jeans escura por cima. Ah! Uma rosa na mão. Dios! Agora entendo o elogio que ela me fez. Quando o elevador abriu, fiquei lesa. Minhas senhoras e meus senhores, a mulher estava DES-LUM-BRAN-TE! Só isso. Vestido branco com algumas flores em estampas, um salto não tão alto - ela é baixinha, uma trança caindo ao lado esquerdo e uma maquiagem leve. Os lábios em tom rosé e um sorriso capaz de iluminar toda a cidade. Era a personificação do sol que a tudo ilumina e aquece. Entreguei a rosa, ela a beijou e prendeu no cabelo. Ofereci o braço, ela foi e soltou.



- Um perfeito cavalheiro. Eu poderia me apaixonar se já não o estivesse.



Meu sorrisinho de lado, aquele meio cafajeste e meio orgulhoso, apareceu. A noite foi divertida e memorável. A chuva passou depois de meia hora que estávamos no restaurante. Quando saímos, o céu estava limpo e estrelado. A levei até uma pracinha ali perto que o pessoal ia se divertir. Ela admirava a surpresa da noite e eu agradecia aos céus. Pelas dádivas, por me ensinar a ser forte enfrentando minhas batalhas, por ter a felicidade de encontrá-la e por ela estar ali, na minha frente, a poucos passos de minhas mãos inquietas. Não era mais um sonho, era real. Ela me olhou e sorriu. 


Quando, em meio a uma das conversas sobre a psicoterapia, ela me contou que, finalmente, o divórcio havia sido concluído, fiquei deveras contente. Foram quase cinco anos, mesmo já tendo dado um pé no homem, ele movia os paizinhos para dificultar tudo o que podia. Comemoramos por vídeo chamada e ela me contou que estava planejando uma surpresa. Com menos de 24 horas para viajar, ela me disse o destino. Quase tive um passamento. Preciso confessar que, em meu íntimo havia a esperança da concretização dos quereres, mas o lado racional tentava e muito não se deixar levar. 


Ela estava ao meu lado e eu, tão longe. Senti um toque macio em minha mão, dedos se entrelaçando, mãos apertando o enlace como uma promessa silenciosa de jamais permitir que o elo se parta. Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto e ela enxugou. Acariciou contornando com as pontas dos dedos e parou sobre meus lábios. 


Olhos nos olhos e tantas palavras ditas de modo silencioso. Tudo ao nosso redor perdeu a importância. Em meu peito, um coração cada vez mais acelerado. Nossos corpos cada vez mais próximos. Livre de qualquer pensamento que não fosse o presente a nós ofertado pelos deuses. Os olhos fecharam-se. Um roçar leve de lábios causou arrepio em ambas. O beijo se deu. Eu podia jutmrar ter escutado fogos de artifício, mas deve ter sido só o meu tolo coração. Nos sentimos, nos provamos e naquela noite descobri que, perto dela, eu seria só uma menina. As outras que a antecederam eram... Não.  Nem tem como comparar. É foi em meio aos lençóis da suíte, depois e horas de imenso e intenso prazer que trocamos nossa primeira jura de amor.


Não firmamos um relacionamento oficial. Decidimos deixar correr e foi a melhor decisão. Quando eu podia, viajava para vê-la e se ela tivesse audiência pública então... A mulher doce que eu conheci transformava-se. Era... bom, assistí-la em atuação. Sim, ela tem conhecimento sobre essas linhas de meu pensamento. E gosta bastante, posso garantir. Como todo relacionamento, teve seus altos e baixos. Teve noites de discussões por coisas ínfimas que geralmente findava com duas pessoas insones porque não gostávamos de dormir brigadas. Teve uma vez que foi tão feia a briga. Fiquei com uma sensação tão ruim que fiz uma pequena mala e fui ao encontro dela. Quando cheguei, uma pequena mala estava perto da porta e ela afobada no celular tentando ver um horário de voo para minha cidade. Nos olhamos, sorrimos e nos abraçamos tão apertado. 


Fazendo um retrospecto desde a infância com a perda do gêmeo, a adolescência e paixão por Dora, as rejeições e transformações, mudança de cidade para crescer na vida, conhecer Rose e toda a gama de conhecimento e diversão, todas as mulheres que passaram em minha vida até Fafy, a morte dos manos e o que veio depois. Tudo isso colaborou para que a Doriana de hoje tivesse a mentalidade mais holística. Como eu disse lá em cima: nada, absolutamente nada, é em vão. 


Nem esse advento chamado pandemia. Se você parar e analisar que vivíamos de forma automática, fria e distante, e com essa parada forçada, tivemos a oportunidade de consertar e reviver algumas coisas/situações que antes seria impossível. De tantobdizer que não tínhamos tempo, nos foi providenciado tempo de sobra. Agora é saber como utilizar o tempo. Eu, agora, deixo vocês e vou em busca da minha linda amada que está muito quieta. Decerto preparando alguma aula. Ah! Sim. Ela aceitou participar de um curso preparatório durante esse período pseudo-ocioso. Algo que há tempos ela queria e só agora conseguiu. E você? O que gostaria de fazer outrora e agora pode? Vou ali passar um café e dar um cheiro em meu amor. Até breve.




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