Nossa Forma de Amar - Capitulo XXXV
35 – Antes da Tempestade Sempre Tem Uma Calmaria.
Já refeito do suposto mal estar, Jose tentava
iniciar um dialogo com sua esposa contando-lhe a verdade.
-Não foi algo pensado. Foi uma serie de
acontecimentos e me excedi na bebida o que dificultou meus pensamentos. Quando
acordei tinha uma moça em minha cama e uma mancha de sangue nos lençóis.
-E você me escondeu isso por tanto tempo. Por
quê? – Maria chorava.
-Vergonha. Medo que você não me perdoasse. Depois
de três meses ela me procurou lá na igreja.
-No dia que você ficou nervoso.
-Sim. Disse-me que esperava um filho meu. Fiquei
em pânico. Não podia ser visto com ela e nem deixar um filho desamparado. Comecei
a bancar ela e a criança. A carta que você achou foi uma das poucas que ela me
mandou falando de Samuel.
-O nome que eu havia escolhido para nosso filho
que não vingou. – a dor se fazia presente em sua voz embora mantivesse a calma.
-Ela que o escolheu. Uma vez por mês eu ia vê-lo.
Acompanhar seu crescimento.
-Claro. As viagens misteriosas que você sempre
dizia ser pregações e reuniões de pastores. Quanta mentira. Julga e condena
minha filha por amar uma moça e esta mais errado do que ela nessa lama.
-Me perdoa mulher. Sei que te machuquei, mas não
sabia como dizer isso a você.
-Simples, da mesma forma que estas a falar agora.
Só Jeová perdoa. Quem sou eu para julgar seus erros. Só não aceito o que você
fez e agora por culpa da sua intransigência a casa onde Luiza estava foi
roubada.
-Ela esta bem? – perguntou envergonhado da dura
que estava levando.
-Sim. Esta na casa de uma amiga. – decidiu omitir
que espécie de amizade era essa. – o lugar dela é aqui. Com os pais, mas ela
não pode voltar porque tem um pai cabeça dura.
-Por favor, não conte essa historia a ninguém.
Imploro-te.
-Medo dos julgamentos? Quando você era quem
julgava se achava no poder. – saiu o deixando pensativo.
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Assim que retornou para casa Luiza conversou com
a proprietária lhe comunicando do roubo e da queixa registrada. Um chaveiro
trocou e reforçou a fechadura, mas Luiza não se sentia mais segura e resolveu
permanecer na casa de Milena. Toda a movimentação era espreitada de longe por dois
pares de olhos atentos.
-Num é que a moça é bonita mesmo, Jeremias?
-É sim. O mano tem dedo bom pra escolher mulher.
Ah se ele num gostasse dela eu chegava junto.
-Sei. Não pega nem gripe quanto mais uma potranca
dessas. – Venâncio riu.
“- Deixa só o irmão vacilar pra tu ver se eu não faço uma festinha com
ela. – pensou Jeremias sorrindo”
-Vamo falar pro mano o que vimos.
-Vamos.
Os irmãos voltaram para o casebre que ficava ao
fundo da igreja. Chegando lá Moises dormia pesadamente. Deixaram-no dormir e
foram providenciar algo para comerem.
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-Esta na hora de irmos, augusto.
-Eu sei. E você sabe que ela ficará em uma situação complicada. Tem certeza
que vai voltar a Espanha agora? Vai deixar que sua protegida passe pelo que se
aproxima? Os avisos ela esta recebendo.
-Encontrou alguma fantasminha foi? Sabe que ela
tem de passar para entender que tudo na vida tem suas consequências.
-Sim. Lei do retorno. Por falar nela...
O telefone de Rúbia tocou anunciando uma
mensagem. Era Simone a convidando para almoçar. Enviou a mensagem aceitando o
convite e em menos de quinze minutos já estava descendo para a entrada da
pousada na qual estava.
Viu um carro prata aproximando-se e a porta do
motorista sendo aberta. Sorriu ao ver de quem se tratava vindo em sua direção,
parando em sua frente e a cumprimentando com um beijo na mão e seu melhor
estilo cavalheiro.
-Buenas tardes hermosa. – Simone pronunciou.
-Buenas. Tengo La impression que estas a
cortejar-me. – Rúbia disse sorrindo.
-É só impressão. – respondeu com um sorriso nada
convincente. – vamos? – abriu a porta para que a outra se acomodasse.
-Sí, gracias. – fechou a porta rodeando e
entrando em seu lado.
Foram conversando amenidades até o restaurante. A
mesa já havia sido escolhida e ficava próxima a janela dando uma bela visão as
duas. Em meio a saboreio e conversações Rúbia anunciou sua partida que causou
uma sensação desconhecida em Simone. Como se estivesse perdendo algo que nem
sabia ter. Depois de refeita desejou-lhe boa viagem e pediu que não a
esquecesse.
-Nem se fosse de meu desejo. Temos mais ligações
do que imaginas.
-Já que falou isso poderia me responder por que
no dia que nos falamos na Mansão do Caminho disseste “finalmente nos
reencontramos”.
-Acreditas em reencarnação? Outras vidas?
-Sim.
-Pois digo-lhe que já nos conhecemos. Mas na hora
certa entenderá. A sobremesa esta chegando.
Embora quisesse contar Rúbia sabia não ser a hora
e nem ela que o faria. Simone não estava pronta. Passearam pela cidade em forma
de despedida e retornaram a pousada para que pudesse fazer sua mala e descansar
para ir para o aeroporto.
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Desde a partida de Rúbia havia passado uma semana
e a vida seguia normal. Mais uma vez o editor chefe da revista que Simone
trabalhava pediu-lhe que fosse a busca de uma pessoa que a aguardaria em frente
à Praça Cairú próximo do Mercado Modelo no fim da tarde.
Aquele dia havia amanhecido ensolarado e logo
cedo Milena colocou as malas no carro antes de despedir-se de Luiza. Ficaria
cinco dias no terreiro para as funções e sua amada ficaria na sua residência.
Decidiram devolver a casa alugada já que não conseguia mais ficar lá. Tinha
medo que o suposto ladrão voltasse.
Perto do entardecer Luiza saiu de casa em direção
a padaria sem perceber que a seguiam. O céu escureceu começando a cair gotas
grossas de chuva que logo viraram uma enxurrada. Simone aguardava o informante
em baixo do frontal do grande mercado que era uma das atrações turísticas mais
visitadas Poe quem desembarcava nos transatlânticos.
Ao passar correndo em frente a entrada de uma
viela tentando fugir da chuva Luiza sentiu-se puxada e segurada por trás.
Tentou gritar, mas sua boca logo foi tapada por uma mão grosseira. Simone
estava distraída quando sentiu que era observada por um grupo de meninos e
meninas. Pensou que seriam ladrões e decidiu sair dali em direção ao Elevador Lacerda.
Na medida em que acelerava os passos a turma de
trombadinhas a seguia ao virar uma esquina para fugir dos olhos deles estancou
ao deparar-se com uma mulher maltrapilha lhe sorrindo com os dentes amarelados
e com um punhal na mão.
Luiza debatia-se nas mãos daqueles homens que
apenas riam do esforço em vão que ela fazia. Não entendia o que acontecia até
que um homem começou a falar e ela reconheceu a voz.
-Deus fez o homem pra mulher e não duas potranca
pra fazer papel de homem na cama. Agora Luizinha cê vai sentir o que é um macho
e o que ele sabe fazer de gostoso.
O medo estava estampado nos olhos de Luiza. Nunca
gostou de Moises e sabia em seu intimo que ele não era o que se dizia ser.
Infelizmente estava comprovando estar certa da pior maneira.
Simone olhava a mulher e recordava-se dos
pesadelos que vinha a acometendo. Tentou seguir o caminho, mas a mulher se
interpôs a sua frente. Com uma voz estranhamente grave e amedrontadora a mulher
começou a falar.
-Você me invocou, me chamou, pediu e eu estava me
mexendo. Não foi mais rápido porque tem outros a favor delas e são fortes, mas
não invencíveis. – a mulher gargalhou. – e você depois de meus esforços quer
desfazer assim. Sem nada em troca?
Simone tremia e não sabia se pelo frio causado
pela intensa chuva ou pelo medo causado por aquelas palavras.
-Só trabalho com sangue. Meu pagamento é o
sofrimento. E se ela não sofre quem sofre é você.
Simone não teve tempo de reação. Sentiu o punhal
sendo gravado em seu peito e seu corpo deslizando ao chão junto com sua
consciência esvaindo-se. Ao longe podia ouvir a voz da mulher cantarolar.
“Juraram de me matar na porta do cabaré. Ando de noite, ando
de dia. Só não mata quem não quer.’
Sua gargalhada ecoou. Simone desmaiou cercada de
sangue em baixo de um letreiro onde se lia Cabaré
de Fogo.
Nossa !!!
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