Nossa Forma de Amar - Capitulo XXXVI


36 – Pressentimento


Horas Antes....

Milena acabava de sair de uma das inúmeras reuniões na agencia onde trabalhava conversando com o empresário da cantora Solange Almeida sobre a nova campanha que estava sendo desenvolvida para a banda Aviões do Forró.

Ao virar-se para entrar em sua sala sentiu uma leve tontura sendo prontamente amparada pelo rapaz que a acomodou em um pequeno sofá na recepção e ofereceu-lhe um copo com água um pouco gelada devido a temperatura amena.


-Sentiu alguma dor? Ou alternância em sua pressão arterial?
-Não, não. Nem sei dizer exatamente o que foi isso. Mas obrigada pela ajuda.


Ele despediu-se dela por ali mesmo e seguiu para seus afazeres. Milena após recuperar-se entrou em sua sala ligando para sua amada a fim de saber seu estado.


-Saudades amor? – Luiza atendeu risonha.
-Sempre, meu anjo. O que faz de bom?
-De bom agora? Pensando no amorzinho gostoso que fiz com minha namorada.
-Hum! Isso é tortura. Você sabe né?
-Tortura? Você acha?
-Certeza. Você esta bem, anjo?
-Estou. Por que a pergunta?
-Nada não. Só para saber, mesmo. Anjinho, vou terminar uns serviços aqui e vou pra casa de mãe e de lá te ligo.
-Tudo bem, só vou à padaria hoje e volto rapidinho.
-Ta bom. Cuidado viu?!
-Me cuido anjo. Beijo.
-Beijo.


Milena desligou o celular sentindo uma sensação estranha. Passou o resto da tarde tentando dissipar aquele mal estar, só que quanto mais as horas passavam maior ficava aquela dor incomoda em seu peito. Depois de muito pensar ligou para sua mãe.


-Mãe?! – falou com a voz embargada de choro.
-O que houve, meu bem?
-Dor, mãe. Uma dor no peito que não passa. Uma sensação que algo ruim vai acontecer.
-Calma. Você já bebeu água? Se acalme primeiro, depois você me diz tudo o que sente. – Lucimara sabia o que a filha sentia.

Após beber a água trazida pela secretaria reiniciou sua conversa com a mãe.

– Começou com uma tontura e um rapaz me ajudou, mas agora é uma dor, um aperto no peito. Uma sensação ruim. Liguei para Luiza e quando desliguei a dor só piorou.
-Meu anjo, você tem condições de trabalhar? É importante o que você tem pra fazer aí?
-Na verdade já acabei meu serviço.
-Então venha para cá. Vou te dar algo que irá te acalmar.


Lucimara com sua voz doce conseguiu aplacar um pouco da angustia de sua filha fazendo com que ela tivesse um pouco de concentração para chegar até o terreiro. Desligou sob o olhar atento e silencioso de Dalila. Estava dormindo e sentiu que algo acontecia com sua única irmã. Sempre fora assim, quando uma estava adoentada, a outra sentia. Ao ouvir sua mãe ao telefone e pela forma com a qual falava deduziu se tratar de Milena. Esperou sentada no sofá que a ligação se encerrasse e sua mãe lhe dissesse algo.


-Vá na dispensa e pegue um saco de milho branco pra cozinhar. Chame um ogan e peça para ele trazer folhas de banho, rápido. Antes de sua irmã chegar tem de estar pronto.


-Silenciosa, assim como adentrou a sala Dalila saiu. Foi providenciar tudo o que foi pedido por sua Yalorixá. Sim, não era a mãe biológica Lucimara que lhe delegava função e sim a zeladora de orixás. Olhando o tempo na varanda da casa Lucimara proferiu.


-Exú, sei que não podemos mudar ou alterar o tempo das coisas, mas podemos pedir que o que tiver de acontecer seja amainado. Tempo, meu pai. O senhor é o dono das horas. Toma conta de quem precisa nesta hora de aflição. Laroie Exu! Zara Kitembo!


Assim que desligou com sua mãe, Milena encerrou seu expediente. Seguia em direção a roça, mas um principio de engarrafamento atrasou um pouco sua chegada. Ao pisar no terreiro Lucimara a direcionou para o banho.

Já vestida, Lucimara a levou ao quarto do santo para arriar a pequena oferenda a Iemanjá e Oxalá pedindo equilíbrio e proteção. Após a reza e uma breve “conversa com o santo” as oferendas foram postas no lugar destinado a elas.

Assim que colocou o prato no chão, Milena sentiu a sensação familiar de braços amorosos a envolverem. Iemanjá se fazia presente através de sua filha e abraçou a mulher que zelava por sua matéria. Acariciou o rosto marcado pelo tempo da zeladora e levou a mão de Milena ao seu coração. Aos poucos foi deixando o corpo da jovem que após alguns instantes acordou da incorporação já calma. Saíram do quarto e foram em direção a cozinha.


-Mão a senhora pode me dizer por que senti aquela sensação?
-Porque algo esta por acontecer, mas os orixás estão nos protegendo. Vamos pedir que Ogum vá por nós nessa batalha defender aqueles que amamos.


De repente começou a chover e Milena foi para a varanda. Fez uma prece silenciosa e passou a olhar a densa chuva que caia.



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Moises tentava retirar as roupas ensopadas de Luiza. Em um momento de descuido do rapaz ela lhe acertou um chute e tentou correr, mas o mesmo a derrubou com uma pancada na cabeça desacordando-a. a porrada foi tão forte que por um instante ele pensou te-la matado.

Passos rápidos foram ouvidos no beco e uma voz extremamente grave se fez ouvir assustando-o ao vislumbrar aquele homem negro, alto e forte. Vestido apenas em uma calça de capoeira com as pernas dobradas e sem camisa.


-Se eu fosse você não encostava-se a ela.
-Quem é você?
-Não interessa. Saia daqui. – ordenou o homem em alto e bom tom. Sua voz soou como um trovão cortando o céu.


Moises fugiu correndo pela rua olhando se era seguido por aquele homem amedrontador.


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Uma jovem que olhava a chuva de uma das janelas do casarão antigo onde funcionava o Bordel de Madame Sofia viu uma água avermelhada escorrendo para os bueiros e aproximou-se melhor da janela vendo uma mulher desmaiada em meio a poça de sangue. Saiu porta fora gritando sua “patroa” que logo veio ver o motivo do estardalhaço.


-Que foi menina?
-Tem uma moça caída aqui na frente, ensanguentada.
-Rápido, ligue para o Samu. Marcelo, vamos ver isso de perto.


Com a ajuda do segurança, saiu para ver a jovem e reconheceu a repórter de uma matéria de jornal. Ligou para o jornal no qual a mulher trabalhava e deu a noticia do esfaqueamento a um homem que dizia ser o editor chefe. Sairia dali, pois a policia em breve chegaria e embora tivesse seus impostos pagos não gostaria de servir como testemunha. Poderia atrapalhar sua “empresa”.



Comentários

  1. Querida... continuei a leitura pelo Lettera... está tudo bem? Ja tem mais de um mês do ultimo postado.. estamos anciosos pelo desfecho....

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    1. Olá, Thais. Não há problema algum. Já encerrei-a lá e estarei atualizando agora aqui. Mil perdões pela demora em responder, mas eu tinha esquecido o login e senha do blog(muitos emails). Beijos e espero que tenha gostado do fim.

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