Microconto - A Flor e o Beija-flor


Era uma vez um Beija-flor de semblante entristecido. Não tinha flores a beijar, suas asas não podiam voar. Passava seus dias no galho de uma frondosa macieira lamuriando suas tristezas. Em um bosque próximo, havia um jardim e uma pequena flor desabrochava para ouvir o doloroso cantar. As maiores flores caçoavam de sua doçura dizendo:

-Que tola! Que burra! Jamais Beija-flor irá querer-te flor diminuta.

E ela? Nada dizia. Rogava durante a noite as miraculosas estrelas para que um dia o detentor de sua admiração a notasse, não por seu pouco tamanho e sim pela grandeza de seu coração. O verão findou, outono cessou e o tenebroso inverno passou. Veio enfim a primavera, das flores belas.
O Beija-flor, depois de muito tempo enclausurado, andou sobre a terra firme daquele imenso jardim. Houve um reboliço na flora. Todas queriam ser a eleita. E agora? A nada se atentava o pássaro. Seguiam um doce aroma no ar que o guiou até Ela

. -Quem és tú, flor de rara beleza e maravilhoso odor? – Perguntou-lhe encantado. -Apenas mais uma nessa vasta imensidão. – Respondeu-lhe envergonhada. -Teu perfume embriagou-me os sentidos e se não for muito pedir, diga-me seu nome para que em mim se eternize.

As outras flores cheias de inveja, olhavam-na de maneira amedrontadora. Amava aquele formoso Beija-flor e agora que a chance de ser vista havia-lhe sido concedida, não a perderia.

-Gérbera. Chamam-me de Gérbera. -Bela flor de Gérbera, agradeço-lhe por proporcionar-me o deleite de conhecer aquela que me devolveu a vontade de viver. Eu não tinha flores para beijar porque aquele vazio a mim não mais apetecia. Minhas asas, coitadas, cansadas não mais podiam voar. E a mim restava lamentar. E conhecer-te deu-me a certeza de que és tu a flor para este cansado Beija-flor.
Micro conto – A Flor e o Beija-flor – Dama da Noite(Nay Rosário)



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