O Convento - Capitulo - II - Aos olhos do Pai




Dias atuais

O sino da porteira ressoava anunciando a chegada de alguém. A madre superiora estava em seu escritório terminando de fazer, junto com a cozinheira, uma lista de compras de mantimentos e repassando os valores quando ouviram duas batidas na porta.

-Entre, irmã.
-Licença, madre. Há aqui um senhor, sua esposa e filha que gostaria de conversar com a senhora.
-Peça que aguardem um pouco.

Irmã Cintia, a jovem freira que os atendeu, os conduziu até uma sala de visitas com um sofá de madeira com acabamento e palhas e uma mesa também em madeira com quatro lugares, que dava acesso a uma das varandas do lugar. Algumas irmãs varriam o terreiro, outras estendiam as roupas nos varais, algumas noviças cuidavam dos animais e as freiras de idade avançada mexiam nos canteiros de horta, pomar e jardim que cultivavam. Tudo era feito com calma, sem pressa. Alguns olhares passavam rapidamente na direção daqueles três estranhos, mas pouco se demoravam sobre eles.

Amaro e Edite conversavam quase em sussurros a respeito das primeiras impressões do lugar e que poderia sim ser uma boa resolução deixar a filha naquele local sagrado, longe das maledicências do mundo. Morgana, alheia a conversa dos pais, pensava em seus amigos e como reagiriam ao saber onde tentavam trancafiá-la. Será que algum deles teria coragem suficiente para invadir um convento para resgatá-la? E ela?

A madre, uma senhora de pele negra, aparentando ter setenta anos, de olhar e sorriso amável apareceu depois de alguns minutos os convidando a ir ao escritório que mais parecia uma biblioteca com suas estantes de livros separados por assuntos e países de origem, as janelas eram vitrais com imagens sacras e havia um enorme quadro representando a Santa Ceia atrás da mesa onde a madre sentava. Chegando no recinto, ofereceu-lhes chá de camomila e algumas bolachas feitas no próprio local. Após o pequeno lanche, a conversa enfim começou.


-Madre, nós gostaríamos de deixar nossa filha aqui no convento. Pensamos ser melhor para ela ficar longe de certas... influências. Os jovens de hoje não sabem o que é bom aos olhos do Pai celestial. Nossa família é católica, temente a Deus e pensamos que o melhor para Morgana é seguir os caminhos que levam a santidade. – O homem dizia de maneira firme.

Amaro Santos Fonseca era um homem embrutecido pelo tempo. Filho de vaqueiro e sertaneja, passou boa parte da infância vivendo como um nômade, em constantes mudanças. O pai, em busca de emprego, mesmo que fosse temporário, em fazendas de coronéis e a mulher lavava roupa de ganho nos pequenos açudes que encontrava com a água salobra. Quando o tempo de serviço acabava, ele pegava a mulher e os três filhos indo tentar a sorte em outras cidades.

Ao chegarem em Sobreiro, encontrou emprego em uma chácara onde apenas um senhor residia. Seria o caseiro e sua esposa, cozinheira. Pode enfim colocar os meninos na escola e dar uma vida sossegada a todos. Alguns anos depois, o dono das terras faleceu deixando para seu fiel amigo e caseiro toda a herança que possuía. A chácara, alguns animais que ali habitavam e uma pouca quantia em dinheiro no banco da cidade.

Com esforço e trabalho, o velho Fonseca conseguiu prosperar e fez para cada filho uma casa. Quando Amaro conheceu Edite na missa festiva do padroeiro da cidade encantou-se. Naquele tempo, os jovens iam a casa das moças para cortejá-las com buquês de flores e pequenos mimos. Alguns anos depois, era celebrado, pelo bispo, o matrimônio do casal. Daquela união nasceram duas meninas, Marialva e Morgana.

Marialva era professora da escola municipal, estava casada com o filho do farmacêutico e mãe de um casal de gêmeos. Morgana, era a dor de cabeça da família. Sempre contestou as ordens dos pais e atualmente estava envolvida com uma turma de adolescentes “desordeiros e desvirtuados”. A única chance de evitar um falatório na cidade era interná-la no convento antes que fosse tarde demais.

-Pois bem, senhor Amaro. O senhor tem certeza dessa decisão? Pois uma vez que entregar sua filha para o nosso convento, ela não mais poderá sair caso arrependam-se.
-Sim, madre. Tenho certeza. Minha filha será uma das servas do Senhor.


Comentários

  1. Oiee
    Oxente, não sabia dessa que não poderia sair do convento...explique isso direito, por favor!
    Tô falando sério(rs) ,explique pq?

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