O Convento - Capitulo IV - Conhecendo-a



- Vamos, amiga? Será rápido. Prometo.

Com essa palavra, Adalgisa convenceu sua melhor amiga a ir na festa de aniversário da sobrinha do prefeito da cidade. Gisa ou Adalgisa era filha única de um casal de comerciantes e por não ter tido irmãos, foi criada com mimos e regalias dentro das possibilidades existentes na cidade. Negra do sorriso faceiro e dona de um poder de persuasão causador de inveja.

O centro educacional de melhor qualidade era o colégio mantido pela igreja católica e as aulas eram ministradas, em sua maioria, pelas freiras. Foi na primeira série do ensino fundamental que ela e Morgana se conheceram. A afinidade inicial se deu pelo gosto em comum por maçãs vermelhas e suculentas e posteriormente, descobriram outros pontos. A amizade estendeu-se pelos anos seguintes, fortalecida na relação de confiança, companheirismo e cumplicidade.

O local de produção seria a casa de Moema, outra integrante do grupo. As 19 horas, todas estavam prontas. Gisa vestia uma calça jeans de lavagem clara, sapatilha branca nos pés e uma blusa cinza de ombros caídos com algumas lantejoulas. Moema, morena queimada de sol, escolheu um vestido rendado vermelho rubro. Morgana optou por uma calça jeans cinza grafite, uma bata imitando o estilo indiano na cor branca, seu inseparável amuleto que consistia em um cordão preto onde tinha como pingente um trevo de quatro folhas dentro de uma lua crescente e um coturno também preto. O cabelo, preso com elástico, formando um coque e de maquiagem apenas lápis nos olhos e um batom cor de café; seu preferido.

O pai de Moema se disponibilizou a leva-las e busca-las no espaço onde seria realizado o evento. Um suntuoso salão de eventos na parte comercial da cidade. Decorado nas cores que transitavam entre as tonalidades lilás e roxa. As flores eram Lótus, as preferidas da aniversariante. Alguns conhecidos já estavam quando chegaram e logo começaram a beber.

Em um certo momento da festa, a menina da cor de chocolate seguiu em busca de um lugar para descansar. Na área onde ficavam os jardins do salão havia um balanço com espaço para duas pessoas e logo sentou. Olhava o céu estrelado impulsionando seu corpo e, consequentemente, o balanço. Mirou seu olhar em uma roseira enquanto seus pensamentos divagavam de maneira aleatória.


-Posso te fazer companhia? – Um tom levemente grave e enrouquecido fez-se ouvir.
-Sim.


Morgana não sabia o porquê, mas aquela voz e timbre deixou-a em estado de alerta. Os pelos de seu corpo eriçaram-se e uma súbita timidez, que pensava ter deixado de existir, fez-se presente. Sentiu a presença da outra e os movimentos ao seu lado, mas não teve coragem de olhá-la. Depois de um tempo que para ambas pareceu ser infinito, alguém quebrou o silencio.


-Sabe... Desde o momento em que você chegou, acompanho seus passos. Na verdade, sigo seus passos e procuro por notícias suas desde o primeiro instante no qual te vi em frente a uma confeitaria, conversando com duas moças, usando um vestido floral e um lindo sorriso nos lábios. Vi o momento no qual saiu do meio do seu grupo e aproveitei a oportunidade.
-Nossa! Sou tão interessante assim? – Perguntou estarrecida ao sentir-se tão desnuda.
-Creia que sim.
-Oportunidade de...?
-Sim. De me aproximar, de te conhecer, saber seu nome e do que gosta.


Morgana não sabia como agir. Tinha ciência dos seus desejos de cunho romântico-afetuoso por garotos e garotas, mas ela além de ser discreta quanto a sua sexualidade evitava ao máximo envolver-se com alguém de sua cidade. No auge dos seus dezessete beirando os dezoito anos sabia bem o que queria para si, só não sabia precisar as consequências.


-Me chamo Morgana. – Estendeu a mão na direção da outra pessoa.
-É um prazer enfim saber seu nome, Morgana. – Pegou a mão que lhe era ofertada levando aos lábios depositando um beijo casto. – Adriana Romero.


O brilho do nascimento do famoso “algo mais” era notório nos olhares. Uma estrela cadente cruzou o céu no momento que ambas olharam para cima com as mãos ainda unidas enquanto os corpos balançavam suavemente o brinquedo.


-Dizem que se você fizer um pedido a estrela, ela o realiza. – Morgana contou.
-Não preciso mais. Meu desejo já se realizou.

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