O Convento - Capitulo III - Renascer



Desde seus primeiros minutos de vida, Ângela era pajeada pelas freiras residentes no convento. Todas queriam cuidar da pequena, o que causava certo alivio em Das Dores por saber que sua filha não seria rechaçada.

Os primeiros meses de vida são os mais importantes tanto para a mãe quanto para a criança. O leite materno é o alimento ideal para a saúde do bebê e o contato através do tato entre mãe e filho é um elo de amor inquebrável. O pequeno anjo era a luz dos olhos de Conceição, a madre superiora, que tinha um grande apreço pela menina e sua mãe.

Para a pequenina, aquela era sua “Tia Ciça”. Quando Ângela completou seus cinco anos, Das Dores foi acometida por uma enfermidade pouco conhecida naquela época, vindo a falecer quase oito meses depois. A menina ficaria sob a responsabilidade da madre até que completasse seus dezesseis anos, conforme algumas instruções da mulher, quando receberia um diário e a carta que lhe explicava muitas situações.

Além da madre Conceição na liderança geral do ambiente também haviam as auxiliadoras que ficavam na subdireção de algumas alas. Irmã Rita era a orientadora das noviças e jovens freiras, Irmã Constância era a cozinheira oficial, Irmã Jerusa cuidava da horta e do pomar, Irmão Gilvanda era a supervisora da equipe de arrumação.

Quase todas eram bem quistas pela garota que crescia em meio aquele lugar de paz. Desde cedo, aprendeu os horários das irmãs e ajudava fazendo de tudo um pouco. Auxiliava na ordenha da vaca Virginia, tentava juntar as folhas que o vento espalhava no terreiro, segurava os prendedores de roupas e colhia legumes na horta. Com a supervisão da Tia Ciça, arrumava as cadeiras da pequena capela e no meio das orações da tarde quase ninguém via a pequena anjinha que dormia serenamente em um banco lateral.

Um dos poucos lugares onde sua entrada não era permitida, eram os aposentos das irmãs Gilvanda e Florisvalda. Embora tratassem a menina de maneira cordial, não sabiam lidar com crianças sendo para elas preferível a distância.

Quando Ângela completou dezesseis anos, as irmãs deram-lhe presentes singelos, mas que para a jovem eram verdadeiros tesouros. Cada uma havia confeccionado seu mimo para ela. Fizeram um bolo de cenoura com cobertura de chocolate, o preferido dela. Já perto do horário de se recolherem, Conceição conversava com a jovem em seu leito.


-De onde estiver, certamente te abençoa.
-Tenho saudades dela.


Enxugou algumas lágrimas que molhavam seu rosto enquanto deitava no colo da sua segunda mãe assim como fazia quando pequena. A senhora contou como conheceu sua mãe, do nascimento e dos poucos anos que mãe e filha tiveram de convivência. Ao final do relato, a adolescente já dormia. A senhora sorriu enquanto levantava-se de forma lenta para não acordá-la.


-Desde pequena é sempre assim. Certos hábitos não mudam.


Depositou um beijo em sua testa e caminhou para a porta. Deteve-se na saída ao passar a mão sobre o bolso de sua vestimenta. Deixou no criado mudo um livro de capa dura em couro e uma carta dobrada em um papel já amarelado pelo tempo onde se lia.


Para minha amada filha.

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