O Convento - Capitulo I - Prólogo




Rancho Nossa Senhora das Dores, Sobreiro - Bahia, Março de 1948

-Força, menina. Já estou vendo. – Falava a freira, uma senhora de pele queimada do sol e mãos enrugadas.
-Aaaaaahhhhh! Não posso. Não consigo. – Uma jovem beirando seus vinte e dois anos gritava de dor e cansaço em meio a força que fazia para ajudar seu bebê a vir ao mundo.
-Só mais um pouco. – Uma outra freira massageava sua barriga na direção que a criança deveria sair.

Um grito agudo e um choro. Sorrisos e orações de agradecimento. A primeira troca de calor corpóreo entre mãe e filha. Sim, uma linda menina negra, gordinha e cabeluda, de lindos olhos cor de cinza.

-Qual o nome dela? – A parteira indagou.
-Ângela.
-Bem vinda ao mundo, pequena Ângela. Anjinho de Deus.

Ergueu a criança como se mostrasse aos céus e a abençoou dando-lhe um beijo na testa e entregou a sua mãe para que desse o alimento da vida, leite.

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Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, Sobreiro – Bahia, Fevereiro de 1970

O Bispo arquidiocesano Dom Augusto Damasceno, um homem alto e tom de pele clara, beirando seus cinquenta e cinco anos, de fala mansa e olhar cinza misterioso, era o celebrante da missa festiva da padroeira da cidade onde também ocorreria os votos finais das Irmãs Servitas, onde reafirmam de forma definitiva sua obediência a Deus, sua castidade e pobreza diante de um representante do Altíssimo, a comunidade local e suas irmãs de habito.

Dentre as tantas noviças de hábito branco, uma em especial chamava atenção dos olhos do Dom. A moça estava na fila para receber a Santa Bênção e a cada passo que a aproximava do altar, ela sentia-se mais e mais nervosa sem motivos aparentes. A fila andou depressa, em seu ponto de vista, encontraram-se frente a frente.

Dom Augusto emocionou-se ao proferir as Santas Palavras àquela menina em sua frente. Quando ungia sua testa com o óleo santificado demorou-se em uma pequena caricia. Um toque sutil em um momento de reconhecimento e reencontro.


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