O Convento - Capitulo VI - Tentação
Anos antes...
Havia um
riacho em meio ao bosque atrás do casarão. Nos dias de muito calor,
algumas freiras e noviças gostavam de ir até lá refrescarem-se. Das
Dores preferia ficar em uma parte mais afastada. Sentava-se nas pedras e
brincava com pés os batendo na água.
Depois de
certo tempo, tirava o vestido ficando apenas em trajes íntimos e
mergulhava em busca da sensação de plenitude e liberdade que apenas a
natureza poderia ofertar-lhe. Voltava a ser criança, inocente e ingênua
que apenas brinca enquanto ouve o cantar dos pássaros.
Atrás de
algumas arvores, havia um espreitador, que aproveitava aqueles
corriqueiros momentos para espionar a jovem. Ao tentar aproximar-se,
pisou em um galho seco despertando a atenção da moça.
-Quem está aí? Apareça!
Enquanto a
jovem pegava suas roupas e vestia-se apressada, a figura escapuliu
assim como ali chegou. Das Dores foi em busca das irmãs, mas nada
relatou acerca de sua impressão. Pouco antes do pôr do sol, rumaram para
o casarão. Lá chegando, dirigiram-se para seus aposentos afim de
descansarem e se prepararem para o jantar.
Horas mais
tarde, as mesas estavam cheias e após a oração de graças pelo alimento
ali depositado, todas serviram-se e prosaram sobre trivialidades. As
únicas em silencio eram a madre superiora, uma noviça e Das Dores, que
mostrava-se aérea. Em seu semblante havia perturbação e a noviça evitava
levantar seus olhos em qualquer direção. Parecia temerosa de que algo
ocorresse. Assim que agradeceram pelo momento proporcionado, limparam o refeitório e foram para seus quartos. Todas se recolheram cedo.
Dias depois...
Novamente o
sol escaldante fazia com que as irmãs se dirigissem ao riacho. Das
Dores sentia-se observada, mas se mostrasse nervosismo levantaria
suspeitas. Já havia pensado em um plano para pegar quem quer que a
perseguia.
Seguiu
para seu local preferido, mas antes derramou uma generosa quantia de
azeite de dendê que havia furtado da cozinha, em um pequeno buraco e
sujou também alguns troncos de arvore. Quando a pessoa fosse apoiar-se
para olhá-la, sujaria as mãos.
Entrou na
água e ficou em silencio, à espera do menor barulho que seus ouvidos
pudessem captar. E não se demorou muito para que uma figura encapuzada
se aproximasse com intenções dúbias. Ao debruçar-se no tronco de uma das
arvores, sentiu sua mão escorregar. Ao afastar-se para olhar melhor,
deus dois passos para trás pisando na poça de azeite, melando a barra de
sua vestimenta e fazendo com que se esquecesse que deveria permanecer
escondido.
-Que merda! Não posso deixar que me vejam assim.
Tentava
limpar-se em vão, pois era difícil tirar aquele liquido das peças de
roupa. Estava tão entretido que não se deu conta de estar sendo
observado. Quando fez menção de elevar o corpo teve uma surpresa
desagradável ao ouvir uma voz atrás de si.
-Retire o capuz.
Nada mais
poderia fazer senão seguir a ordem que lhe foi dada. Desamarrou e
retirou lentamente o capuz. Em seguida virou-se revelando seu rosto para
a jovem.
-Você?!
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