Nossa Forma de Amar - Capitulo XXIX


29 – Premeditação


Era miragem. Não conseguia acreditar no que seus olhos viam. Era isso então. Ela nunca iria querer ele porque era uma mulher macho. Dessas que achavam que poderia viver sem um homem para procriar. Ela era igual àquela outra. Adelaide.

Não pode fazer o que desejava com ela porque o povo impediu e teve que fugir. Escondeu-se em um celeiro abandonado que existia mais afastado da cidade. Seus irmãos levaram comida, água e um pouco de dinheiro. Assim que anoiteceu levaram uma bicicleta para que ele pudesse fugir.

Saiu daquela cidade que considerava maldita com ódio das duas mulheres que arruinaram sua vida e jurou vingança. Quando o dia amanheceu já estava chegando em outra cidade, pois ganhou a carona de um caminhoneiro que simpatizou com sua sisuda figura. Desceu na entrada desse vilarejo e procurou emprego e um lugar pra dormir.

Um senhor que tinha um armazém o acolheu dando um quartinho nos fundos para dormir e ser seu auxiliar no local. Avisou assim que deu aos irmãos que estava bem e seguia sua vida por lá. Engraçou-se com uma moça, mas descobriu que era filha do delegado. Afastou-se para que não descobrissem o motivo de sua estadia por ali.

Uma jovem lhe chamou a atenção. De estatura mediana, corpo esbelto, morena da pele bronzeada, sorriso gentil e voz marcante. Seu nome era Rita de Cássia. Era filha dos donos da única farmácia da cidade. Com a alma bondosa procurava ajudar a todos e tinha amor pelas crianças. Moises tentou cortejá-la inúmeras vezes, mas a jovem esquivava-se dele. Sentia uma energia ruim vinda do mesmo e não se sentia bem perto dele. Na verdade ele dava-lhe medo.

Nessa mesma época chegou um circo itinerante na cidade com seus artistas. Palhaços, domadores e suas feras, animais dóceis e fofos, trapezistas, bailarinos, malabaristas, uma mulher barbada que não parecia ser mulher, ilusionistas e uma mulher que se dizia profissional na arte da mágica. Esta moça era a atração principal.

Corpo musculoso de quem fazia intensas atividades físicas na montagem e desmontagem dos aparatos do circo, negra, cabelos negros lisos da mistura de um pai negro e mãe de uma tribo indígena, olhos castanhos enigmáticos. Porte altivo em suas vestes masculinas e tornava-se uma criança perto de outras. Tinha loucuras por aqueles pequenos seres.

Em uma de suas brincadeiras com as crianças viu a morena pela primeira vez. As crianças brincavam com a morena quando viram a mágica passar e correram em sua direção pedindo que lhes mostrasse um truque.

A negra parou e ajoelhou-se sendo rodeada pelos pequenos. Pegou uma moeda e mostrou a todos em seguida colocou em sua mão direita fechando-a e pedindo para que um dos meninos assoprasse o mais forte que pudesse. Após sacudir sua mão abriu-a revelando o sumiço da moeda. A mulher pediu para que uma das meninas que estava mais atrás se aproximasse pediu que a mesma abrisse o bolsinho de seu macacão revelando a moeda que antes estava na mão da negra. As crianças encantaram-se e a morena sorriu para ela timidamente.



-Filha, por favor cuidado. Não iluda essa moça. – o senhor de cabelos completamente brancos falou atrás de Aynoá.
-Nada fiz pai. – a jovem virou-se e passou a seguir ao lado do senhor em direção ao picadeiro.
-Imagino se fizesse. Dou-lhe este aviso. Vamos. Temos um espetáculo mais a noite. – adiantou-se.



A noite algumas pessoas foram ao circo ver o espetáculo incluindo a jovem Madalena e seus pais. Riram das trapalhadas dos palhaços, encantaram-se pelos bailarinos, admiraram-se com a coragem dos domadores e espantaram-se com a mulher barbada. O espetáculo final ficaria por conta de Aynoá.

O truque final teve a ajuda dos palhaços. Ela pediu que eles enchessem um balão de festas que havia sido examinado por três pessoas diferentes da plateia incluindo o delegado. Os palhaços como eram de se esperar fizeram uma algazarra, por fim conseguiram cumprir sua missão. O balão foi amarrado pelo domador de fera e colocado no alto pelos trapezistas. Aynoá pegou um estilingue e colocou um prego na parte emborrachada mirando-o no balão. Atirou.

O balão estourou espalhando pétalas de rosas por todo o lugar encantando a todos que aplaudiam entusiasmados. Uma rosa caiu no colo de Madalena, esta a pegou e a beijou. A negra lhe piscou o olho e retirou-se do palco.

Quando chegou a casa, a jovem preparou um copo com água e açúcar para colocar a rosa e viu o bilhete que estava entre suas pétalas. Um breve encontro perto do moinho. Na hora marcada as duas estavam no local. Madalena em seu vestido floral, Aynoá em uma calça com suspensórios e uma regata branca. Conversaram por um bom tempo e tornaram-se boas amigas.

O circo ficaria por aquelas bandas por algumas semanas e nesse tempo as jovens passeavam durante o dia e Madá como os amigos a chamavam assistia aos espetáculos a noite, depois Aynoá a deixava perto de sua casa. Tudo supervisionado a certa distancia por Moises. Ele foi a única testemunha do primeiro beijo entre elas e da tarde de entrega e amor que tiveram.

Seu ódio chegou a níveis extremos. Após uma noite de troca de juras de amor entre as jovens Moises esperou que a negra afastasse o suficiente e pegou a morena tapando-lhe a boca com um pedaço da manga de sua blusa. A arrastou para um canto qualquer e jogou-a no chão xingando-a de nomes de baixo escalão, rasgou suas vestes e abaixava suas calças para penetra-la com seu membro ereto.

A jovem debatia-se e gritava enquanto o rapaz tentava controla-la e a estapeava. Em um acesso de fúria penetrou-a sem dó. O grito da moça se fez ouvir. Aynoá sentiu um aperto em seu peito e voltou correndo como se sua vida dependesse daquela viagem. Chegou a tempo de ver sua amada chorando com sua boca tapada enquanto o crápula se movimentava em cima dela.

Pegou um pedaço de madeira e o atingiu. Ele saiu de cima da moça e tentou bater na negra que o acertou com socos e pontapés, parou apenas quando ouviu a voz embargada da sua Madalena pedindo que parasse. Tirou seu casaco e a cobriu. Os homens da cidade chegaram e não precisava dizer nada. As imagens falavam por si. Levaram o homem para a delegacia e a jovem a um hospital.
Após ser examinada a moça não mais quis separar-se de seu amor confessando sua relação aos seus pais. O circo partiria em poucos dias e a jovem com ele iria. Tentaria esquecer o que vivenciou naquele lugar.

Moises dormiu na cadeia. No dia seguinte seria transferido para a capital. Enquanto o delegado terminava de preparar os papeis de sua prisão um guarda descuidou-se deixando a cela destravada. Moises o golpeou e fugiu vestindo sua farda. Procuraram por toda a cidade, mas não o acharam. Ele havia roubado um veiculo e obrigado o motorista a levá-lo dali.


Após contar o que viu aos irmãos e virar mais uma vez em sua boca uma garrafa de uma cachaça qualquer ouviu a pergunta de seu irmão menor.


-O que vai fazer agora?

-Agora? Ela vai saber o que um macho de verdade faz quando pega uma cabritinha. – sorriu.

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