Nossa Forma de Amar - Capitulo XIX
19 - A Surpresa
-Desculpe o atraso anjo.
Estava na casa de minha mãe. – Milena disse saindo do carro e indo em direção a
sua amada.
-Não tem problemas, acabei
de chegar.
Trocaram “beijos de
comadre”, pois estavam na rua. Milena abriu a porta do quarto para que sua flor
se acomodasse melhor e ganhou um sorriso e uma piscada. Após acomodar-se no
banco motorista e colocar o cinto, virou-se para sua acompanhante perguntando o
destino.
-Vamos para o hotel no
qual estou hospedada. Fechar a conta e rumo a casa nova.
-Anjo preciso conversar
contigo a respeito de algumas normas e regras da religião a qual sigo.
-Pode falar.
-Então... Quando temos
algum tipo de função a ser exercida no terreiro ficamos impossibilitados de
algumas coisas. – quando parava em um sinal Milena olhava Luiza para tentar
captar as reações dela enquanto falava.
-Tipo? – Luiza não estava
conseguindo entender.
-Sabe quando os jogadores
estão em concentração e ficam impossibilitados de ter contato direto com a
família, badalações, sexo.
-Vocês também têm essas
restrições?
-Sim – Já estacionava o
carro na frente do hotel.
-E não pode nem ver o
namorado?
-Pode, só não pode ter
contato intimo. Mas fique tranquila que quando tiver alguma darei um jeito de
te avisar.
-Ah! Entendi. Então nada
de sexo quando você tiver essas funções. Vou fechar a conta e você pega minha
mala. Não trouxe muitas roupas quando sai da casa dos meus pais.
-Sim senhora.
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-Dalila você viu aquele
meu lápis de olho azul?
-Não Luis. Pra onde você
vai?
-Beco dos Artistas, baby.
Reencontrar as bichas velhas. Estão todas péssimas. Uma esta sustentando um
garotão de vinte dois anos, a outra foi roubada pelo bofe e a terceira esta
casada com um bissexual que não sabe se pega homem ou mulher. A melhorzinha sou
eu.
-Ah, claro! A encalhada. –
Lila corria pelo quarto rindo enquanto Luis tentava acertar uma tapa nela.
Depois de dez minutos entre corridas e pulos sobre a cama ele cansou e
desistiu.
-Cansei sua mala. Vou
beber uma água.
-Além de encalhada é bicha
velha. – Falou e correu pelos corredores da casa com um Luis furioso em seu
encalço.
-Agora eu te pego Dalila.
-Pega nada bicha velha. –
ao passar pela cozinha encontrou Lucimara preparando alguns grãos escondeu-se
atrás dela. – mãe me ajuda, Luis quer me bater.
-O que você fez pra ele?
Um Luis esbaforido chegava
na cozinha a tempo de falar. – Alem de me chamar de encalhada, chamou de bicha
velha.
-E sedentária. Nem aguenta
uma corridinha do meu quarto até aqui.
-Olha pra isso mãe. Vai
deixar? – Ficou emburrado. O bico crescia a olhos nus.
-Dalila de um tempo ao
Luis. Deixe-o ir se divertir afinal não sabemos o dia de amanha.
Após lembrar-se do que
aguardava Luis ela parou a implicância. Acompanhou seu amigo até o taxi que o
aguardava e o advertiu em relação as pessoas serem maldosas. Após a partida do
taxi foi de encontro a mãe.
-quando vamos começar?
-Amanhã.
-E Mile já sabe?
-Vai saber quando chegar.
-Ih, mãe! Só amanha então.
Aquela foi ver a vitima da vez.
-Minha filha sua irmã esta
verdadeiramente apaixonada por essa moça. – Lucimara falava com a expressão
fechada, preocupada. – Eu temo pelo que ela terá de enfrentar.
-A senhora sabe de algo?
Pode falar a ela.
-Infelizmente não, Lila.
Ela terá de descobrir só e já foi avisada. – retirou-se e deixou a filha
pensativa.
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-Pronto! Seu lar. – Milena
abriu a porta colocando as malas de sua amada no quarto.
-Bem que poderíamos
inaugurar a cama, né?! Sabe-se La quando essas suas restrições começam.
As duas sorriram e
beijaram-se. A noite prometia muitas intenções.
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Luis chegou a casa às duas
horas da madrugada. Estranhou ver alguns carros de seus irmãos na garagem do
terreiro, mas estava tão cansado que decidiu perguntar o motivo no dia
seguinte. Ao entrar no quarto, tomou uma ducha e desabou na cama. Nem percebeu
que havia alguns pacotes em seu quarto.
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O dia amanheceu preguiçoso,
o sol demorou mais do que o previsto para brilhar no céu. Por volta de oito
horas Milena parava o carro na frente do terreiro. Passou em casa antes e tomou
banho, fez uma pequena mala de roupa e já foi para a casa de sua mãe em sua
roupa de ração que consistia em uma saia e camisa branca de madrasto. Os fios
de conta do seu orixá e o rungeve*
no pescoço.
No quarto Luis ainda
dormia. Na cozinha as mulheres aceleravam a preparação das comidas e do que
seria usado sob orientação de Dalila. Lucimara estava no jogo com uma cliente e
pediu o auxilio de Jorge, um dos seus filhos já que Luis não poderia saber nada
que se passava fora do quarto. Milena ficou responsável pelos serviços dos
homens ao redor do terreiro.
Quando acordou e olhou o
horário, Luis assustou-se ao ver o adiantado da hora pois já passava das
quatorze horas. Tomou um banho e vestiu uma roupa que achou arrumada ao lado de
sua cama. Dalila sempre fazia isso quando ele saia a noite.
Ao chegar na cozinha
encontrou alguns de seus irmãos que não via a certo tempo e em clima
descontraído almoçou. Sentiu-se novamente em família. Ficaram conversando até
se fazer ouvir o som do adja* chamando
todos para o barracão. Lucimara já estava sentada em sua cadeira com suas
filhas ao seu lado. Os ogans alabes* posicionaram-se
nos atabaques e aguardavam o sinal.
-Meus filhos, hoje é um
dia especial para mim. Estarei iniciando mais um Omo orisá*com muito orgulho. Um menino esforçado que chegou aqui
por designo dos orixás e agora realizará seu sonho de ser iniciado para seu
orixá.
O coração de Luis
disparava. Inconscientemente, já sabia que era com ele. Todos os momentos
vividos até aquele minuto passaram diante dos seus olhos como em um filme. Os atabaques
ressoavam em reverencia a mais um irmão que nascia para o orixá. Fez-se ouvir a
voz de Lucimara a cantar.
“Ojo Igbi Orisá rê ô (No momento em que você nasce
para o orixá)
Eyé gan fo Orisá sire (Um Pombo faz a ligação entre Ori e o Orixá)”
Eyé gan fo Orisá sire (Um Pombo faz a ligação entre Ori e o Orixá)”
Milena sentiu braços calorosos
envolverem-na. A sensação familiar de ser conduzida pelo seu orixá. Dalila
estava inquieta. Sentia seu coração acelerar. As mãos soavam e tremiam. Em seu
intimo uma fera despertava. Sentia como se um animal feroz lhe rasgasse as
entranhas em busca de liberdade. As paredes rodavam, as vozes pareciam
distantes e apenas o som dos atabaques e do adjá era sentido. Seu corpo pesava
e já não possuía mais domínio sobre si. Suas feições e expressões mudaram
assumindo a forma séria. O caçador se fez presente e seu Ilá* foi ouvido.
Como que por encomenda o estouro de
fogos de artifícios foram ouvidos. Os orixás bailavam e Luis já sentado em uma
cadeira era suspenso pelos outros ogans da casa e apresentado aos elementos ritualísticos
antes de ser recolhido para sua, de fato, iniciação.
Nossa me arrepiei com este capitulo... pareceu um filme passando lembrando de minha confirmação, a cantiga, a saida enfim tudo.... Loci Loci meu pai !
ResponderExcluirMinha mãe ama essa cantiga e não tinha outra que pudesse expressar minha intenção.
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