Nossa Forma de Amar - Capitulo XVII
17 - Em Campo
-A paz do Senhor, irmãos.
– Disse dona Maria sorridente ao ver os quatro homens entrando em sua casa.
-Os irmãos de Moises
precisam de moradia enquanto estiverem aqui na cidade. O que acha de emprestar
a casa nos fundos da igreja, mulher?
-Acho justo, marido.
-então esta decidido,
irmãos. Vamos para a sala almoçar.
Os quatro homens e a
senhora foram para a sala de jantar e antes de começar a degustar do almoço
simples, porem caprichado deito por Maria fizeram uma prece em agradecimento
pelo alimento e saúde.
Enquanto conversavam, José
quis saber um pouco mais sobre seu futuro genro. Perguntou pela rotina
interiorana, os pais dos rapazes e outras curiosidades. Moisés não se preocupou,
pois já havia instruído os irmãos sobre o que devia ser dito. Não queria deixar
arestas para duvidas e questionamentos futuros.
Enquanto os outros
conversavam, ele pensava nos passos seguintes para encontrar Luiza e como a
abordaria. Teria de ter certeza se Luiza estava de caso com a outra mulher do
jornal. Caso fosse confirmado colocaria seu Plano B em ação.
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Embora tenha usado o
documentário como pretexto para rondar e saber sobre Milena, Simone estava
empenhando-se. Foi em busca de arquivos que pudessem complementar seu trabalho.
No Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN) localizado na Rua Visconde de Itaparica, no
bairro da Barroquinha encontrou o registro da fundação da associação e alguns
documentos relacionados ao terreiro.
Por se tratar de uma
jornalista renomada com influencias e conhecidos teve acesso a esses documentos
com mais facilidade. Saindo de La foi para o Pelourinho diretamente para a Rua
Porta do Carmo. Onde fica a sede da Federação
Nacional de Culto Afro Brasileiro (FENACAB) que tem como missão certificar
a existência dos terreiros e centros dando-lhes um alvará de funcionamento
autonomia e legalidade para exercer seu culto religioso.
Por lá através do
mapeamento dos terreiros de candomblé de Salvador pode ver a metragem e
linhagem que antecedia Lucimara e ainda obteve outras informações que poderiam
lhe ser útil.
Quando saiu da FENACAB já
passava da hora do almoço, passou em frente a alguns restaurantes, mas
procurava algo diferente do normal. Um que houvesse algum outro atrativo além
da excelente comida servida.
Ainda a pé passando pela
Rua Cruzeiro São Francisco no Pelourinho viu o que tanto procurava. O Coliseu Restaurante & Cultura ofertava
além de um bom almoço em um lugar relativamente tranquilo, exposições
artísticas e musica ao vivo. Adentrou e
sentou próxima a janela. Um garçom logo veio em seu atendimento. Enquanto
aguardava seu pedido observava o movimento dos clientes em sua maioria turistas
visitando a capital baiana andar e conversar quando um perfume no ar roubou-lhe
a atenção.
Instintivamente olhou para
a porta e viu uma mulher morena bronzeada, vestida em uma bata africana de
tamanho médio com um cinto marcando sua cintura deixando delineadas as curvas.
Cabelos negros presos com suas pontas caindo sobre as costas e uma franja
cobrindo-lhe parcialmente os olhos cor de mel.
Ao sorrir para a
recepcionista enquanto pronunciava em um português carregado de sotaque
castelhano provocou um calafrio na jornalista. Foi direcionada para uma mesa
que ficava em frente a baiana e ao sentar seus olhares se cruzaram.
Que sensação estranha. Não deveria
sentir isso afinal meu coração pertence à Milena. Não vou negar que é uma bela
mulher. E parece que ela me olha como quem desnuda minha alma. – pensava Simone sacudindo a
cabeça a fim de tentar dissipar os pensamentos e sensações.
A morena continuava
olhando-a disfarçadamente enquanto aguardava seu pedido. Havia visto ao redor
de Simone uma áurea arroxeada quase enegrecida. Sabia que aquele coração estava
obsecado, mas seu mentor a levou até ela. Talvez fosse a surpresa que havia
sido previsto por sua tia Romena quando olhava a borra do café.
Eres una mujer hermosa. Lástima que el corazón
es tan oscuro.(És uma bela mulher. Pena que o coração esteja tão obscuro.) – pensava enquanto provava um
coquetel sem álcool pois estava dirigindo.
“-Verdade. Sentimentos como obsessão e desejo tendem a ser confundido
pelas pessoas por amor. Mal sabendo elas que o amor é livre, abnegado. Que amar
é uma dádiva do Criador Celestial. – Augusto falava-lhe ao seu ouvido.
Rúbia estava tão absorta
nos gestos da mulher a sua frente que assustou-se ao ouvir seu mentor. – Que susto, Augusto! Usted e essa mania de llegar
sin anunciarse.
Ele ria. Embora
aparentasse para quem o via ser um senhor na faixa de quarenta anos, augusto
conservava um bom humor ou humor duvidoso como sempre mencionava sua pupila
quando ele pregava-lhe peças como esta.
Antes de deixa-la ele
ainda a disse: - Esta moça esta se
perdendo, sua alma esta afundando por conta dos sentimentos negativos e das
influencias dos espíritos sem luz. Esta disposta a ajuda-la?! Pense bem. É uma
árdua tarefa. Requer paciência e isso como dizem vocês, jovens, “não é sua
praia’”.
Foi-se assim como veio
deixando uma mulher pensativa. Seu pedido chegou, após agradecer ao garçom
ergueu o olhar mais uma vez e viu a morena da mesa em frente erguer sua taça em
menção a um brinde. Sorriu e ergueu a sua também.
Muy bien! Creio que essa “missão”
não me será de todo mal. –
sorriu bebendo seu coquetel.
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-A partir de hoje vocês me
acompanharão em todas as cerimônias que precisar fazer, lerão meus cadernos e
volta e meia as perguntarei sobre alguns procedimentos.
-por que isso agora, mãe?
-já é a hora. Sinto que
meu tempo nesse plano se esvai e não quero deixar vocês sem o conhecimento
necessário. Mas não quero que comentem com ninguém, apenas Luis Carlos poderá
saber. Até porque já esta na hora dele também ter um rumo certo. – Lucimara
falava enquanto olhava as filhas.
Sabia que precisava
entregar os cargos a quem tinha direito e preparar suas filhas para assumir seu
reinado. Sabia também das provações que Milena tinha em sua estrada, mas nada
poderia fazer. Era destino dela. Só podia torcer para que sua filha não fizesse
escolhas erradas, cujas consequências não pudessem ser revertidas.
-e a primeira lição de
vocês será preparar o terreiro para começar os ritos de iniciação do Luis. A
casa vai precisar de um Ogan apto a
exercer a função. Sábado a noite iremos recolhê-lo então vocês tem dois dias
para ir a Feira de São Joaquim
comprar o que preciso, encomendar a roupa e outros assessórios e prepará-lo.
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