Nossa Forma de Amar - Capitulo XVI


16 - Reaproximação - Preparando os escolhidos

Dona Maria lia sua passagem favorita na bíblia e tentava meditar a cerca do que aquela leitura que por coincidência seria a leitura indicada para o dia segundo o livro da liturgia.


"Herança do Senhor são os filhos; o fruto do ventre, seu galardão" Salmo 127:3.
O que o Senhor tem reservado para minha família? Será que meu esposo não consegue entender que não temos domínio das ações de Luiza desde que ela inventou de fazer estudo fora? Não quero perder minha filha por briga deles. Acho que vou tentar falar com ela. – Discou para o celular da filha. Ao terceiro toque foi atendido.


-oi mãe.
-filha, como você esta?
-estou bem, mãe. Ainda no hotel..
-gastando dinheiro enquanto podia estar em casa. Filha volta.
-não posso mãe. A senhora sabe que meu pai vai me empurrar o talzinho goela abaixo.
-mas ele é um bom moço, filha.
-se a senhora insistir vou desligar.
-não filha, liguei só pra dizer que te amo e seu pai também. Você sabe que temos outro costume, uma criação diferente da que lhe demos.


Luiza suspirou enquanto sentava na cama. Conhecia a historia dos seus pais, já havia decorado-a. entendia muitas das ações deles como fruto da ignorância na qual foram criados e desse fanatismo com o qual cultuavam a religião.


-certo mãe. Estou querendo alugar uma casa pra mim.
-a casa é boa? Não é muito longe? Esta barato? Se precisar eu...
-mãe, respira. – riu. Sabia que a mãe disparava em perguntas quando ficava nervosa. – a casa é ótima, é no bairro de vocês e sim, esta baratíssimo. Breve mudarei.
-fico mais calma assim. Vou desligar pra preparar o jantar de seu pai e das visitas.
-quem são essas visitas, mãe?
-os irmãos do Moises.
-mãe! Mãe! A senhora sabe que esse mundo é perigoso.
-não nos farão mal. São da igreja, são gente de bem. Vou desligar. Que o Senhor guie teus passos e te ilumine.
-Amém.


Após desligar, Luiza sentiu um aperto no peito. Logo tratou de tirar a ideia que lhe passou pela cabeça e foi terminar de ajeitar a mala. Pretendia mudar o mais rápido possível.



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-mãe, a Mile ligou. Esta vindo pra ca. – Dalila chegava à cozinha onde Lucimara preparava o almoço para os filhos.
-Ótimo! Preciso conversar com vocês. – falou sem virar-se imaginando a expressão de sua filha.
-toda vez que a senhora vem com esse papo, é “coisa braba”.
-“coisa braba”?! Eu gostaria de saber onde estão as palavras corretas da língua portuguesa que você deveria falar. A única que tem o direito de errar e ser perdoada em alguns dizeres é eu que venho de onde “Judas bateu as botas”.
-Tá bom, mãe. O assunto será sério.


Lucimara e Rômulo se esforçaram para dar a melhor educação possível às filhas por esse motivo ela constantemente corrigia as gírias da filha. Dalila era esperta o suficiente para saber que se não consertasse sua frase a mãe não esqueceria. Assim que deu o recado saiu pelo terreno do sitio atrás do Luca. Encontrou-o sentando na galha baixa do pé de siriguela. Galha esta que já havia tornado-se um banco para quem ali chegasse. O semblante de seu amigo parecia tristonho. Sentou-se ao seu lado e esperou que ele falasse.


-... Saudade de tanta coisa. Meus pais, a vida que eu tinha meu Jack Daniels. Saudade.
-o que desencadeou essa saudade?
-venho sentindo. Faz tempo. Hoje apertou no peito. Falta de ter colo de mãe. Alguém por mim. – lágrimas vertiam de seus olhos.
-você tem a mãe, Luis. Eu, Milena e os outros. Somos uma família. A mãe pode não ser a sua mãe biológica, mas ela te ama como filho. Considero-te um irmão. O que eu não tive. – abraçou o amigo e ficaram em silencio.  Após aquele momento, Luis a olha nos olhos e diz.
-Chega de choro. Vai estragar minha maquiagem. – sorriram. Era o modo de ele dizer que aquela tristeza havia passado. Momentaneamente.
-vamos, seu gay. A mãe esta terminando o almoço e a mana esta chegando.


Milena chegou pouco depois e foram almoçar. Claro que sua família notou seu ar alegre e resolveram perguntar.


-viu passarinho mana? – Dalila lançou.
-não. – preparava-se para a enxurrada de perguntas.
-então foi passarinha. – Luis soltou arrancando gargalhada dos ocupantes da mesa. Milena enrubesceu. Ponto para Luis.
-quando terminarem o almoço venham até a sala de consulta.


Lucimara caminhou até a sala reservada à consulta aos oráculos através dos búzios e das cartas de taro. Certificando-se de que a porta estava devidamente fechada, abriu um fundo falso no armário e retirou de La alguns livros. Uns já sem a capa encouraçada, outros em perfeito estado e um caderno com algumas anotações e rabiscos.

Sua herança começara a ser transmitida. Assim como lhe fora feito há anos atrás. Sentia que chegara a hora de compartilhar com suas sucessoras os ensinamentos antigos e alguns segredos. Alisava os livros em meio às recordações quando Milena bateu na porta chamando-a.


-entrem e sentem. – ambas em silencio obedeceram. – chegou a hora de vocês tomarem a responsabilidade do cargo que trazem.
-o que a senhora quer dizer? – Lila interrogou.
-quero dizer que a partir de hoje estarei passando todas as minhas funções e energias para minhas sucessoras. Minha missão esta quase concluída neste plano. Breve o Ile Axé Omin Iemanjá receberá as novas rainhas desse reino. Esta no sangue de vocês, não tem como fugir.

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