Romance - (Des)Encontros Amorosos - 3


3. A Famosa

Estou na companhia do meu insuperável vício; o café. A lua cheia brilhando no céu e iluminando o lago. Ah! Esqueci de falar que estou na chácara de Fafy. Um espaço cheio de árvores frondosas e um laguinho com alguns patos. É divertido ver Ajax, o vira-lata, fugindo dos patinhos.

Voltando ao lance da tatuagem. Primeiro, fui entender o que ela quis dizer com "alguém como eu". Obviamente, descobri. Sabe aquele revirar de olhos que a gente dá quando entende a merda?! Pois é! A bendita tinha verdadeiro horror a lésbicas. Sabe aquela hetero que não pode saber que tem uma sáfica no recinto que ela já acha que a moça em questão está na dela?! Se enxergava uma sapatão no campus, ela se esgueirava. Se tivesse qualquer coisa que pudesse escondê-la então... Só que Freud diz que tentamos recalcar aquilo que está em desacordo com valores morais vigentes na sociedade, com aquele desejo mais secreto. Aquele sentimento que "não deveria existir", aquela atração por pessoas do mesmo sexo que tentam esconder em baixo de camadas preconceituosas, em alguns casos.

Enfim, veio a brilhante ideia de fazer algo que despertasse a curiosidade dela ao mesmo tempo em que me identificasse na tribo - já que eu era pertencente à uma, segundo ela. Fiz algumas pesquisas, alguns estudos linguísticos e anatômicos porque a gente precisa saber sobre o traço de uma tatuadora, né?!

Entre tantas opções, escolhi a que mais me agradou. Principalmente pelo que pude obter de histórico. É um símbolo que foi usado por lésbicas separatistas na década de 70, remontando os matriarcados cretenses, da Grécia antiga. Tambem era usado como ferramenta de autodefesa e trabalho das comunidades de mulheres amazonas. Não fujam das aulas de História. Por toda a bagagem feminina e feminista por trás dela, fechei na ideia do Labrys. Decerto que eu não faria um simples machado de lâminas duplas. A linda e maravilhosa Ivy Simões, a tatuadora, conseguiu imprimir dois desejos em um que foi a junção do labrys e da borboleta, símbolo de transmutação.

Me lembro até hoje quando vi a expressão da dita, em um dia que a galera resolveu acampar perto de uma cachoeira e cai na água de roupa e tudo. O desenho é no pescoço, mas como estava muito frio, eu usava blusas de gola alta. Nesse dia, ela viu. Eu pensei que ela teria uma parada cardiorrespiratória. Sério!

 Acabei de receber uma olhada fulminante aqui. Depois da passagem dessa moça em minha vida, algo se quebrou. Me reservei no direito de não dar brecha a nenhuma outra pessoa no sentido romântico da coisa. Faço uma pausa para pedir desculpas para algumas moças que eu magoei direta ou indiretamente. Não foi intencional. Tem alguém aqui que esfrega na minha cara que no meu período de graduação, tive a oportunidade de passear por outras disciplinas e cursos.

Sou obrigada a concordar com ela. Primeiro porque na Federal daqui, você tem aula super cedo no Polo Norte e no meio da tarde, em Nárnia. Essa mobilidade permite conhecer pessoas de cursos variados. Sei muito sobre História, Filosofia, Direito e Educação Física. Tive algumas aulas práticas de Biologia e dei umas voltas nos prédios de Medicina. Ah! Sim. Tive várias aulas de operações aditivas e outras matemáticas, aprendi a Química que existe entre dois corpos e da Força Física de Atrito produzida pela fricção entre os corpos.

Foi uma época bem divertida. Durante esse período, eu descobri que alimentar -se de comidas não saudáveis e frituras em excesso pode prejudicar mais ainda uma saúde debilitada. E não saiam em jejum, okay?! Graduei-me com louvor. Algumas professoras me auxiliaram com estágios e recomendações. Dica de alguém que estudou muito para estar no topo momentâneo: absorva todo conhecimento possível. Mesmo que o mestre seja chato e/ou arrogante. Há um motivo para ele estar lá. Filtra o conteúdo e descarta a embalagem.


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