Nossa Forma de Amar - Capitulo IX


9 - Em Meio A Tempestade

Na redação do jornal Simone sorria enquanto girava sua cadeira. Imaginava a expressão de Milena ao ler o jornal. Quando seu chefe pediu que ela fosse cobrir o evento aceitou por tratar-se de uma sexta feira e ela estava querendo alguma diversão.

Ela convocou seu fiel escudeiro Roger para mais essa divertida “missão”. Já haviam fotografado tudo que precisariam para a matéria. Estavam agora se divertindo em seu joguinho particular; Quem Pegava Mais Mulheres.

A jornalista estava entretida com uma ruiva quando algo, ou melhor, alguém lhe chamou atenção. Milena andava distraída em meio a praça. Decidiu acompanha-la de longe. Viu quando ela parou e ficou conversando com uma senhora. Pelos trajes logo pensou ser uma cigana.

Logo após a partida da senhora uma mulher aproximou-se da sua ex. Viu como se olhavam e a intimidade que as circundavam. Pegou seu celular e procurava um ângulo entre as pessoas para tirar a foto do mais novo “casal” quando sentiu uma pontada ao ver Milena entregar uma rosa a outra. Tirou a foto e guardou, pensaria em como utiliza-la depois.
A noite havia perdido a graça para ela. Avisou a seu amigo que estava indo embora, mentiu sobre uma enxaqueca. Quando já tomava a direção de onde havia estacionado seu carro ouviu a voz da ruiva a lhe chamar.


-Esta cedo. Não vai agora não. – disse com um sorriso sedutor.
-poxa flor, bem que eu gostaria de ficar, mas estou sentindo uma dorzinha incomoda. – disse com uma careta de dor e um sorriso.


A ruiva aproximou-se em um gingado de virar a cabeça de qualquer um, seja homem ou mulher. Quando estavam a poucos centímetros inclinou-se e sussurrando no ouvido da outra disse.


-hum! Sabe, não sou médica, mas sou uma ótima enfermeira.  Posso ministrar um remédio infalível para essa sua dor.  – sorriu ao ver a pele morena arrepiar-se.
-acho que vou aceitar. – abriu a porta do carro e se dirigiram para um motel já conhecido de Simone.


Horas depois de um sexo selvagem com direito a “lembrancinhas” pelo corpo e já refeita, Simone examinava a foto em seu notebook. Estava terminando o artigo para enviar para o email da gráfica. Anexou a foto à matéria e enviou. Sabia se tratar de um golpe baixo, mas gostaria que Milena sentisse um pouquinho da dor que lhe causou. Desligou o note e dormiu ouvindo seu Jazz preferido e uma taça de vinho no criado mudo.



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Milena permanecia sentada aguardando uma palavra de Luiza. Esta assim terminou de ouvir a historia de sua até então pretendente, começou a andar pelo quarto. Se já era sabido que seus pais não aceitariam sua orientação sexual imagine agora que descobria as origens da amada.

Olhou a morena e viu angustia, medo e insegurança em seu olhar. Voltou a sentar-se na cama e olhando em seus olhos começou a falar.


-você tem noção da bomba que acabou de jogar em meu colo? Sabe o que isso significa? Nossa! Se já estava complicado por eu ser lésbica imagine agora por justamente me apaixonar pela filha da mãe de santo. Que mora na mesma rua que meus pais.


Milena que escutava tudo de cabeça baixa surpreendeu-se ao ouvir a palavra “apaixonada”. Sorriu timidamente a principio. Também havia se apaixonado pela outra. Lembrou-se das palavras da cigana. 

“Um segredo que carregas ameaça sua paz.” 

Enquanto não contasse a Luiza sobre sua historia não poderiam começar qualquer relacionamento, mas o seu lado emocional tinha medo de que após a revelação desse segredo elas se afastassem. 

“Não se preocupe, pois no tempo certo tudo se ajeitará.” 

Se a outra estivesse a seu lado poderiam enfrentar o mundo. Segurou as mãos de Luiza entre as suas e com a voz mansa de quem tem o dom da calma começou a falar.


-meu anjo, sei que pra ti será difícil principalmente por causa dos teus pais. Sei que será uma barra perante algumas pessoas. Mas sei também que juntas poderemos enfrentar tudo isto. Também estou apaixonada por ti e disposta a ajudar-te e apoiar-te em tudo. - beijou suas mãos e olhando em seus olhos reiniciou a fala. – desde o momento em que pus meus olhos em você desejei que fosse a mulher da minha vida. Sei que ainda é muito cedo para falar disso ainda mais nas atuais circunstancias, mas gostaria de pedir-te que me deixasse partilhar seus bons e ruins momentos. Ser a pessoa que te acalentasse quando algo lhe inquietasse. Aceitaria ser minha namorada?


Lagrimas de emoção vertiam dos olhos castanhos. Nunca em sua vida havia recebido um pedido de namoro tão doce como o que lhe fora feito minutos atrás. Não precisou pensar muito para dar a resposta.


-claro que aceito, minha flor. No momento só preciso de você.


Os rostos aproximaram-se para um beijo lento, terno. Um encaixe perfeito de bocas, mãos que acariciavam corpos timidamente. Ambas poderiam jurar que ouviam o badalar de sinos. Encerraram o beijo com vários selinhos e ficaram sorrindo com as testas coladas uma na outra.



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Longe dali em um cubículo qualquer, um homem de aspecto rude, deitado de forma desleixada, com a barba por fazer e com cheiro de bebida alcoólica lia a matéria e se perdia olhando aquela foto. Não gostara nenhum pouco da insinuação implícita no jornal. Já considerava a mulher sua propriedade sem nem ao menos ela aceitar ser sua esposa e não iria perdê-la. Nem para homem, tampouco para uma mulher.

Amassou o jornal e se concentrou no copo de uma cachaça qualquer. Desde o momento em que começou a trabalhar na obra daquela igreja conseguiu a confiança do pastor. Em sua frente era o genro perfeito. Desde que ouviu falar da filha deles começou a sonhar com a possibilidade. Certa vez viu um retrato dela e achou-a linda.

Seu pai, o pastor, fazia gosto do casamento deles. Ele também. Alem da filha almejava usufruir do patrimônio do sogro. Com a chegada dela pensou que ela poderia lançar algum olhar, mas logo viu sua relutância. Mas essa dela gostar de mulher era demais para seu brio de macho. De qualquer forma ela seria sua. Sorriu ingerindo o ultimo gole de sua cachaça.

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