Nossa Forma de Amar - Capitulo VIII


8 - Noticia Fresquinha


Uma claridade repentina invadiu o quarto de Milena junto com vozes que ela não conseguia distinguir. Aos poucos seus olhos iam focalizando na pessoa que andava no quarto gesticulando e falando de forma exasperada.


-entendeu Lena? – Dalila perguntava de forma preocupada.
-não sei nem o que você começou a dizer. Estou acordando ainda. – bocejou.
-pega esse jornal e leia.


Milena pegou o jornal procurando entre as colunas até que em uma das páginas na coluna Rolando Na Cidade leu sobre as programações festivas, mas o que roubou sua atenção foi à foto que estampava. Um momento de descontração entre ela e Luiza que se encaminhou para um clima romântico.

Na foto Milena segurava a rosa entre elas e se via no olhar e no sorriso de ambas que a áurea do romance pairava no ar. No final do texto dizia: As atrações da programação da Praça embalam a todos os casais, não importando sua orientação sexual. Viva o amor. Viva a diversidade. Matéria assinada por Simone Barros e creditos fotográficos de Roger Cruz.
Ao ler o nome da jornalista o sangue de Milena ferveu. Isso era uma clara provocação. Pensou se Luiza já havia lido o jornal e decidiu avisar-lhe. Procurou seu celular e discou.



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-Quem é que não pode nem deixar uma pessoa curtir seu resto de férias em paz. – resmungava Luiza ao ser acordada com o toque do celular.


Ao olhar o visor sorriu, mas logo seu cenho fechou-se. Algo em seu intimo avisou que essa ligação não traria boas noticias.


-Bom dia.
-Bom dia, flor. Já leu os jornais? – perguntou Milena em seu tom preocupado, sério.
-não, acabei de acordar.
-desculpe meu anjo, mas preciso que você leia.
-vou ver pelo tablet, qual jornal? – perguntava enquanto levantava da cama indo a escrivaninha pegar seu aparelho.


Digitou rapidamente e ia passando as reportagens até deparar-se com a foto e a matéria. Ficou indignada com a suposição sórdida da jornalista, mas ao olhar a foto viu o brilho de seu olhar. A cena que se apresentava o encanto que aparecia revelando seu poder.


-Lú? – chamou preocupada.
-estou aqui. Estava olhando a foto. Ai Deus do céu! Nem quero ver se meus pais viram o jornal. – passava a mão esfregando os cabelos desalinhados.


Nesse instante ouviu batida na porta e a voz de seu pai a chamando de forma alterada.


-Milena, preciso desligar. Acho que o estrago já aconteceu. Depois do tsunami te ligo. Beijos e obrigada por me avisar. – desligou e preparava-se para encarar os pais. Abriu a porta e foi para a sala onde sua mãe se encontrava no sofá com os olhos inchados, de certo por chorar ao olhar sua menina começou a falar.

-minha filha, eu e seu pai te criamos com todo amor. Demos educação, uma vida religiosa plena nos mandamentos do Senhor e tudo que outras crianças não tiveram. Por que você desviou dos desígnios de Deus? – falou apontando a foto do jornal.
-mãe, não me desviei de nada. Essa foto foi alguém que agiu de má fé. Eu estava apenas me divertindo com amigos. Não sei pra que esse estardalhaço. – Luiza pensava que os pais fizeram esse drama por causa de uma foto imagina se fosse algo verídico, concreto.


Jose andava pela sala imaginando uma forma de abafar essa historia que enredava sua filhinha. Tomou a decisão que julgava acertada e Luiza o obedeceria. Ele era seu pai, sabia o que seria melhor para seu bem.


-essa historia vai manchar sua honra e só tem um jeito de calar a boca desse povo. Agora mais do que nunca você vai aceitar Moises como seu pretendente.
-como é que é? – Luiza levantava da cadeira em um rompante após ter ouvido a “boa nova”. – de maneira nenhuma. Você não pode me obrigar a fazer algo que vai contra minha decisão.
-vou sim. Já disse que sou seu pai e enquanto eu viver você me deve obediência.
-respeito até pode ser, mas obediência não. Se não fiquei com a barriga no fogão como o senhor queria há anos atrás não seria agora que o faria. –pai e filha estavam frente a frente, olhos nos olhos e batimentos acelerados. – não vou me casar com um homem que apareceu do nada porque é desejo seu e já que não quer ter de ouvir o que o “povo” vai falar farei o favor de sair da sua casa. – saiu dando as costas ao pai indo arrumar suas malas.
-vai pra onde? Pra casa daquela desvirtuada que tirou você dos caminhos de Deus? Cuidado, pois o inferno é o lugar dos que pecam. Dos que não seguem a Palavra. – gritava a plenos pulmões.


Ao ouvir tais palavras que mais pareciam pragas proferidas por seu pai Luiza desabou em choro. Sua mãe entrou no quarto tentando dissuadi-la de sua ideia.


-filha, perdoa teu pai. Ele não diz por mal só queremos seu bem. Pensa um pouco.
-não há nada para pensar. Por agora vou para um hotel qualquer depois vou procurar um apartamento para alugar ou comprar. Não fico mais na casa de um pastor que se diz seguidor da palavra do Cristo e se mostra intolerante com sua filha por conta de alguém maldoso. Agora vou tomar um banho, pegar minhas coisas e vou sair daqui.


Nada mais Maria poderia fazer. Saiu do quarto chorando.



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-que Diabos! Desligado. – Milena andava pela casa tentando falar com Luiza.
-para pelo amor de Deus! Já estou tonta filha. Qualquer coisa ela te ligará.
-mãe, essa nota no jornal é o mínimo. Imagine quando ela souber de quem sou filha. Minha religião, meu legado. – jogava-se no sofá. – mãe, estou gostando mesmo dela e pela primeira vez tenho medo dela não me aceitar. – deitou sua cabeça no colo acalentador de sua mãe que fazia carinho enquanto falava.
-meu anjo, se ela realmente gostar de você terá de te aceitar como és.


Vendo a aflição de sua filha, Lucimara rezou e cantou a prece que em muitos momentos acalmou aquele ser doce que se encontrava encolhido no sofá tal qual uma criança desprotegida. Com sua voz suave trouxe o alento ao coração de Milena.


-...Eu pedi a mamãe que fizesse do nosso amor uma prece de pescador. Pra que nas esquinas da vida você seja saída pro meu amor, Mora... Mas se a tristeza tem dia, Tua força me guia meu caminho é o mar. E que me lancem as pedras Yemanjá faz areia pra não machucar...

Milena dormiu. Lucimara com cuidado deixou um travesseiro onde antes estava seu colo. Meia hora depois o celular de Milena tocava, despertando-a. Seu coração estava sereno. Algo que a acalmava era ouvir sua mãe cantar. Olhou o visor e viu o nome; Luiza.

-oi anjo.-Mile tem como você me encontrar? – perguntou ainda chorosa.-tem sim flor, onde?

 Luiza deu o endereço do hotel onde estava. Milena tomou um banho rápido e devido ao transito um pouco engarrafado chegou após uma hora no hotel. A morena já a esperava no saguão e de La seguiram a pé a uma praça próxima dali onde poderiam conversar.

-tive uma briga feia com meu pai e sai de casa.
-nossa! Como você esta? Precisa de algo?
-só de você comigo.

O sorriso de Milena se abriu ao ouvir essa declaração. Não pretendia se afastar dela, mas teria que ser totalmente sincera com ela. Teria que revelar as suas origens a ela. Seu semblante ficou sério e Luiza percebeu.

-preciso te contar algo importante.
-não vai me dizer que você tem mulher e filhos. – brincou para descontrair.
-não, não é isso. É algo sobre minha origem.
-diga-me. Prometo não julgar nada precipitadamente.

Respirando fundo Milena disse. – Minha família materna é do candomblé. Eu sou filha de uma mãe de santo. A que tem seu terreiro no final da rua onde seus pais moram.

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