Nossa Forma de Amar - Capitulo XV


15 - Senhora das Tempestades

Lucimara estava ajoelhada em frente ao seu pequeno altar rezando o terço quando as luzes apagaram-se. Um relâmpago cortou o céu iluminando o quarto.


-Epar hey Ya Mesan L’Orum! Valei-me Oyá, Senhora das Ventanias e Tempestades. Olha por teus filhos.


Uma brisa entrou através da janela e passou pelo quarto. Lucimara fechou os olhos para “ouvir” o que Oyá lhe dizia. Após alguns minutos no que parecia uma conversa silenciosa, ela levantou-se resoluta. Saiu pelos corredores à procura de algo.

Dalila e Luis estavam no quarto da jovem enrolados no cobertor e encolhidos a cada trovoada que se fazia ouvir. A maçaneta da porta girou e abriu-se lentamente fazendo com que os dois se olhassem e se abraçassem instintivamente. Lucimara entrou e não pode deixar de rir ao ver a expressão de assustado dos dois.


-Ave Maria! Eita povo de Oxossi para ser frouxo. Levantem e me sigam, vou precisar dos dois.
-Sim senhora. – responderam.


Já instalados na cozinha, acenderam os candeeiros. Herança deixada por sua avó e puseram mãos a obra. Dalila escolheu alguns quiabos enquanto Luis cortava as cebolas e Lucimara escolhia alguns camarões.

Alem dos candeeiros, os relâmpagos clareava a casa enquanto na cozinha algo era preparado. Após tudo pronto seguiram em ordem hierárquica em direção ao local destinado às oferendas.  Os relâmpagos tomavam formas no céu enquanto Lucimara e seus filhos andavam pelo terreiro em direção a um grande otá.

Enquanto os jovens arriavam as oferendas Lucimara cantava e rezava na língua ancestral. Quando já findava o ato cessaram as trovoadas e a chuva. Podendo ver nitidamente no ultimo relâmpago a cortar o céu as formas de um corpo feminino.

A oferenda foi aceita.

Os primeiros raios do sol invadiu o quarto de Milena e as encontrou dormindo abraçadas. Cada qual imersa em seus sonhos.


“Uma mulher a olhava a certa distancia. Em suas expressões trazia o ódio declarado, raiva, inveja. Quando pensou em aproximar-se um homem aparentando jovialidade e uma mulher com feições beirando os quarenta anos divisaram o caminho interferindo na intenção de tal mulher.

O local era outro, um sitio. Via senhoras cantando e dançando em uma língua desconhecida. Uma senhora aparentando setenta anos ou mais veio em sua direção sorridente. Seus olhos passearam pelo local tentando focalizar um rosto conhecido. De repente pararam em olhos expressivos e já conhecidos seus. Milena lhe sorria enquanto a senhora a conduzia até a cadeira onde sua amada estava sentada.”


Luiza acordou com uma sensação que não soube diferenciar durante a madrugada. Viu Milena dormindo profundamente aconchegou-se e voltou a ressonar.


“Luzes piscando, vozes femininas a conversar algo que não lhe chamava atenção. Uma gargalhada se fez ouvir perto. Ao virar-se espantou com o que via. Era ela. Sim. Não tinha duvidas de que era ela ou pelo menos muito se parecia.

-Não me teme? – a voz perguntou.

-Por que deveria? – respondeu com outra pergunta.

-Porque sou seu pior pesadelo e vou tirar o que tanto amas. – gargalhou desaparecendo tal qual fumaça no ar.”


Milena acordou com o susto e percebeu um peso gostoso sobre seu corpo. Olhou a morena que dormia sobre si, serena. Sorriu. Lembrou-se da noite anterior. Sentiu arder suas costas. Procurou o relógio e nele marcava 07h37min. Hora de levantar, mas estava tão bom. Começou a distribuir beijos pelo rosto de sua amada.


-Dorminhoca acorda.
-Hum! Que horas são?
-Já é tarde. O sol já raiou.


Luiza espreguiçou-se se assemelhando com uma felina manhosa acendendo o desejo de Milena apenas na troca de olhar. Antes que pudesse pensar em sair da cama a morena alta agarrou-a iniciando um beijo exigente que deu vazão a alguns orgasmos matinais.

Quando saíram da casa de Milena já estava perto do horário do almoço. Foram ao hotel pegar as coisas de Luiza e de lá passaram em um restaurante para almoçar. Na casa de Lucimara encontrava-se um reboliço por conta do temporal. O raio tinha atingido uma galha da arvore Iroko queimando um galho e dois de seus filhos estavam puxando-a para que a galha saísse sem precisar corta-la.


-Puxa Diego. Bote mais força nisso, homem.
-Estou puxando, mãe, mas esta difícil.
-Se fosse uma mulher ele puxava com mais força, mãe. – Implicou Luca.
-Venha puxar então. – Disse Diego descendo da escada dando espaço para Luca subir. Apesar de implicante às vezes, Luca também possuía força já que seu corpo era definido pela academia devido às horas de exercício que fazia. Mas diferente do seu irmão não usou a força e sim a inteligência. Viu que a galha não sairia se continuassem puxando então começou a gira-la em seu eixo provocando a quebra dela.
- agora puxe Diego. – disse enquanto descia calmamente ou como ele mesmo diria: Divando.

Comentários

  1. Senhora das minhas tempestades

    Ah Mae, peço-te licença para em teu nome poder fazer poema
    Não eu seja grandiosa nessa arte, mas é que hoje, despertaste em mim as tempestades.

    Um raio fulgura no céu, e o trovão ecoa em mim, explosão sem fim dos sentimentos tão confusos e presidiários daqui, coração
    Espasmos trêmulos de luz, que propaga-se incansavelmente e seduz, céu em cores e vozes aviva-se!

    Ah, são os ventos de norte e sul revira tudo de mim, amor
    Verga os bambus, levantas as folhas do cômodo chão, volvem-se, remexem, bailam fragmentos pelos ares. Agitam até a copa das arvores silenciosas.

    São os ventos e trovões que abalam até as rochas, tremem os troncos fincados ao aterro de ferro... o céu sacode e uiva além montes;

    Eu vacilo, retraio, hesito e me jogo ao teu abrigo, o coração palpita! E cada batida é o ecoar dos teus trovões. Tudo é tremor, até a terra rachar-se sob teu poder. E caímos, até teu sopro nos levitar outra vez.


    E no fim, o que vem é água... para lavar e deixar apenas o que for essencial e verídico. Depois o sol, para secar o que de ruim as águas do naufrágio levaram.

    O que agora espero, é a próxima tempestade!

    Manueli L. Dias, 2015


    (Amei esse capítulo! Estou ansiosa pelos próximos)

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    1. Moça,a senhorita fez um poema com base em algumas coisas relacionadas ao capitulo e entidade em si. Ficou lindo! A-DO-REI!

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