Nossa Forma de Amar - Capitulo X
10 - O Mensageiro
O recém-casal desfrutava abraçadas do
por do sol na varanda do quarto onde Luiza estava hospedada. Conversavam
banalidades e Milena brincava com seus dedos entre os de Luiza. A morena que
estava entre as pernas da mais alta virou perguntando-lhe.
-Mille, amanha vou começar a procurar
uma casa para comprar.
-Quer ajuda?
-Estava contando com sua
solidariedade. – sorriu.
-Quer dizer que você vai usar-me para
seus propósitos é? – começava a fazer-lhe cócegas.
Luiza tentava inutilmente se soltar
daquele abraço perigoso para sua cintura. Após pedir arrego e muitos beijos
como forma de pagamento Milena aceitou deixar a cintura da outra em paz,
momentaneamente.
-Anjo, estou com fome. O estresse com
meus pais me tirou o apetite, mas agora ele voltou.
-Então vamos sair para jantar. Tem
alguma preferência?
-Hum! Eu queria comer algo bem baiano.
Saudade da comida da terra.
-Já sei onde te levar. Perto do
escritório onde trabalho tem um barzinho que serve todo tipo de comida baiana.
-Então tomo um banho rápido e vamos.
-Posso ajudar-lhe nessa tão difícil
tarefa? – perguntou Milena em seu sorriso cafajeste.
-Hum! Quem sabe outro dia. Em 15
minutos estarei pronta.
A morena mais baixa cumpriu o que
disse e em quinze minutos estavam andando em direção ao Mercado do Peixe no
bairro do Rio Vermelho. Antes passaram em frente ao escritório onde Milena
trabalhava. Por ser fim de semana estava fechado. Isto a fez lembrar que
deveria se reapresentar na próxima semana já que o período que lhe foi
fornecido para o curso havia acabado.
Quando entrava no estabelecimento
Milena teve a impressão de estar sendo observada, após verificar com os olhos
ao redor pensou ser fruto de sua imaginação. Sentaram em uma mesa com visão
privilegiada e almoçaram em meio a sorrisos e descontrações.
Um homem de cor tão negra quanto o céu
de uma noite sem luar,com um cavanhaque no rosto, de porte elegante, alto, com
andar altivo e um perfume marcante entrou no recinto. Vestido em terno de
linho. Calça cinza claro, blusa cumprida vermelho vinho e palito também cinza
claro. Sapato social de couro preto brilhando de tão bem engraxado. Chapéu
dificultando olhar nos olhos da figura, um charuto na boca e uma bengala
prateada na mão.
Passou pela mesa do casal e sentou-se
próximo. Pediu uma dose do whisky Natu Nobilis e uma porção de camarão no alho
e óleo. E lá ficou uma hora ingeria um pouco de sua bebida outra hora dava uma
baforada no ar de seu charuto.
Luiza estava alheia a chegada do tal
homem, mas Milena sentiu algo diferente em seu intimo. Sentia como se já o
conhecesse. Antes de pagar a conta Luiza foi retocar a maquiagem. O homem em um
pulo ágil sentou no lugar agora vago antes que Milena pudesse respirar.
-Olá filha das águas. Há quanto tempo
não te vejo. – disse o homem em sua voz rouca quase sussurrando.
-Eu conheço o senhor?
-Hum! Provavelmente não, mas eu lhe
conheço bem.
-Quem é você e o que quer de mim?
-Sou seu guardião. Não vim me demorar,
só dar um aviso. Tudo no seu jardim foram flores, está na hora de você ser
testada com os espinhos. Um alguém já te disse isso, mas também disse pra não
ter medo. Você é filha das águas, por mais que tentem não conseguem aterrar o
oceano. – recolocou o chapéu na cabeça e se foi.
Luiza voltou a encontrando sentada com
o ar e pensamento distante, expressão preocupada.
-O que houve?
-Nada não. Vamos? Vou te deixar no
hotel e vou para casa.
-Sim.
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Luca deu duas batidas na porta do
quarto antes de entrar. Viu Lucimara sentada na cama com um porta retrato de
Milena e Dalila pequenas. Alisava-o rememorando os dias felizes que passaram
enquanto Rômulo ainda era vivo. A descoberta do câncer foi uma dor
profunda na família, saber que era incurável foi pior. Desse dia em diante ele
havia decidido dedicar o pouco de vida que lhe restava a família.
Passou o
comando da Associação ao vice-presidente e os últimos seis meses de sua vida
foram viajando por vários lugares. Quando chegou a hora de sua partida ele foi
sereno, sem dores nem sofrimento. Por ser um Babalorixá de fama conhecida e
respeitada foi enterrado com rituais e honrarias. Agora quando a saudade batia
era com as fotos e lembranças que seus entes tentavam supri-la.
-Licença Ya.
-Pode entrar filho.
-Tem uma moça dizendo que marcou hora
pra por a vista com a senhora.
-Onde ela esta?
-No barracão com Idalina. Já dei um
copo de água ela esta descansando.
-Que filho prestativo esse meu. –
falou dando um beijo na testa do rapaz que estava agachado a sua frente. – vou
tomar um banho rápido e em vinte minutos você a leva até o quarto de jogo.
-sim senhora.
Vinte e cinco minutos depois duas
batidas anunciava a chegada da senhora ao quarto reservado por Lucimara ao
atendimento de seus clientes. Após acomodar a mulher, Lucimara pegou seus
búzios e invocando Ifá, Deus da Adivinhação os jogou sobre a mesa forrada em
tecido branco com seu jogo de contas formando um circulo.
Na primeira caída os búzios estavam
fechados. Lucimara repetiu o processo pela segunda vez e novamente búzios
fechados. Mais uma vez e novamente búzios fechados. Silencio. Os búzios não
queriam falar. Levantou-se e deixando a mulher sem entender foi ao altar de
Iemanjá às pressas. Pouco instante depois voltou, sentou-se e repetiu o
processo. Os búzios alafiaram. Para seu alivio.
A consulta correu tranquila,
satisfatória para a jovem senhora que tinha ido saber noticias de saúde e amor.
Após sua saída Lucimara tornou jogar com o pensamento em sua filha e viu
provações em seu caminho. Jogou pensando nessa jovem cuja informação que tinha
era apenas o nome. Viu o encantado em seu ser. O Orixá menino que gente adulta
respeita, fruto do amor de Oxossi e Oxum; Logun Edé.
Por
isso minha menina caiu de amores. Quem não se apaixona por um filho do
encantado?!
Quando estava encerrando o jogo algo lhe foi atentado. Exu veio
à mesa falar que era preciso redobrar cuidados para uma tragédia não ocorrer.
Lucimara perguntou o que poderia acontecer, mas os búzios fecharam-se.
18 horas.
Ifá retirou-se. O jogo se encerra.
Nossa, eu fico mais empolgada a cada capítulo. Curiosa e apaixonada pelas meninas. Seu romance está cada vez melhor!
ResponderExcluirObrigada! Mutas águas rolarão em baixo dessa ponte.
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