Nossa Forma de Amar - Capitulo XI
11 - Quem Quer Faz, Quem Não Quer Manda.
Dois homens de aparência exótica e
expressões fechadas aguardavam uma terceira pessoa em um bar mais afastado da
cidade. Haviam recebido um telefonema uma semana antes os convocando a ir a
capital baiana reverem um velho amigo.
Não precisou esperar mais tempo, seu
anfitrião havia chegado. Levantaram-se para abraça-lo.
-Jeremias, Venâncio. Meus irmãos que
saudades de vocês.
-digo o mesmo Moises. Depois que
chegou nessa cidade nunca mais ligou pra nós.
-já comeram? Vamos sentar e pedir. Vou
contar como andam as coisas por aqui. E o povo de La já me esqueceu?
-os pais dela não, mas o delegado já
desistiu de lhe encontrar.
-garçom, trás o prato do dia, por
favor.
Numa cidadezinha no sertão baiano morava uma
família de lavradores. João, Maria das Dores e seus três filhos: Jeremias,
Moises e Venâncio. Todos trabalhavam na lavoura da família e aos sábados iam
vender na feira o que colhiam.
Em uma dessas idas, Moises se encantou com a
filha do vendedor de carnes. Ele tentava de todas as formas corteja-la, mas ela
parecia não ceder. O rapaz então passou a segui-la. Investigar o motivo de
tantos nãos que essa jovem lhe dava.
Morena dos cabelos castanhos encaracolados,
baixinha, com o corpo tipicamente de mestiça que era. Descendia de índios o que
dava o aspecto de dourado a sua pele. Dona de olhos verdes herdados dos avós
colonos holandeses. Adelaide era seu nome. Deixava vários rapazes enlouquecidos. Algum
deles de certo seria o namorado dela, pensava Moises.
Ledo engano. A jovem Adelaide não namorava
nenhum dos colonos, mas seu coração já estava preenchido por alguém especial
aos seus olhos. Perto da casa de seus pais morava uma senhora de
aproximadamente quarenta anos. Essa senhora possuía uma pequena venda e
comerciava de grãos mais variados a cachaças, sob encomenda fazia também doces
e havia contratado Adelaide como ajudante.
Na primeira semana trabalhando juntas
descobriram afinidades apesar da distancia entre idades. Nalva era uma mulher
que não aparentava a idade que tinha. Sempre bem cuidada e arrumada despertava
interesse em alguns homens da cidade mas todos sabiam que era viúva. E se
existia uma coisa tão sagrada quanto a Sagrada Família e o santo Padre Cícero
para aquela gente era sua superstição.
Diziam que quem ousasse namorar uma viúva
corria o serio risco de amanhecer vestindo um “paletó de madeira”. Os homens
corriam a léguas. Por mais que quisessem, o medo de morrer cedo era maior.
Nalva se divertia com essa historia e de certa forma era bom para seus planos.
Não pretendia envolver-se com homens. A viuvez foi algo pensado para justificar
a ausência de um marido.
Durante o dia as mulheres ficavam no
armarinho. Nalva no caixa e Adelaide atendendo, a tardezinha elas fechavam para
confecção dos doces. Numa dessas tardes acidentalmente Adelaide bateu as costas
em uma mesinha de madeira quando carregava as caixas com os frascos de vidro
para armazenar os doces.
-Ai! – disse a jovem depositando a caixa no
chão e colocando a mão no lugar que doía.
-O que houve? – Nalva descia a escada quando
ouviu seu grito.
-Me bati na mesa.
-Me deixa ver.
Quando Adelaide se virou na altura da cintura
estava arroxeado então colocou um gelo em cima para desinchar enquanto guardava
tudo e faria uma massagem na menina depois. Passado quinze minutos pediu que
ela fosse ao seu quarto e desabotoasse o vestido para passar uma pomada no
lugar.
A pele
dourada da jovem tinha um tom hipnotizante sob a luz do candeeiro. Nalva
começou a massagear o local e percebeu as reações do corpo da jovem.
Arrepiava-se e involuntariamente começou a emitir gemidos que no principio era
por causa da dor com o passar do tempo mostraram ser de excitação.
Encerrou a massagem, pois ver o que causava na
jovem estava deixando seu corpo aceso também. Dispensou a menina visto que já havia
acabado o serviço do dia. Quando a menina despediu-se e foi montada em sua
bicicleta para casa, Nalva deitou-se em sua cama. Abriu uma gaveta do criado
mudo e tirou um porta-retratos onde se viam duas mulheres sentadas sorrindo. O
alisou e abraçou.
-Marileide, como você faz falta. – assim
adormeceu.
Quando a jovem chegou a casa tomou um banho
gelado apesar do clima da cidade. Precisava esfriar os ânimos. Vinha sentindo
coisas estranhas pela sua amiga, coisas que deveria sentir por um rapaz. Mas
ela era tão delicada e atenciosa com ela. Tão doce que não tinha muito que
fazer para resistir.
Os dias que passaram foram de pequenos olhares
e toques descuidados para elas. Do lado de fora, um vulto observava e não
entendia o que acontecia. Numa noite chovia muito e Adelaide precisou dormir
lá. Nalva lhe arrumou um vestido antigo para que a outra vestisse. A chuva
aumentava a cada instante e começou a relampejar. As mulheres deitaram na cama
cada qual em um canto, mas o ronco de um trovão as fez abraçarem-se.
Permaneceram assim em silencio. Nalva fazia
carinhos nas costa da jovem mulher, esta apenas suspirava sentindo as caricias.
Em dado momento levantou-se olhando nos olhos da mais velha. Sem nada ser
pronunciado foram aproximando-se o beijo a principio tímido deu espaço a um
desejoso. Mãos exploravam os corpos retirando qualquer peça que possa servir
como empecilho para as peles tocarem-se. Sob o som dos trovões e a luz dos
relâmpagos se fazia pela primeira vez entre elas um doce amor. A menina
tornava-se mulher e a outra que jurava não mais amar descobria-se amando.
Depois daquela noite elas não foram mais as
mesmas. Por medo do preconceito das pessoas decidiram manter o que tinham em
segredo e durante as semanas seguintes elas conseguiram. Só não contavam que
estavam sendo observadas e em uma noite por descuido fizeram amor com as
cortinas abertas. Moises estava sentado em um tronco de jambeiro e viu tudo o
que ocorreu.
O homem ficou entre surpreso e transtornado. Jamais
imaginou que pudesse acontecer esse tipo de sem-vergonhice. Duas mulheres se
amando como se fossem homem e mulher? Isso era imundice, um absurdo. Coisa do
demônio. Elas precisam é de um exorcismo para tirar essa legião das trevas de
dentro de si.
Para ele era inconcebível que a jovem o
pudesse ter trocado por uma mulher. Foi embora calado, da mesma forma que
apareceu. Precisava pensar. No dia seguinte decidiu que visitaria os pais da
moça e assuntaria o que acontecia na casa. Conversou com os pais da moça e lhes
disse que desejava corteja-la. O senhor disse que só sua filha poderia dar essa
resposta. Moises saiu de La frustrado. A resposta ele já conhecia.
-Isso num vai ficar assim. - passou dias
pensando em como se vingar.
Se espalhasse para toda cidade poderiam
desmenti-lo ou mudarem-se. Ele queria algo que ela fosse obrigada a
lembrá-lo sempre. Uma marca. Teve uma
ideia, seria arriscado, mas faria. Esperou que elas fechassem o armarinho e se
dirigirem para os fundos da casa. Quando entraram ele apareceu forçando sua
passagem para que não fechassem a porta.
-O que você quer aqui? – perguntou Nalva ficando
entre Moises e Adelaide.
-Nada com você, rameira. Meu assunto é com
ela. Era por isso que você não me queria. Pra ficar se esfregando com mulher.
As mulheres instintivamente afastavam-se dele.
O olhar daquele rapaz transmitia ódio puro. Com a força que tinha empurrou
Nalva e pegou Adelaide segurando-a com o Maximo de força que tinha para que ela
não tentasse fugir. Prendeu-a na cama com tiras de lençol rasgado. Nalva tentou
defende-la batendo no rapaz com uma panela. Ele a desarmou derrubando-a. a
mulher ao cair bateu a cabeça.
-você agora vai saber o que é ter um homem de
verdade. – falou já abrindo o zíper de sua calça e suspendendo o vestido da
jovem.
-Me solta. Você acha que assim vai ter algum
afeto meu? Não vai. Só meu ódio. Socorro! Ajudem-me. – a jovem gritava a plenos
pulmões com a esperança de ser ouvida.
-cala sua boca, vagabunda. – deu um tapa na
jovem.
Quando se preparava para consumar o ato um
amontoado de gente que tinham escutado os gritos entraram na casa e viram o que
estava prestes a ocorrer. O rapaz pulou da janela e correu o mais rápido que
conseguiu enquanto as pessoas acudiam as mulheres. Alguns homens ainda tentaram
alcança-lo sem sucesso. Adelaide abraçava Nalva e chorava. A mulher mais velha
tentava acalma-la para irem à casa.
Quando contaram o ocorrido aos pais da menina
foram à delegacia fazer a ocorrência. O delegado mandou viaturas em busca do
homem na casa dos pais, mas ele já havia fugido. O delegado ainda deu uma busca
pela cidade. O rapaz se escondeu com a ajuda dos irmãos e de madrugada foi
embora.
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