Manuscrito - Parte II



Parte II



-É o projeto que você me falou?

O homem olhava para a maca e via ali um protótipo no mínimo curioso. As peças aparentavam ferrugem por conta dos anos que ficaram escondidas em uma das salas de um deposito de sucata robótica. Uma fibra sintética muito parecida com o tecido epitelial recobria as partes desnudas. As fibras do cabelo em tom castanho claro. Ludrick havia arranjado umas peças de roupa antiga para vestir a encomenda que consistiam em uma calça em tons verdes e uma camiseta branca. Junto com as roupas tinham dois protetores de ombro, uma braçadeira, uma proteção para o peito e um cinto de utilidades que incluía um punhal. Um fato em comum era que todos os objetos possuíam o emblema da Armada Russa.

Krish admirava seu novo brinquedinho. Por sorte, havia pego o minimizador de objetos antes de sair de seu alojamento. Efetuou o pagamento em minérios de Lítio, ativou o dispositivo e, após guardar sua joia, seguiu pelos dutos de Anderflix. 

Enquanto caminhava, encontrou ex-companheiros que desertaram da Corporação após voltarem da primeira batalha intergaláctica. Alguns perderam seus familiares, a exemplo do próprio Ludrick, que perdeu a esposa e o filho mais velho quando uma das aeronaves de combate aonde estavam foi implodida por um infiltrado da AR. 

A história da Corporação Cavendish e da Armada Russa são idênticas em sua criação, pois foram pensadas como grandes institutos avançados em tecnologia e exploração interplanetárias que tomaram proporções grandiosas. Chegando a assumir o poder de antigos governos tidos como potencias. 

Essa ascensão governamental pegou agências de espionagem de surpresa e houve a dissolução de muitas. Aos melhores foram feitas propostas de acordo com a importância de cada um dentro de seus países, e obviamente, o que eles sabiam de informações a nível sigiloso também era levado em consideração. 

Ainda atuando em junção, as principais instituições de tecnologia conseguiram encontrar um planeta com algumas características semelhantes ao planeta Terra. A partir das diferenças colocaram em prática o Projeto Anderflix que seria uma versão melhorada do planeta original. Graças aos avanços e investimentos tudo parecia correr como planejado. 

E após se certificarem de que poderiam ir levando os moradores a suas novas casas, o processo de mudança começou. Ao todo levaram dois anos e meio para que o ultimo terráqueo aportasse em Anderflix. A Terra original, já comprometida em muitos aspectos e deteriorada, foi explodida. Foi a nota emitida pelas corporações. Aos poucos, as pessoas se habituavam aquele novo lugar para chamar de lar. 

Quando a ordem parecia ter sido estabelecida, alguns agentes foram convidados a fazer um treinamento especial de aprimoramento das suas habilidades. O que eles nem desconfiavam era que em meio a sessões de exercícios e exames seriam implantados chips inibidores de memória. Eram as cobaias. Se desse certo, seria estendido para o resto da população. 

 Krish Smith tinha descendência inglesa em alguma parte do seu DNA. A outra parte era asiática, mas ela preferia não mencionar esse lado obscuro em seu passado. Seu pai adotivo era um dos chefes do setor de inovações da Cavendish e ensinou algumas coisas a filha. 

Foi acompanhando o pai que conheceu sua namorada, Kira Adamovich. Cientista, filha de russos e dona de cabelos extremamente loiros e olhos verdes profundos. Um esbarrão que custou um comunicador e um Palm Top, mas rendeu algumas horas de conserto, conversas, um encontro e uma noite tórrida de sexo. 
Passaram a se encontrar quando os horários de ambos permitiam. Descobriram afinidades e Kira mostrou alguns dos projetos que desenvolvia em parceria com o doutor Abraham Smith, incluindo uma máquina do tempo especifica para transportes de pequenos objetos que estavam aperfeiçoando para transportar pessoas; a menina dos olhos. O segredo mais bem guardado dos dois cientistas. Tanto a Corporação Cavendish quanto a Armada Russa proibiram seus colaboradores de desenvolver qualquer projeto neste intuito. Parece que viajar entre os séculos era "perigoso". 

- Oi, garota das invenções.-  Krish cumprimentou sua garota com um selinho após fechar o portão que dá acesso a um laboratório subterrâneo camuflado sob um riacho.
- Olá! Conseguiu o que te pedi? - Kira terminava de vestir uma blusa vermelha e arrumá-la dentro da calça.
- Foi muito difícil. O Ludrick me contou que está complicado sair com naves em missão não oficial. Mas... -retirou do bolso o objeto entregando a mulher. - Para que você quer uma elfa?! 
- Lembra do novo jogo de realidade virtual mitológica que está em fase de criação?! Vou colocá-la no jogo. Posteriormente, quando a transportadora estiver pronta, a usarei para testes.
-Não era mais prático que você criasse o seu androide?!
- Duas palavras: Norah Western. 
- Okay! Tem a marca da sua cirntista favorita em todos os universos. As câmeras de segurança estão funcionando?!
- Sim. Por quê? - perguntou enquanto vestia os capacitores e os conectava a mesa de jogos.
- Tive a mesma impressão de estar sendo seguida. 

Pegou uma garrafa de energético e um sanduíche. Sentou em uma mesa improvisada e passou a observar Kira interagindo no jogo. Ao acessar as imagens dos monitores percebeu ondulações estranhas como se fossem ondas de calor. Ativando o sensor térmico descobriu um grupo de homens armados. Acionou as armadilhas e junto a sua garota implantou um vírus nos computadores, pegaram as peças principais e fugiram por uma rota de fuga. Quando os homens invadiram o lugar não encontraram nada que lhes servissem.

- Fugiram. - um dos soldados verbalizou.                                                          
- Devem estar perto.                 

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