Manuscrito - Parte III



Parte III

Ollie acordou com a sensação de ter entornado todas as bebidas alcoólicas que não costuma ingerir. Sua cabeça pesava, não tinha nenhuma lembrança das últimas oito horas. Revivia apenas o momento em que estava jantando com Evellyn, a quase amiga colorida, em sua casa. Comentou com a mesma sobre o misterioso presente que recebeu e teve a impressão de ter visto uma ruga de preocupação aliada a curiosidade. Mas julgou não ser nada.
Elas haviam se conhecido quando a moça de longas madeixas negras e olhos castanhos expressivos havia sido designada para trabalhar junto a Ollie no departamento de informática de uma empresa do ramo da construção civil. Um lugar aonde mulheres eram tratadas como seres inferiores, apenas com a função de servir cafezinho ao chefe e levar cantadas estúpidas. Ela sentia-se um peixe fora d'água. Era como se uma parte de si realmente não fizesse conexão com aquele lugar. Sentia faltar algo ou alguém.  Houve simpatia e após algumas saídas, Evellyn beijou a outra. Não demorou muito para que se encontrassem emaranhadas em meio a lençóis. A partir de então tornaram-se um pouco mais do que apenas colegas de trabalho que eventualmente satisfazem seus desejos luxuriosos em maratonas sexuais.
Após um banho extremamente quente e revigorante, Ollie saiu pela casa em busca de sinais do pernoite da outra. Nada foi detectado pelo seu olhar. Em pé, próxima ao fogão, preparou seu precioso café. Puro e forte como sempre. Deu uma golada de olhos fechados e sorriu. Ao sentar-se na mesa do computador observou que ele estava em stand by. Conectou o pen drive, digitou a senha e se perdeu novamente naquele mundo.


- Verdammt. Schlacke einer Nation. Eu sabia que não poderia confiar. - Kira esbravejava enquanto fugiam pela rota de fuga previamente arranjada através dos dutos.
- Sim. São uns malditos e creio que a escória da nação. Concordo. O que pensa em fazer agora que o refúgio foi descoberto?
- Vamos para casa.

Já instaladas na casa da russa, Krish observava sua namorada remontando o transportador enquanto tentava contactar seu pai. O velho Smith havia desaparecido após ser procurado por um antigo companheiro de equipe da CC. Seu dispositivo de rastreamento indicava que o homem estava no centro tecnológico aonde trabalhava, mas não havia ninguém no local.

- Algo não está certo aqui. Meu pai não atende o dispositivo, tive a certeza de que vinham me perseguindo e o refúgio foi descoberto e, posteriormente, invadido. Preciso investigar.

A loira, que até então trabalhava em seu maquinário, olhou para a mulher ao seu lado. Deu um suspiro e expôs o que rondava seus pensamentos.

- Geliebte, sinto que, de alguma forma, as nossas não tão estimadas corporações estão por trás desses atos. Antes da Armada Russa me convidar a deixar seu quadro de cientistas oficiais, descobri um campo de testes que faziam todo tipo de experimentações, transportavam pequenos objetos e possuíam alguns projetos que incluíam uma máquina temporal. Por isso proibiram qualquer cientista de projetar a sua própria.
- Queriam a exclusividade.
-Isso! E sabiam que seu pai mantinha um certo contato comigo. Decerto, usaram esse implante que temos para nos rastrear. Se eles realmente pegaram seu pai só podem tê-lo levado para um local.
-A Torre Imperial.
- Tem ciência de que invadir a fortaleza é quase impossível, não é?!
- Sim. Por isso vou convidar alguém que conhece as falhas do lugar. - Trocaram um sorriso ansioso e alguns beijos.

A Torre Imperial era um prédio espelhado. Ele possuía cinco andares acima do solo aonde funcionava o sistema administrativo. A população regularmente era convocada até o local para averiguações rotineiras e manutenção do controle. Nos subsolos ficava a base militar e as câmaras de tortura para eventuais traidores. Fortemente guardada por homens e robôs armados, armadilhas e o ultra moderno sistema de vigilância.
A agente da Cavendish foi em busca de sua mala de armamentos enquanto falava com alguém através do comunicador. A cientista havia ido ao quarto que mantinha trancado, pegou duas capas e voltou a sala. Abriu e retirou as peças de maneira delicada no sofá. 
As armaduras foram desenvolvidas por ela combinando platina e ouro, criando uma liga metálica considerada cem vezes mais durável do que o aço da mais alta resistência. Podendo ser equiparada ao diamante e a safira no quesito resistência e desgaste. A loira passeava seus desos pelo frio metal de forma nostálgica. Havia abandonado as missões a campo, mas se daria esse último presente pela sua garota.
Assim que anoiteceu elas saíram. Como Anderflix não era um planeta não possuía a iluminação do sol tampouco um satélite natural como a lua. Toda sua luminosidade era artificial e durante a noite era enfraquecida. O que facilitava na locomoção das moças. Um pequeno reforço já as aguardavam em uma viela próxima a uma saída emergencial. Liderando os homens e mulheres estava o Coronel Manchester; Ludrick Manchester. Kira sorriu ao reencontrar um velho amigo mesmo em circunstâncias angustiantes.
Entraram em completo silêncio no local. Todos com armas em punho e alertas a qualquer tilintar. A cada sala avançada mais estranho ficava, pois não aparecia nenhum guarda ou robô e eles sabiam estar sendo monitorados. Ao chegarem a sala central, encontraram Smith preso e amordaçado dentro de uma cela blindada. Antes que pensassem, alguns disparos foram deflagrados na direção do grupo. Revidaram. Soldados invadiram a sala e houve uma intensa luta com baixas de ambos os lados. Quando Krish e Kira haviam conseguido abrir a cela e desamarrar o homem. Ele sussurrou antes de desmaiar.

- Eles tem planos terríveis. - olhando a loira, disse. - Funcionou. Podemos mandar objetos a outras dimensões. Eles queriam a chave de acesso, mas ela é preciosa demais. - tornou a olhar para a filha e desmaiou.

Quando carregavam o homem para sair daquele local, ouviram o grito desesperado de Ludrick.

- Cuidado! Atrás de vocês.

Um tiro foi disparado e o barulho de dois corpos caindo deixou o homem assustado.

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