O Amanhã a Deus Pertence - Capitulo XVI


16 - Amigos, extensão da família

Antônio Cássio estava decidindo entre perguntar sobre o jantar e sobre o motivo dessa repentina viagem. Sabia que para Ana querer voltar a origem, deveria ser algo que estivesse a incomodando profundamente.
Enquanto a olhava sentada e concentrada em sua leitura, o homem chegava a conclusão de que nada perguntaria. Esperaria seu tempo, como sempre. Passou a brincar no celular com um joguinho de pedras para distrair-se.

-Obrigada. – Ana depositou o livro no colo.
-Por? – Perguntou sem parar o que fazia.
-Não cobrar nada e aguardar meu tempo. Sei o nível da sua curiosidade, mas estou confusa. Não me recordo de ter estado assim antes. Prometo que contarei. Em breve.
-Eu sei. Vamos que seu voo já foi anunciado. – Andavam pelo saguão. – Quem irá te buscar?
-Patrícia.
-Que bobagem a minha perguntar, não? Claro que seria ela.
-O que queres dizer?
-Nada. Você finge não ver que ela é apaixonada por ti, mas quem sou eu para falar algo?!
-Não tens jeito. – Ambos riram e despediram-se.

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Depois de jantarem, Laura e Giuliana assistiram séries até que o sono as venceu. Horas depois, a italiana despertou. Refrescou o corpo e foi a cozinha em busca de algo para comer. Em seguida foi para o escritório e passou a acessar a internet. Em vários momentos olhou seu e-mail e o celular em busca de um sinal de vida. Um toque, uma mensagem de texto ou um simples Oi. Desistiu quando viu o passar das horas. Voltou para o aconchego de sua cama e dormiu.


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Em uma calça jeans preta, coturnos também negros, blusa social branca e blazer azul marinho, Patrícia andava pelo saguão do Aeroporto Humberto Delgado. O voo tinha atrasado alguns minutos e os passageiros já desembarcavam.
Assim que Ana a avistou, desceu a rampa em direção a mulher e abraçou-a. Além da evidente saudade tinha também a sensação de segurança que a mulher lhe trazia. Separaram-se após minutos que mais pareciam horas.

-Sei que desejas um banho relaxante acompanhado de um Porto, mas vamos em um lugar antes. Podemos?
-Estou a sua mercê, não?

As mulheres riam enquanto atravessavam o enorme saguão em direção ao carro de Patrícia. Enquanto atualizava Ana das boas novas de seus amigos, Patrícia dirigia pelas ruas quase desertas da cidade luso. Parou o carro em uma praça que costumavam frequentar antes do acidente de que vitimou o primeiro amor do coração da escritora.
Ana sentiu o impacto das lembranças junto a nostalgia e a saudade fez verter uma lágrima solitária de seus olhos. Sentada na sacada da mureta que dava a visão das águas oceânicas, Patrícia a chamou para uma conversa.

-Desde que ligastes a me pedir para encontrá-la, percebi tristeza em sua voz.
-Também tem um pouco de confusão. Aqui. – Apontou para a cabeça. – E aqui. – Pousou a mão no coração.
-Eu sempre soube que algum dia outra mulher conquistaria um espacinho aí. Sei também que Linda sempre terá. – Olhou as mãos de Ana brincando com as suas. – Eu sempre amei-te mesmo quando só tinha olhos para Deolinda. Vi na sua recuperação a chance de conquistar-te, mas via-me apenas como amiga então decidir usar outras armas.
-A sedução.
-Sim. E confesso que todos os nossos momentos foram maravilhosos.
-Não discordo. -Sorriram do gracejo.
-Mas eu sempre soube que era isso. Atração física. Carnal.
-Tens um lugar em meu peito. Eu gostaria de ter apaixonado-me por ti, mas não escolhemos. E peço-te que me desculpe se em algum momento dei-lhe a entender que eras uma mulher sem valor.
-Não há cobranças, nem motivo para desculpas. Só queria dizer que estou aqui para te aconselhar e te acompanhar no silêncio.
-Amo-te. Como amiga, mas amo-te. – Trocaram um abraço onde a amizade fortalecia-se.
-Vamos para sua casa. Vou aceitar uma taça de vinho enquanto contas tua história.
-Só uma taça?
-Vai depender da taça na qual me será servido o vinho. – O carro se pôs em movimento.

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