O Amanhã a Deus Pertence - Capitulo IX


9 - Privilégios


Laura não conseguia pensar em quem poderia ser a mulher que recebeu esse poema. Tantas gostariam de estar em seu lugar. Sabia que sua esposa era cobiçada por homens e mulheres, sua sorte era que no quesito fidelidade Giuliana era nota dez. Nunca teve motivos para desconfianças. Até agora.

Abriu as pastas e arquivos existentes no note e haviam convites para peças teatrais, shows, alguns e-books sobre arte e literatura. Já havia aberto quase todas as pastas restando apenas uma “ATN”. Não sabia o que poderia significar, mas ao clicar na pasta uma pequena caixa codificada apareceu pedindo que digitasse a senha.


-Que porra é essa? Por que senha em pasta? Deve ser aqui que ela guarda as fotos da piranha.

Pegou um copo de vidro que estava próximo de si e arremessou na parede espatifando-o e atraindo com o barulho a governanta e a empregada, que chegaram ofegantes da pequena corrida.


-Menina o que houve?
-Nada. Não houve nada. – Suas mãos tremiam levemente.
-Zenaide, por favor limpe esses estilhaços. Venha comigo pequena Laura.


Sem contestar Laura a seguiu até a varanda do quarto. Sentou-se na mesa e lágrimas silenciosas começaram a verter de seus olhos.


-Menina o que houve?
-Giuliana mandou um poema para outra mulher.
-Sua esposa? Duvido.
-Eu vi, Nieta. Ninguém me contou. Estava no computador dela a resposta da zinha qualquer. Perguntei e ela nem se deu ao trabalho de pensar em uma desculpa por mais deslavada que fosse. Ainda disse que vai conversar com meu terapeuta.
-Você está de alta. O que fará?
-Pagar o que o homem pedir para mentir.
-Menina... Estará mentindo mais uma vez para sua esposa em algo grave.
-Ela quer um filho e darei um filho.
-Laura!


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-Vocês se conhecem? – Antônio não entendia o que acontecia.
-Ontem nos esbarramos no shopping. – Ana quem respondeu.

Antônio pediu que a moça sentasse e pediu café e água a secretaria de Ana. Enquanto aguardavam o pedido, ele fez as apresentações formais.


-Giuliana Vanolli está é...
-Ana Bragança. Encantada em conhecê-la decentemente.
-Prazer. Então Antônio a que devo esse convite para uma reunião? Poderia me explicar?

A secretária deu duas batidas na porta anunciando a chegada com os pedidos. Antônio pegou a bandeja deixando na mesa. Cada um serviu-se e Ana começou a contar o motivo da reunião.


-Em resumo, preciso de um ilustrador talentoso para o livro e quando vi seu quadro decidi ali que não poderia ser outra pessoa que não fosse você.
-Sinto-me lisonjeada. Quando podemos começar? – A italiana perguntava de forma empolgada.
-Dado o avançar das horas acho por bem começarmos amanhã. Que tal?
-Concordo.

Giuliana pegou o bloco de papel e uma caneta que sempre andava em sua bolsa anotando seu número pessoal e do aplicativo de mensagens entregando nas mãos da luso-africana, que o guardou imediatamente em sua bolsa. Os três levantaram-se e caminharam em direção a saída do prédio. Giuliana olhava o ambiente imaginando como deveria ser aqueles espaços ocupados por pessoas de idades variadas.

Despediram-se com um “Até breve” e cada um seguiu seu destino. Giuliana dirigia pensando nos meandros da vida dando-lhe a oportunidade de encontrar a moça que originou seu poema. O poema. Lembrou- se da discussão que teve pela manhã com a esposa e se preparava psicologicamente para o segundo round enquanto estacionava o carro na garagem.

Ao entrar em casa espantou-se. As luzes estavam em baixa luminosidade. Na mesa de centro da sala um pequeno jantar para duas pessoas e Laura vestida em um vestido azul claro simples. Andaram ao encontro uma da outra e pararam quando faltavam poucos centímetros para que os corpos se tocassem.


-Boa noite, amor. Preparei essa pequena surpresa como pedido de desculpas por mais cedo. Vamos jantar.


Conduziu a italiana pela mão e sentou-se ao seu lado. O menu era comida japonesa que ambas gostavam. Conversaram sobre amenidades, sorriram de algumas besteiras e Giuliana contou resumidamente sobre seu dia. No fim, a notícia que Giuliana jamais pensou ouvir de sua esposa. Já estava conformando-se com a impossibilidade de seu querer.


-Acho que está na hora de eu ceder e pensar mais em nós.
-Como?
-Deixando um pouco meu egoísmo de lado.
-No que você andou pensando? -Giuliana ficou curiosa.
-Pensei em nós. Em tudo que vivemos até agora e no que poderemos viver. Nós três.
-Três?  Não estou entendendo aonde você quer chegar?
-Sim. Eu, você e nosso filho.
-Não vai me dizer que... – Um lento sorriso abria-se no rosto da italiana.
-Sim, aceito gerar nosso filho.

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