O Amanhã a Deus Pertence - Capitulo VII



7. A Flor da Pele

Giuliana ficou olhando um tempo a tela do computador, incrédula. Teria a oportunidade, caso ganhasse, de conhecer a mulher cujos livros e forma de escrever a encantaram. Abriu o editor de textos para tentar rabiscar algo, mas nada saía. Fechou o programa, marcou o e-mail como importante e desceu para preparar uma bandeja com algumas guloseimas.

Ao chegar à cozinha, encontrou Nieta terminando de organizar uma bandeja com sucos, bolos, torradas e frutas. Sorriu em agradecimento, guiando-a com cuidado. Colocou-a no criado-mudo e debruçou-se sobre a esposa fazendo um caminho de beijos em suas costas desnudas.





-Acorda, dorminhoca.

-Cansada, amor.

-Tudo bem. Se está cansada não irá querer levantar para provar tudo que trouxe.

-Comida?! – virou-se na cama, arrancando um sorriso da italiana.





Giuliana colocou a bandeja entre elas e, em meio a brincadeiras e beijos, provaram o café. O banho do casal foi demasiado demorado e bastante aproveitado por ambas. Após se arrumarem, desceram as escadas de mãos dadas, como nos primeiros anos do relacionamento. Havia uma energia boa entre elas naquele dia e Giuliana silenciosamente agradecia. Avisaram a governanta que iriam ao shopping e provavelmente almoçariam por lá.

Saíram na Hyundai HB20 preta da italiana. No aparelho do carro, uma seleção de músicas do gosto de ambas. Algumas músicas elas arriscavam trechos e danças desajeitadas causando risos. Cerca de dez minutos depois, chegavam ao Salvador Shopping para um dia diferente.

Assistiram alguns filmes no cinema, almoçaram em um dos restaurantes localizados no empreendimento, fizeram algumas compras e Laura foi ao salão. Giuliana seguiu em direção a uma joalheria em busca de uma joia que fosse singela, mas representasse seu sentimento pela esposa.

Uma vendedora simpática a atendeu e mostrou-lhe peças que possivelmente ela gostaria. Acabou optando por uma pulseira de ouro branco trabalhada com algumas sem joias. Pagou no cartão, enquanto aguardava a moça trazer a joia embalada.

Satisfeita com a aquisição, foi em direção a uma das lojas da Cacau Show e olhou as caixas de bombom trufado em busca do sabor que sua amada gostava. Naquele momento, estava havendo uma pequena degustação de um novo sabor e ela foi convidada com mais três pessoas para participar dessa degustação.





-Obrigada por terem aceitado participar da nossa brincadeira. – agradecia a promotora da loja. – São dois novos sabores: Chocolate meio amargo com menta e pimenta, que além do frescor causado pela menta, cria a combinação perfeita com o leve ardor da pimenta para aqueles que desejam esquentar o clima. Temos também o Chocolate meio amargo com menta e maracujá, que combina a refrescãncia da menta e o maracujá. Cada um vai olhar para a pessoa que está a sua frente e escolher o que acha que combina com a pessoa. Ela vai experimentar e dizer se aprova a escolha e o bombom. E vocês irão ganhar uma caixa com doze bombons desses sabores como brinde.





As duas primeiras pessoas eram um casal de namorados e escolheram a combinação de menta e maracujá, pois era a fruta que ambos gostavam. Era a vez de Giuliana escolher o bombom e ela, olhando aquela bela mulher negra dos olhos esmeraldas e um sorriso de canto a sua frente, não teve dúvidas.





-Chocolate meio amargo com menta e pimenta. – levou o bombom aos lábios da outra que fez questão de prender os dedos da moça levemente e depois soltá-los.

-Perfeito. – foi o adjetivo que Ana encontrou tanto para o sabor do bombom quanto para a moça que estava a sua frente. – Mas acho que para você seria chocolate meio amargo, menta e maracujá. Combina mais.

-Será? – Deu um sorriso brincalhão.

-Vamos descobrir. – Ofereceu o bombom a moça que o mordeu e fechou os olhos saboreando o doce.

-Maravilha. Mas ainda preferia a pimenta. – as moças riram.





A promotora percebeu o clima instalado no ar, mas teria de interrompê-lo para entregar os brindes. As duas moças sorriram em agradecimento e saíram da loja. Já em uma varanda apresentaram-se.





-Chamo-me Giuliana.

-Ana.





Apertaram as mãos e sentiram uma descarga elétrica passar pelos corpos. Sorriram e permaneceram naquela troca intensa de olhares. Um toque insistente as tirou daquela bolha. Giuliana atendeu o aparelho e, após falar brevemente com a pessoa na linha, desligou-o.





-Preciso ir. Foi um prazer conhecê-la, Ana.

-O prazer será todo nosso. – sorriu e piscou enquanto via a outra se afastando com um sorriso nos lábios. Ah! Se eu tivesse tempo para, de fato, conhecê-la. Giuliana. Bella donna.





Andando em direção ao salão, um sorriso diferenciado não saía do rosto da italiana. Dio! Não creio que justo hoje estava a flertar abertamente com uma mulher. E o que foi aquilo que me causou seu toque? Que mulher era aquela. Linda. Não me recordo de já ter visto tão bela mulher. Foco, Giuliana. És casada.





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Laura aguardava a esposa de maneira impaciente na recepção do salão. Olhou a esposa caminhar com um leve sorriso no rosto e cumprimentar algumas pessoas que passavam por ela. Seu ciúme adormecido começou a despertar lentamente. Havia parado de frequentar a terapia, mas não avisara a esposa por achar desnecessário. Quando Giuliana adentrou o estabelecimento, os olhares se voltaram para ela.





-Você está muito linda. Comprei esse chocolate para você. – deu a caixa de bombons de licor que eram os preferidos dela.

-Que lindo, amor.





Laura acariciou o rosto da esposa e beijou com tanto carinho que a italiana sentiu-se tocada. Muitos dos olhares que outrora pousados em Giuliana desviaram-se, outros não. Apenas haviam sido atiçados. O casal saiu da loja conversando amenidades.

Se dirigiram para casa, à noite ainda haveria um jantar. Para que não se atrasassem para o compromisso, arrumaram-se em quartos separados. Giuliana rapidamente aprontou-se em um vestido preto até a altura do joelho. Justo abaixo do busto e solto embaixo, dando-lhe um ar de "boneca", e nos pés um Arezzo também preto de salto médio.

Quando terminava de conferir mais uma vez o relógio, ouviu os passos de um salto aproximando-se. No topo da escada, estava Laura em seu vestido no tom azul marinho com alguns bordados, maquiagem básica e seu inseparável scarpin. Saíram em direção a um restaurante localizado na orla baiana.

A noite foi agradável para o casal, que jantou em meio a conversas, lembranças e juras. Laura vibrou radiante ao ver a joia que a esposa havia comprado. Em seu olhar se lia promessas de mais tarde recompensá-la.

O casal entrou em casa aos beijos. Os saltos ficaram pelo caminho. A empregada recolheria depois. Os vestidos voaram dos corpos e a noite foi regada a muitos prazeres. Giuliana sentiu sua esposa entregue ao momento da mesma forma que acontecia quando namoradas. Sorriu.





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Aqueles olhos verdes acompanhados de um sorriso. Ana. A prova do bombom na loja. Laura. O salão de beleza. O aperto de mão entre ela e Ana seguido de um sorriso. O sexo com Laura. Ana. Laura. As duas lhe sorriam enquanto pediam por um beijo.



Giuliana sentou-se na cama. Passou a mão no rosto e constatou que estava encharcada em suor e a garganta seca. Desceu até a cozinha e bebeu um copo de água natural. Perdeu o sono. Dirigiu-se para o ateliê com o notebook na mão. Reabriu o e-mail onde Tayó'Nilè anunciava seu concurso. Abriu o editor de textos e fechou os olhos por um instante. Abriu-os.





Esmeraldas tão pequenas quanto vivazes

Detentoras dos segredos do corpo de uma mulher

Feiticeira de minha'lma

Encantaste-me mesmo não sendo de teu querer.


Tua boca, tentação

Sorriso cristalino de quem aprontas

A voz tão suave

Que até o mais experiente dos marinheiros diria:

-És a sereia.


Ai daquele que por ela deixar-se encantar

O mar dos efêmeros amores o espera

Para consigo, ela se banhar.

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