O Amanhã a Deus Pertence - Capitulo X


10 - Noite das Bem Aventuranças


No carro, Ana tinha ativado o Bluetooth e conectado sua pasta de músicas portuguesas do celular para tocar no veículo. Pensava na real possibilidade de trabalhar com alguém que conseguiu transmitir em uma tela tanto sentimento. E além de talentosa era uma mulher muito bonita, inteligente e de humor leve. Pena que era casada, a aliança brilhava no dedo. Lembrou-se também de uma das candidatas que enviou-lhe o poema. Fiore Notte. Ah, doce Itália. 

A música latina instrumental que no momento era o toque de seu celular ressoava no carro tirando-a do planeta ao qual habitava. No painel do carro mostrava o nome “Antônio” e podia imaginar o motivo de tal ligação.


-Pois não?
-Ana Bragança, poderia explicar-me por que apresentastes desta forma?
-Ora, gajo. Gostaria de conhecê-la sem o peso que o sobrenome “Tayó’Nilè” poderia acarretar.
-Ela é casada.
-Uma pena. Realmente é uma pena.
-Invista na flor da noite. Quem sabe ela não te embriague com seu perfume.
-Ah, doce flor que me encanta com sua beleza. Pétalas macias causam-me torpor e teu perfume embriaga-me os sentidos de amor. – Gargalhou.
-Ótimo que está de bom humor. Pode ir me dizendo qual foto sua enviar para a gráfica.
-Nenhuma. Já conversamos sobre isso.
-Meu bem, você precisa deixar que seus fãs conheçam o rosto que dá vida ao nome.
-E já disse-lhe que vendemos meu trabalho, não minha imagem. Tenho traumas demais, não me peça algo que não poderei cumprir.
-Tudo bem. Te entendo e não forçarei sua pessoa.
-Obrigada. Quem desejar ver-me ou conhecer-me pode ir ao meu encontro nas divulgações dos livros.
-Nem todos podem ir. Depois falamos sobre isso.
-Amanhã nos falaremos. Estou entrando na casa dos meus pais.
-Jantar em família?
-Jantar em família.


Encerrou a ligação e acionou portão elétrico que dava acesso a garagem da casa de seus pais. Com cuidado estacionou o carro desligando-o. Era a noite do jantar em família. Hábito adquirido após sua volta definitiva para o Brasil.


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-Sério? – Giuliana não sabia o que dizer.
-Sim, meu bem. Teremos nossa criança.


Giuliana carregou a esposa rodopiando com a mesma no ar enquanto gargalhava de felicidade. Seu sonho de aumentar a família iria enfim se realizar. Desfrutaram do jantar em meio a planos. Marcariam com a ginecologista que cuidava de Laura para ver qual seria o tratamento mais adequado e todos os pormenores que aquela decisão implicava.

Brindaram ao início de uma nova era e fizeram amor de forma inédita para Laura. A esposa estava em um estado que conseguia irradiar todo sentimento bom e felicidade que sentia naquele ato. Cansadas e felizes dormiram.

Horas depois, o sol ainda não dava sinais de aparecer. A penumbra iluminada por pequenas luminárias estrelares conferiam um ar misterioso ao ambiente. Giuliana desceu até a cozinha em busca de algo para um lanche noturno encontrando pudim na geladeira.

Serviu-se um pouco e foi ao escritório. Precisava organizar o que apresentaria a Ana e seu editor. Ao ligar o computador fazia sempre o mesmo ritual. Sites de notícias ligados ao mundo das artes em geral, páginas de literatura lésbica e seus e-mails. Enquanto as pessoas normais começavam pela obrigação para depois a diversão, ela só funcionava ao contrário. Escolhia um poema, lia-o em voz alta e assim iniciava seus trabalhos e quadros. Olhava o site da sua escritora favorita quando viu um comunicado.


Olá, meus queridos

Venho trazer uma notícia por muitos esperada, o poema vencedor do concurso "Um Poema Por Dia". Confesso-vos que tive uma enorme dificuldade em minha missão,  pois eram simplesmente divinos. De uma delicadeza, mas teve um singelo e singular poema que arrebatou-me de tal forma que não houve espaço para nenhum outro.

E o nome da vencedora é Fiore Notte.
Entrarei em contato para combinarmos os pormenores.

Agradeço de coração a todos que participaram deste tão belo concurso e parabenizo a vencedora.
Em breve teremos novidades sobre o livro.

Ana Tayó'Nilè

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