Conto - Escrito Nas Estrelas


                                               
-Nem em almas gêmeas?
-Nada dessas besteiras.
-Como pode Liz, uma cigana, não acreditar em destino nem almas complementares?
-Não...

Eis que surge ela. Morena de andar altivo esbanjando beleza e leveza com seu jeito de caminhar. Passou pelas ciganas tão distraídas que nem reparou que uma delas não tirava os olhos de seu gingar. Virou a esquina e entrou na livraria,seu local de trabalho.

-Não o que?
-Não lembro... Não sei... De nada... Vamos?
-Sim.

Na livraria Flora irradiava felicidade o que não passou despercebido aos olhos de seus colegas de trabalho principalmente aos olhos de sua amiga Estefânia.

- qual o motivo de tamanha alegria?
-Não sei. Acordei feliz. Como se algo especial fosse acontecer.
-sei! Vou fingir que não tem dedo de mulher.
-não tem mesmo. Olha pra mim Ania. – virou a amiga de frente pra si. – você acha que iria mentir pra você?
-me deixa pensar?! – Estefânia sorria. – não, você não mente pra mim.
-então... Não sei o que é,simplesmente é.

Do outro lado da cidade Liz caminhava pelo jardim de sua casa pensando na jovem que havia visto.
Uma flor rara nesse jardim. Fascinante. – Pensava até ser interrompida.

-Lizandra Montagner, onde está com a cabeça?
-Nas nuvens tia Christina. – Respondeu Guadalupe passando  pela tia dando-lhe um beijo no rosto.
-desculpe madre, estava pensando na vida.
-acho que sei o motivo tia.
-Lupe mantenha sua boca fechada ou então...
-Já me calei.
-Liz você sabe que seu pai receberá os Martinez para um jantar.
-sim mãe, serei educada. Prometo.
-é o mínimo que espero de você minha flor. Mas vim te lembrar por outro motivo.
-eles têm uma filha né tia?
-ah então é isso. Estão com medo de que eu agarre a menina a força. – Liz riu da própria ideia.
-Lizandra, por favor! Seu pai quer fechar negócios com essa família. Mantenha a sua condição, opção, ou seja, La o que for em discrição por favor.
-farei o que me pede com uma condição.
-...
-logo após esse jantar vou sair.
-qual destino?
-sem perguntas.
-tem a minha palavra.

Marco Martinez estava na biblioteca da casa resolvendo algumas pendências da livraria quando sua esposa avisou que sua filha havia chegado.

-por favor, Selena traga ate mim.
-não precisa já estou aqui.
-hoje à noite tenho um jantar na casa de Esteban Montagner e gostaria da família toda.
-não gosto desses jantares de negócios. Ainda lembro-me do ultimo.
-prometo que não mais ocorrerá.

Às 20 horas a campainha dos Montagner tocou. Tereza, a governanta, abriu a porta. Esteban e Christina os esperavam na sala de visitas. Da janela do segundo andar Lizandra via a movimentação. Viu um vulto com curvas femininas passar deixando escapar um sorriso maroto, mas logo se lembrou da promessa feita a sua mãe. Terminou de arrumar-se e Lupe irrompeu porta adentro.

-já chegaram!
-eu vi daqui.
-então...
-o que?
-ela é linda?
-não deu pra ver.
-desce e descobre.
-esse é o meu medo.
-de gostar dela? Você esta com medo de mulher agora?
-não é isso. Estou cansada de brincar. Cansada de futilidades. De mulheres vazias.
-já estava na hora Liz. Você vai encontrar sua alma gêmea e ...
-La vem você de novo. Chega desse papo e vamos descer.

Os homens estavam conversando sobre negócios e as mulheres sobre o “difícil oficio de ser dona de casa”. Flora sentia-se solitária e resolveu andar pelo jardim sem que ninguém notasse sua saída. Sentou-se em um banco perto do lago e ficou a admirar a lua.
As primas desceram juntas e cumprimentaram a todos. Os olhos de Liz correram pela sala em busca da jovem. Seu pai as chamou para conhecer os convidados.

-esta é minha filha Lizandra e minha sobrinha Guadalupe.
-encantado, sou Marco e aquela é minha esposa Selena. Nossa filha Flora deve ter ido ao toalete.

Enquanto Lupe foi conversar com a tia e Selena, Liz saiu discretamente para o jardim. Adorava olhar as estrelas. Quando se aproximava do lago viu aquela silhueta feminina sentada admirando a noite. Ficou a observar sua beleza e sentiu seu coração descompassar. Flora sentiu uma presença e virou-se. Deparando-se com dois lindos olhos negros que a enfeitiçaram. Ambas ficaram paralisadas. Flora levantou-se e caminhava em direção a jovem que na mesma sintonia avançava em sua direção.
Param a poucos centímetros e sentem a respiração uma da outra. Encaram-se numa conversa muda entre olhares. Tudo que precisa ser dito é falado no mais completo silencio. E entendido. E confirmado. Uma muda proposta é selada.

-Flora. – Liz. – dizem seus nomes ao mesmo tempo e sorriem.
-eu sou a Flora.
-Lizandra, mas pode chamar de Liz.
-como nunca te encontrei antes.
-talvez não fosse o momento.
As mãos se entrelaçaram sem que percebessem e assim voltaram para a casa. Quando chegaram a sala as famílias disfarçaram a surpresa ante a visão, mas nada falaram. Lupe sorriu ao lembrar-se que ela era a jovem que passou pelas duas mais cedo. O jantar correu tranquilo e o negocio foi fechado com sucesso. As jovens despediram-se com a promessa de um novo encontro. Liz preparava-se para dormir quando Lupe entra em seu quarto.

-não se bate mais na porta nessa casa. – implicava com a prima.
-sinto ares de romance.
-jura? Não me diga! – Liz gargalhava enquanto faziam uma pequena guerra de travesseiros. – é ela.
-como sabe?
-não sei. Meu coração que disse. Quando a vi passar de manhã foi como se meus instintos apontassem pra ela.
-ela sente o mesmo por ti.
-como sabe? – Liz questionou sentando-se em frente a sua varanda.
-estava escrito.
-escrito nas estrelas.

                                                 Fim...

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