Nossa Forma de Amar - Capitulo VII


7 - Quase...

A troca de olhares e o sorriso estampado deixa explícito que há empatia e porque não dizer que há química?! Milena toma a iniciativa e iniciar a conversa.


-vamos escolher uma mesa no bar. Ouvi rumores que haverá show hoje.
-sim. Parece que o prefeito esta fazendo mudanças na cidade e para atrair os turistas fez essa programação.
-bom pra quem quer paquerar. – o sorriso denunciava as intenções de Milena.


Luiza balançou a cabeça imaginando o quanto sua “pretendente” poderia ser persuasiva e insistente. Entraram em um restaurante aconchegante perto do palco montado. Este restaurante tinha dois andares e no andar de cima foram dispostas algumas mesas nas varandas do casarão que na época da vinda da família real portuguesa abrigou alguns monarcas.
Sentaram-se e pediram as entradas enquanto descobriam gostos e afinidades. Enquanto bebericava um suco de uva, Milena pedia a jovem a sua frente que lhe contasse um pouco de si.


-deixa-me ver. Sou filha de pais conservadores, religiosos e que achavam que lugar de mulher era na cozinha sendo mandada pelo marido.
- nossa! Deve ter sido complicado. “Mais complicado irá ficar quando ela souber de quem sou filha.”
-um pouco. Tive que sair de casa se quisesse fazer faculdade. São Paulo.


Nesse instante o garçom trouxe os pratos. Após servir a mesa e se retirar, continuaram a conversa.


-longe, levando em consideração que deverias ter recém completado os 18 anos.
-hoje quando penso nisso vejo que foi um salto muito grande, mas já estava com matricula e lugar para ficar só precisaria arranjar um jeito de me manter.
-você não tinha nenhuma economia guardada?
-ter eu tinha, mas com despesas com passagem e aluguel do quarto onde fiquei sobrou pouco. Então fiz uma seleção e passei para trabalhar como operadora de telemarketing.
-Hum! Então quer dizer que em uma das vezes que solicitei o serviço em meu celular posso ter falado contigo? Seria possível que eu esqueceria uma voz tão doce como a sua? – Milena perguntou em seu modo sedutor.
-você é sempre assim? – sorria uma Luiza alegre.
-assim como? Divertida? Extrovertida? Alto astral?
-Não. Sedutora. Paqueradora. Sempre achando uma forma de me deixar desconcertada.
-Poxa! Não sei se sou isso tudo que você falou, mas já que te deixo assim vou parar. – falou com a carinha meio triste. O olhar de gato quando quer carinho que derreteu qualquer tentativa de Luiza de mostrar-se difícil diante de tanto charme.
-ta bom. Pode continuar com seu charme.
-confessa que você gosta. Nem que seja um pouquinho. – arqueava suas sobrancelhas de forma brincalhona com um sorriso de lado.
-eu nego. Não falarei nem sob tortura. – bebeu o vinho que estava em sua taça.
-e sob prazer será que fala?
-noite linda, não?! – Luiza desconversara. A verdade é que sentiu um arrepio ao imaginar as formas de “tortura” que poderia sofrer naquelas suaves e macias mãos.
-sim. Tão linda quanto você. – ela gostou da ideia. Ponto pra mim. Vamos ver se ela aguenta. - Daqui a pouco o show começará. Quer ir até a praça?
-vamos. Mas não me contaste nada sobre ti.
-sou igual à esfinge: decifra-me ou devoro-te. – gargalhou levantando e sendo seguida por Luiza.


Na praça as pessoas aos poucos se aglomeravam perto do palco. Uma banda pouco conhecida cantava algumas musicas antigas alegres e outras românticas para os casais que ali estavam. As duas jovens passeavam entre as pessoas, olhando os arredores. Luiza a muito não se lembrava de como era sua cidade natal, já Milena não se encantava de admirar a cidade que tanto amava.

Poderiam morar anos fora de seu país, mas seu amor sempre seria a cidade onde nasceu. Seus casarões antigos e ruas de pedraria portuguesa que contam a historia de um país tão rico em cultura e diversidade. Conta também a historia dos seus antepassados. Sua família materna, descendente direta de escravos. Sua herança, seu orgulho.

Em meio a tantos vendedores Milena deparou-se com uma velha cigana e sua cesta cheia de flores, incensos e fitas. Pediu-lhe uma moeda em troca de ler sua mão. Deu-lhe a moeda estendendo a mão. Após olhar atentamente a senhora levantou seu olhar pousando diretamente no da jovem.


-tu desconhecias o amor e lhe foi presenteada com um. Mas para entendê-lo e aceitar terá que abrir mão de algo que julgas precioso. Um segredo que carregas ameaça sua paz. Não se preocupe, pois no tempo certo tudo se ajeitará. Mas tenha cuidado, para dois sorrirem um terá de chorar. A rejeição é algo perigoso, um sentimento forte e nem todos sabem controlar. – tirou uma rosa do cesto e entregou-lhe seguindo seu caminho.


Milena meditava sobre o que a cigana havia lhe dito. O que seria essa preciosidade? Ao invés de ajudar sua mente já confusa trouxe mais duvidas. Mas decidiu seguir o que ela disse. Deixar que o tempo se encarregasse.  Estava tão absorta que não sentiu a aproximação de Luiza. Esta lhe tapou os olhos com a mão e brincando falou.


- um beijo se adivinhar quem sou.
-Nossa! É tão difícil... – sorria Milena enquanto tentava virar naquele abraço. – vou arriscar um palpite pode ser? – perguntou divertida.
-aham!
-acho que é a mulher mais linda, doce, suave e com a voz mais marcante que conheci dentro de um avião, com medo e que prontamente ofereci-me para segurar suas mãos. Luiza. – disse desvendando seus olhos e encarando-se. – meu premio? – perguntou já avançando lentamente em sua direção.
-o show principal vai começar. Vamos para perto do palco. – Luiza saiu puxando-a. não teve outro jeito senão ir.



A cantora relembrava algumas musicas românticas de artistas da terra. Luiza não sabia todas as letras, mas isso não estragava sua diversão. Vez ou outra olhava Milena que parecia um pouco mais séria. Em um determinado momento a morena a puxou para dançar com ela. Em seu ouvido cantarolava um trecho da musica.


-Quando eu te vejo, paro logo em teu olhar. O meu desejo é que eu possa te beijar. Sentir seu corpo, me abrigar em seu calor. Pois o que eu quero é ganhar o seu amor. Eu fico assim querendo o seu prazer. Eu não consigo um minuto sem te ver. Sua presença alegra meu coração e é pra você que eu canto essa canção...



Enquanto cantava seus rostos foram virando e ficaram a poucos centímetros. Olhos nos olhos evidenciando o desejo de consumar o ato. As mãos que passeavam pelas costas, os corpos dançando ritmados. A lua cheia que clareava o céu iluminando os casais, a voz da cantora embalando esse momento. O clima de romance que havia se instaurado no ar. Cenário perfeito para o primeiro beijo.

Já estavam a centímetros, os olhos começavam a fechar, o coração a disparar. De repente, o som de aplausos e assovios as tirara do transe quase hipnótico que se encontravam. Milena entregou-lhe a rosa depois de depositar seu beijo na mesma. Luiza viu que já estava ficando tarde, precisava ir.


-quando irei te ver novamente?
-quando você quiser. Não gostaria que fosse. Ainda esta cedo.
-realmente preciso ir linda. Vamos nos falando pelo telefone. Pode ser? – fez um carinho suave no rosto de Milena e descobriu como acalmaria a fera.
-já que não tem jeito né?! Vamos então. Dividimos o taxi.


No trajeto foram conversando amenidades. Quando chegou na porta da morena, Luiza despediu-se dando-lhe um beijo na bochecha e sussurrando um “Me liga antes de dormir.”. Saiu deixando uma Milena sorrindo feito boba. Chegou em casa tão feliz que nem se importou com as perguntas indiscretas de Luca.


-sinto cheiro de romance no ar e essa ali foi flechada pelo cupido. – o jovem rapaz comentou com Dalila e Lucimara.
Só espero que não seja a filha do pastor. Haverá muito sofrimento caso minha suspeita se confirme. – Lucimara pensava enquanto assistia televisão.



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Luiza abriu a porta fazendo o mínimo possível de barulho. Não gostaria de ter que lidar com seus pais tampouco o irmão Moises. Pensar naquele homem dava-lhe arrepios. Passou pela cozinha pegando uma maçã. Chegou ao quarto retirando sua roupa para banhar-se.  Antes de direcionar-se ao banho seu celular apitou com a chegada de uma mensagem.


Noite agradável com uma companhia tão linda. Pena que acabou tão cedo.”


Sorriu e respondeu.


Haverá outras. Mais duradouras e tão ou mais prazerosas.”


Milena que já havia se banhado e agora se encontrava pronta para dormir sorriu e replicou.


“Meus sonhos serão povoados destes desejos. Boa noite flor dorme bem.”


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