Nossa Forma de Amar - Capitulo LII (Último)


52 – Epilogo

Canto da Sereia – Marisa Monte

Cantando Para Oxalá – Xire Alagbe


Um ano e Dois meses depois...

-Amor vamos logo. – uma Simone impaciente chamava sua esposa.
-Me voy, cariño. – Rúbia andava com um pouco de dificuldade devido à barriga de cinco meses fruto de um desejo em comum de ser mãe e uma inseminação de um doador anônimo. – ajuda. – falou entregando as sacolas para colocar no carro. – Podemos ir.
-Vamos que daqui até Barreiras é muita estrada. Ainda acho que você não deveria ir.
-Claro que vou. É aniversário da minha sogra. – falava enquanto sentava no banco do carona.

Depois de seis meses que os pais a tinham visitado, Simone tomou a iniciativa de procurar os pais. Voltou à cidadezinha e depois de outra longa conversa, choro e risos decidiram dar outra chance ao relacionamento familiar. Pouco mais de cinco meses depois Antero faleceu sendo sepultado na capela da cidade.

Simone pediu Rúbia em casamento. Já moravam juntas então apenas oficializaram. Em uma noite quente depois de horas de intenso prazer entre elas ainda acariciando as mechas de cabelo da espanhola
Simone iniciou uma conversa.

-Amor?
-Hola.
-E se a gente tivesse um filho? – Rúbia levantou-se do seu corpo e Simone pensou ter falado besteira. – Mas não é nada forçado, só... – Rúbia silenciou-a com dois dedos.

O sorriso estampava seu rosto, a resposta era afirmativa. Seriam mães. Procuraram um médico iniciando o tratamento, uma clinica onde escolheram doador com algumas características da jornalista e logo na primeira tentativa a fertilização foi positiva. Dali a nove meses, uma criança nasceria Rúbia não sabia, mas em breve seria a genitora do seu amigo e mentor. Augusto escolheu voltar ao plano dos humanos naquele seio familiar.

Simone dedicou-se com afinco a contar a historia da Zeladora de orixás mais sábia que um dia teve a honra de conhecer e suas filhas em um livro com lançamento já marcado. Só que para isso teve de usar sua argumentação para convencer Dalila a dar essa chance e mostrar que realmente havia mudado.


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Algumas Semanas Depois...

-Esse é o meu testemunho irmãos. Amem ao próximo, pois esse foi o mandamento que o Cristo nos deixou. – os fieis glorificavam enquanto Maria, ou melhor, Pastora Maria encerrava seu culto.
-Mãe, a senhora nasceu para isso.
-Que nada, filha. Só estou ajudando esse povo a se encontrar.
-Deixa eu ir, mãezinha. Daqui a meia hora começa a festa de reabertura do terreiro. Dá um beijo no pai.


Após o AVC o homem se viu dependente de todos. Vivia sempre ranzinza e mal educado. Com o tempo, amor e cuidado por parte da esposa e dos filhos, já que agora Luiza e Samuel conviviam Jose começou a ser mais tolerante e menos rabugento. Entendeu que aqueles o amavam e não o tratavam com pena. Luiza saiu apressada andando em direção ao final da rua.

Depois de um ano de luto o Ile Asé Omim Iemanjá reabria suas portas sob a responsabilidade da agora Iyalorixá Milena Ty Iemanjá e sua Iya Kekere Dalila Ty Oxossi. O barracão e a entrada do terreiro estavam enfeitados com bandeirolas brancas.

As irmãs decidiram de comum acordo reabrir a casa com uma cerimônia simples para Oxalá, o Senhor do branco e da paz. Trajando roupas consideradas simples para quem as visse em suas saias, batas e pano da costa de rechilieu bordados a mãos em fio prateado. Cada uma segurando seu adjá e aguardando a hora da entrada.


-Como se sente? – Dalila perguntava enquanto enxugava uma lagrima.
-Não Sei. Um misto de sentimentos em meu peito. Saudade, nostalgia, alegria e felicidade.
-Será que a mãe aprovou?

Antes que pudesse responder o som dos atabaques soava. Todos aqueles que foram prestigiá-las ficaram encantados ao presenciar a entrada e a posse das irmãs em uma cadeira única, encomendada por elas em tamanho e espessura para duas pessoas sentarem-se juntas.

Duas rainhas dividiriam o mesmo reino e a mesma coroa. Esse era o desejo de sua mãe e assim seria feito. O terreiro estava cheio de amigos e convidados. Um cântico para puxar as novas Iyalorixás foi cantado e o coro respondia na medida em que os toques aumentavam. Enquanto dançavam alguns convidados viram uma luz branca envolver as jovens e irradiar deixando a sensação de acolhimento.

De alguma forma as irmãs sabiam que sua mãe sempre estaria as protegendo. Os convidados viam as irmãs dançarem exuberantes. Luiza via sua namorada vestida com as indumentárias características pela primeira vez e definitivamente o conjunto da obra estava perfeito. A reinauguração foi um sucesso e teve a cobertura da imprensa em especial da editora chefa de uma revista cultural Simone Barros e sua esposa com um lindo barrigão. Milena sorriu ao sentir a áurea de felicidade em torno do casal, desejou que Simone fosse realmente feliz. E ela estava sendo.


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Um Mês Depois...


As 19horas do vigésimo terceiro dia de um mês que trazia um pouco do frio do inverno, em uma sala preparada especialmente no shopping mais conhecido da cidade alguns convidados incluindo Milena e sua noiva Luiza, Dalila e seu namorado, Harley, professor de história estavam presentes a espera da autora.

Simone chegou pedindo desculpas pelo atraso, mas grávidas requeriam cuidados. Milena sorriu ante a troca de olhares que presenciou. A jornalista fez um breve agradecimento a família que disponibilizou alguns dados e começou a falar sobre o livro.


-Há um tempo, procurei dona Lucimara para fazer um livro sobre a história do Omim Iemanjá e da Associação. Ela aceitou meio reticente. Pois sabia que era uma artimanha para ficar rondando a filha dela. – sorriu com esse comentário. Milena encolheu-se atrás da irmã. - Corri atrás de informações, pessoas, dadas e reuni muitas coisas interessantes. Só que a historia de vida da Lucimara já era digna de um livro e mais uma vez com autorização da família pude contar a historia de uma filha de Iemanjá que recebeu seu cargo e sua missão das mãos de um caboclo, veio para a cidade em busca de uma informação e encontrou um amor, fundou um terreiro, acolheu pessoas que sequer conhecia e formou uma grande família baseada no amor aos orixás e respeito ao próximo. Criou duas filhas sendo que uma delas já foi minha namorada. – todos sorriram. – E o principal. Deixou um legado de amor e sabedoria. Encanto das Águas – Sabedoria Em Forma de Mãe é a história de uma guerreira e está nas melhores livrarias. – todos aplaudiram e logo os autógrafos começaram a serem dados.


Em um canto mais afastado Milena, Luis e Dalila conversavam sobre o livro e como Simone as convenceu a ceder informações para que o livro realmente fosse feito.


-Convincente, ela. Ainda não sei como me dobrou. – Dalila dizia.
-Acostume-se. – Milena procurava sua amada com os olhos.
-Será que mamãe aprovaria?


Milena olha por um instante para a entrada da livraria e vê um casal bem vestido esbanjando sorrisos. A mulher com um vestido de dançarina flamenca e o homem vestido com trajes de toureiro dançando em meio a gargalhadas. Ao olhar sua irmã e pensar naquele significado sorri.


-Desconfio que sim. – sorriu.


Ao olhar para Milena por um instante Luis vislumbrou o mesmo jeito de olhar e sorriso de sua mãe. A noite seguia agradável dentro da livraria. No céu a lua crescente brilhava anunciando um novo reinado e os casais que estavam olhando a noite na beira do mar juraram ouvir o canto da sereia.

-“... Ela mora no mar. Ela brinca na areia. No balanço das ondas a paz ela semeia...”


FIM

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