Nossa Forma de Amar - Capitulo XLI
41 – “Purificando” A Porta
-Não conheço. – respondeu Lucimara com expressão
séria.
-Não conhece a Deus? – o pastor perguntou
perplexo.
-Deus eu conheço muito bem. Esse tal de Satanás é
que não me lembro de ouvir falar ou conhecer. – Ironicamente Lucimara replicou.
Sabia bem a que o senhor se referia como satanás.
Não era a primeira nem seria a ultima vez que ouviria alguém fazendo esse tipo
de comparação a sua religião. Satanás/Diabo/Demônio são nomes criados pela
igreja católica para justificar um céu onde os bons e justos vão e o inferno
para onde os pecadores e ímpios irão. Aquela figura parecida com um animal, de
chifres, rabo e com aspecto medonho tem o poder de amedrontar as pessoas.
Para que os negros pudessem cultuar seus orixás e
Inkisis sem restrições ou repreensões foi escondido por baixo dos altares das
igrejas e religião dos brancos os otás
(pedras consagradas ao orixá) foram escondidos. Associando os santos católicos
aos orixás do candomblé. Nascia assim o Sincretismo
Religioso.
Milena fez sinal para que Dalila se aproximasse
sussurrando em seu ouvido.
-A mãe está ficando irritada.
-Acho que seu sogro vai dançar. – Dalila riu já
imaginando as formas com as quais a mãe poderia responder aquela provocação.
Do lado de fora do portão os fieis estavam
silenciosos para saber o que diria o seu líder. Entre eles estava Moises,
olhando para Milena de forma não tão amistosa. Seu olhar era de repulsa e ódio.
Não conseguia entender como essas mulheres, lindas, preferiam deitar-se com
outras como se fossem homens. Lembrou-se de Nalva e Adelaide, Aynoá e Madalena,
Luiza... Precisava saber como ela estava. O pastor pensou nas palavras daquela
senhora e respondeu.
-Sua casa é de feitiçaria e diz na Palavra do
Senhor no livro de Deuteronômio 18: 9-13
“9 Quando você entrar na terra que Javé
seu Deus vai lhe dar, não imite as práticas abomináveis das nações que aí
vivem. 10 Não haja em seu meio alguém que queime o próprio filho ou filha, nem
que faça presságio, pratique astrologia, adivinhação ou magia, 11 nem que
pratique encantamentos, consulte espíritos ou adivinhos, ou também que invoque
os mortos. 12 Pois quem pratica essas coisas é abominável para Javé, e é por
causa dessas práticas abomináveis que Javé seu Deus vai desalojar essas
nações.” Fora da nossa rua, feiticeira.
-FORA! FORA! – Gritavam os fieis em coro.
Perto do portão Lucimara cultivava um pequeno
jardim e uma horta. Um de seus filhos de santo estava regando as plantas com a
mangueira. Lucimara olhava a um bom tempo àquela água e teve uma ideia de como
espantar as “galinhas” de sua porta. Calmamente desceu os degraus que davam
acesso ao jardim enquanto falava para Jose e seu séquito.
-Já que sou feiticeira, acho que o senhor e seu
povo deveriam me temer.
-Nós somos o povo do Senhor e não tememos
demônios e bruxarias qualquer.
-Pois deviam já que tudo que eu toco fica
enfeitiçado. Já pensou se eu tocasse nesse portão que o senhor esta
praticamente debruçado? – Falou ironicamente.
O homem que prestava atenção no que Lucimara
dizia atentamente mais que depressa desencostou do portão dando dois passos
para trás.
Alienado. Ignorante. Prepotente. Falso profeta que engana besta. – Pensou Lucimara ao ver a atitude do homem.
-Se... Se pensa que nos intimida saiba que não. –
a cada passo que Lucimara dava o homem recuava.
-Sabe do que o senhor e seu povo precisam pastor?
– A mulher pegou a mangueira da mão do rapaz abrindo a pressão no volume
Maximo.
-Quem tem a graça de Deus não precisa de nada
terreno. – o homem falou arrogantemente.
-Engano seu. Precisa sim.
-De que feiticeira?
-De um banho pastor.
Lucimara mirou a mangueira na direção do portão
molhando a todos que estavam naquela “marcha”. Alguns saíram correndo e
gritando que a água estava enfeitiçada enquanto outros, bem poucos, permaneceram
orando.
Jose demonstrava sua ira no olhar e antes de sair
gritou para a mulher.
-Você e sua família vão se arrepender. Vão me
pagar por isso e por minha filha esta entre a vida e a morte.
Saiu sem olhar para trás sendo seguido pelos
poucos que restaram. Lucimara desligou a mangueira enquanto seus filhos riam da
cena que ocorrera minutos antes, apenas Milena mantinha-se séria. Não havia
gostado do tom de ameaça imposto na voz daquele homem.
-Mãe, a senhora acha que ele pode fazer algo?
-Minha filha, quando um homem esta cego em sua fé
tudo aquilo que ele achar que esta contra os dogmas de sua religião estará
ameaçado.
-Podemos prestar queixa...
-E alegar o que? Um grupo de alienados aqui na
porta fazendo coro?
-Intolerância religiosa né mãe. Hoje foi esse
showzinho, amanhã pichações e depois?
-Ta bom. Liga para o Ronaldo, advogado da AFO e
explica o que aconteceu. – Lucimara dirigiu-se de volta para a cozinha. – É
cada louco que me aparece.
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