Nossa Forma de Amar - Capitulo XXXVIII
38 - A Culpa
É Sua, Você Põe Em Quem Lhe Convém.
Quando se lembrou de pegar o telefone a ligação
já havia sido encerrada. Com cuidado ajeitou sua esposa no sofá e foi em busca
de um pedaço de pano o molhando com água gelada e passando sobre o rosto de
Maria para despertá-la.
A mulher despertou ainda tonta com a noticia
recebida. Olhou para o marido desabando em choro. O homem abraçou-a enquanto
perguntava o motivo do desmaio.
-Nossa filha...
-O que houve com ela?
-Esta na emergência que irmã Gertrudes trabalha. Deu
entrada desacordada e sangrando.
-Vamos para lá.
Enquanto a mulher foi no banheiro lavar o rosto e
se aprontar para sair, Jose foi a uma pequena caixa de madeira com cadeado onde
guardava algum dinheiro e pegou para caso precisassem.
Assim que saíram de casa um taxi ia passando,
deram sinal e indicaram o caminho. Tudo observado de longe por olhos coléricos.
Após fugir do local onde deixou Luiza caída, Moises foi para frente da casa de
seus pais para tentar alguma noticia. Chegando a tempo de ver a saída do casal.
Preciso ir embora daqui antes que ela abra a boca pra policia. – pensou enquanto ia para o quartinho atrás da igreja arrumar as poucas
coisas que tinha.
-Pra onde CE vai mano? – perguntou Venâncio.
-Num sei. Só sei que aqui não posso ficar. Vai
que ela fale pro pastor e ele chame a policia.
-Mano, nós tem que voltar pra casa. Falei com a
mãe e o pai não ta bem. – Jeremias comunicou.
-Tudo bem. Assim que me arranjar ligo pra lá. Cês
vão quando?
-Ainda hoje. No ônibus da noitinha.
-Então vou à rodoviária com vocês.
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-Nós vamos nos responsabilizar por ela. Pode
fazer a transferência. – falava Lucimara ao diretor do Pronto Socorro.
-A senhora não tem nenhum contato com os
familiares dela? – perguntou o senhor de estatura mediana, caucasiano, de
cabelos totalmente brancos e olhos negros já aparentando o cansaço da idade.
-Infelizmente não. Ela é namorada de minha filha.
-Entendo. Em meia hora estaremos fazendo a
transferência para o hospital indicado pela senhora.
A mulher balançou a cabeça confirmando e
agradeceu ao senhor saindo logo em seguida da sala. Encontrou Estela
conversando com um médico e pediu que a acompanhasse. Enquanto andavam até a
enfermaria conversavam.
-Indiquei o Hospital
Santo Amaro. Já falei com meus contatos lá e ela será bem tratada.
-Estou trabalhando lá agora.
-Que bom. Sempre que estiver por lá você da uma
olhada no quadro dela. Tenho a impressão de que se não arranjar um modo de ter
noticias dessa moça terei alguém doente em casa.
Apontou com a cabeça para sua filha que estava
sentada no leito ao lado de Luiza segurando sua mão enquanto falava com a
jovem. Acariciava o rosto e dizia que a amava, pedia para que despertasse bem e
não houvesse sequelas. Depositou um beijo na bochecha da moça adormecida e saiu
do quarto.
-Então, mãe. A senhora resolveu?
-Sim. Já vão transferi-la.
Alguns enfermeiros passaram indo para o leito da
jovem iniciar o processo necessário para sua locomoção. As três andaram para a
saída do local quando avistaram os pais da jovem adentrando o estabelecimento.
Ao ver a mãe de santo e a moça que estava na foto do jornal com Luiza, Jose
ficou nervoso. Maria o deixou e caminhou em direção a moça a fim de saber noticias
de sua filha.
-Como ela esta?
-Inconsciente. Vai ser transferida para o
Hospital Santo Amaro. – Lucimara informou-a.
-Mas esse hospital é muito caro, não temos
condições de bancá-lo. – a senhora disse com ar preocupado.
-Eu estarei custeando. Não se preocupe com isso.
-Depois faço questão de devolver tudo que a
senhora gastar.
Lucimara viu que não se tratava de arrogância,
mas sim da criação de pessoas humildes e honestas. Decidiu não discordar da
senhora que já havia retornado para perto do marido. A enfermeira Gertrudes
assim que os viu foi saudá-los.
Já sei como descobriram o paradeiro da filha. – a médica pensava enquanto ouvia a conversa da enfermeira.
-Não tive como impedir que essas mulheres
falassem com o diretor. – na voz da mulher se notava o preconceito.
-Tudo bem irmã. Fez bem em nos avisar. Agora
vamos aguardar o que farão.
Nessa hora a maca passou sendo conduzida por dois
enfermeiros e uma médica. Luiza parecia ressonar. Milena não segurou o choro e
já ia saindo com a mãe em direção ao carro quando escutou a voz do pastor.
-Isso é culpa dessa desvirtuada que confundiu a
cabeça de minha filha.
-Minha culpa? Por acaso fui eu que expulsei minha
filha de casa? Eu queria a casar com alguém que ninguém sabe de onde veio só
para satisfazer seu ego e dar o “bom exemplo” ao seu rebanho? Ora, faça-me o
favor de não despejar sua culpa nos outros. O intransigente aqui é você.- Dos
olhos de Milena saiam faíscas.
-Ora sua...
-Acho melhor o senhor medir suas palavras, Jose.
Ela é minha filha, tem educação, mas acho bom o senhor não abusar da paciência
dela. ao invés de procurar culpados devia ir na ambulância com sua filha.
Lucimara e Milena entraram no carro e seguiram
para casa. O que podia ser feito já havia sido encaminhado. Agora era rezar
para a melhora da jovem antes que outra jovem adoecesse.
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Antonio andava pelos corredores da recepção na
expectativa da cirurgia a qual Simone estava sendo submetida. Horas antes havia
atendido a um telefonema no celular dela e aguardava a pessoa chegar.
Repentinamente ouviu passos rápidos de salto alto
aproximando-se ao virar para ver quem chegava perdeu-se por um momento ao olhar
aquele monumento em forma de mulher vestida em uma calça jeans, uma blusa
social feminina branca e salto alto. Cabelos negros soltos e olhar preocupado.
-És Antonio?
-Sim sou.
-Rúbia, amiga de Simone. – apertaram-se as mãos.
Uma enfermeira aproximou-se de ambos.
-Os senhores são familiares de Simone Barros?
-Sim. – respondeu Antonio nervoso.
-Ela irá precisar de uma transfusão de sangue só
que em nosso banco não temos o tipo dela AB negativo.
-É o meu tipo sanguíneo. – a espanhola respondeu.
-Por favor, me acompanhe senhora.
Rúbia seguiu a enfermeira até a sala de coleta
enquanto esta lhe fazia perguntas de praxe. Ao retornar a recepção encontrou
Antonio cochilando em um sofá.
Ele deve estar cansado. Assim que acabar a cirurgia me ofereço para
ficar. – a morena conjecturava.
-Ela ficará bem. Tem muitos espíritos de luz ao lado dela. – Augusto
dizia-lhe.
-Espíritos das trevas também. Infelizmente ela
mexeu onde não deveria.
-Você deveria lembrar que humanos são movidos pelos sentimentos. E creio
que ainda há tempo para redimir-se.
-Obrigada Augusto. Por todos los anos que me
auxilias. – sorriu ao sentir uma brisa suave envolver-lhe.
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