Nossa Forma de Amar - Capitulo XLIV
44 – O Improvável
Maria estava quase cochilando quando ouviu algo
parecido com um gemido de dor. Levantou-se depressa e viu Luiza mexendo-se na
cama. Aguardou que a jovem abrisse os olhos ou falasse algo, mas ela voltou a
entrar em sono profundo. Sentou-se desanimada.
Pensava no que havia feito para ter sua filha
única naquele estado. Sempre havia sido uma boa cristã, boa esposa, boa filha
aos seus pais os honrando mesmo depois de falecidos. Havia sido uma esposa
submissa e até fingido não ser conhecedora da infidelidade do marido.
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Após receber alta médica, Antonio e Rúbia
ajudaram Simone a entrar no carro e posteriormente no apartamento da repórter.
Depois de alguns minutos Antonio se foi deixando-as. O pequeno apartamento da jovem ficava no bairro São Rafael perto do Hospital que dava
nome ao bairro. Dois quartos sendo uma suíte, sala, cozinha, área de serviço e
um banheiro. Arrumado de forma aconchegante. Simone fez um breve tour com sua
convidada pelo ambiente e ao final ficaram no quarto da moça na varanda.
-O que achou do meu cantinho? – perguntou
enquanto sentava com um pouco de dificuldade.
-Acolhedor. Posso fazer-te uma pergunta?
-Sim.
-E seus pais?
-Provavelmente na cidadezinha deles. Não sabem da
minha condição sexual. Para eles vim para a capital apenas para cursar uma
faculdade.
-Hum! Será que já sabem do seu acidente?
-Talvez, mas acho difícil que eles se abalassem
de Barreiras até Salvador. Ainda mais agora que meus irmãos estão morando de
novo no sitio da família, ambos divorciados e com seus filhos.
-Nada é impossível. – Rúbia sorriu olhando a
noite estrelada e as luzes das casas acesas que davam uma linda visão a quem
estava nos andares altos.
Simone contemplou o silencio e as expressões
daquela moça. Pensou nos últimos anos, em seu relacionamento conturbado com
Milena,no termino e fuga da outra, nas atitudes que tomou em nome desse
sentimento que julgava ser amor.
Ali, sentada apreciando a noite ao lado daquela
mulher se deu conta de que nunca teve momentos como esse antes com qualquer
mulher que frequentou sua cama ou ela frequentou as dela.
Começava a ver que algo lhe dito por dona
Lucimara anos antes fazia sentido. Lembrou-se da infância no sitio dos pais e
dos anos de dificuldade, lembrou-se de seus irmãos mais velhos ajudando os pais
nas plantações. Lembrou-se também de quando foi expulsa de casa e decidiu ser
alguém na vida saindo do interior de Barreiras com vontade e algum dinheiro.
Sua chegada à capital e o emprego de faxineira
que arranjou aos dezoito anos para poder custear seus estudos. O estagio na Secretaria de Cultura de Salvador e
todos os pormenores que passou. Por ultimo essa facada e a ajuda inesperada
dessa morena misteriosa aos seus olhos. Lagrimas vertiam de seus olhos sem que
percebesse. Permaneceram em silencio cada uma em seus pensamentos.
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A noite já se fazia alta quando três vultos
esgueiravam-se pelas paredes do terreiro de Lucimara. Os rapazes de estatura
média olhavam para ver se alguém apareceria e quando constataram não ter
ninguém acordado começaram a pichar os muros com frases ofensivas. Assim que
terminaram saíram em silencio. Mais na frente Moisés os esperava com o resto do
pagamento do “serviço”.
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O interfone do apartamento tocou. Rúbia
levantou-se do quarto de hospedes vestida em uma camisola de seda e o atendeu.
Após o porteiro explicar a situação foi ao quarto de Simone que havia
adormecido a poucos instantes e a chamou suavemente.
-Simone, tem visitas.
-Quem viria aqui uma hora dessas. – perguntou
enquanto coçava os olhos.
-Tu padre e tu madre.
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