Nossa Forma de Amar - Capitulo XLV


45 – Lembranças e Magoas


-O QUE? – exasperou Simone atônita. – Não é possível. – levantou-se rápido demais ficando tonta e caindo sentada na cama.
-Por que não é possível? – Rúbia desconfiava.
-Simples. Eles me acham uma aberração por ser homossexual. Duvido que venham aqui por amor já que uma vez me expulsaram da casa deles.

Antes que dissesse algo a mais, o interfone tocou novamente. Simone o atendeu bem desperta.

-Boa noite dona, mas o casal esta impaciente aqui em baixo.
-Me deixa falar com eles. – o porteiro passou o aparelho. – o que querem?
-Te ver, filha. – falou a senhora.
-Não acredito. – as emoções de Simone oscilavam entre duvida e magoa. – depois de anos lembraram que eu existo por quê? Ah! A reportagem sobre meu assalto. Com certeza imaginaram que estou financeiramente bem e desmemoriada para não me lembrar de como me trataram anos atrás.

-SIMONE! – gritava dona Janice pelo sitio a procura da filha.

Enquanto sua mãe seguia em direção ao pequeno riacho, Simone estava no celeiro entre beijos e caricias com uma amiga. As roupas estavam parcialmente nos corpos e as bocas grudadas. O desejo reinava naquele lugar e ambas estavam tão absortas que não perceberam que os chamados cessaram.

Janice não a viu no riacho e se dirigia para o celeiro. Viu a porta aberta e decidiu entrar. Perto da porta ouviu sussurros e pequenos gritos. Ao abrir a porta sua primeira reação foi gritar quando viu sua filha caçula deitada em uma manta com outra mulher entre suas pernas.


-MÃE! – a jovem pulou de suas pernas catando as roupas.


Teodoro ao ouvir o grito da mulher correu na direção do som vendo sua filha terminar de abotoar a roupa. Não entendeu a principio, até que sua esposa lhe explicou o que viu. Simone foi proibida de sair de casa enquanto o casal ia chamar um padre para ajudá-los.

Já era noite quando o padre chegou. A jovem estava no quarto e a porta se abriu abruptamente. O padre analisou a moça e disse que ela não parecia estar possuída por nenhum tipo de demônio.


-Mas ela estava se atracando com outra moça no celeiro, padre. Isso não é de Deus. É aberração. – a senhora falava com o rosto vermelho. – Não aceito essas coisas. Sou temente a Deus, todos católicos e aqui não entra o ante cristo.
-Dona Janice, as tentações estão em todos os lugares. – ponderava o padre antes de prosseguir. – Por que a senhora não a manda para o convento das irmãs carmelitas? A madre é uma conhecida e posso recomendar sua filha.
-É. Pode ser. Elas vão da um jeito nessa aberração. Não quero uma filha falada.


Simone foi para seu quarto pensando em como escapar dessa ideia de convento. Fugiria se preciso fosse. Arrumou uma pequena mochila e deixou com seus documentos e uma quantia em dinheiro em baixo da cama e tentava ouvir a conversa de seus pais com o padre.

Os dias passaram e Simone continuava trancada em casa. Por ser período de recesso escolar ninguém desconfiava do que acontecia naquele sitio. Na manhã daquele dia Simone acordou e percebeu que havia alguém no quarto. Ao se virar viu sua mãe sentada no pé da cama.


-Onde nós erramos filha? Você era uma menina doce, geniosa sim, mas justa. E agora? Fica frescando.
-Mãe eu sou assim.
-NÃO É NÃO. – Janice gritou. – Você esta endemoniada. Isso é ruim. É aberração. Não te criei pra isso e se insistir não tenho mais filha. – a mulher disse batendo a porta do quarto.


Nesse mesmo dia Simone saiu daquela cidade no interior da Bahia sem olhar para trás. Estava sozinha no mundo.


Rúbia tocou suavemente no ombro da outra para que esta lhe desse atenção.

-Cariño, esta tarde. Deixe que eles subam pelo menos para esperar o dia amanhecer.

Simone não queria vê-los depois de mais de dez anos de inexistência, mas ao olhar no relógio viu que já passava das duas da madrugada. Olhou nos olhos da espanhola e viu consentimento e apoio. Voltou a falar ao interfone, mais calma.

-Vou deixar vocês subirem para passar a noite e verem que estou bem. Amanha voltam pro mundinho de vocês. Passe para o porteiro.

Pediu que o rapaz os ensinassem a chegar em seu apartamento e desligou. Ao olhar Rúbia atentamente viu que a moça estava usando uma camisola de seda que acentuava suas curvas e mostrava mais que escondia.

-Meu Deus! Que morena. – pensou ao sentir o corpo reagir.

-Tenemos um impasse. – a morena falou.
-Qual?
-Onde eles irão ficar? Su casa só tem uma hospedaria.
-Verdade. Hum. Você se importa em dormir comigo?
-Uma proposta tentadora. – O sorriso da espanhola era puramente lascivo. – Mas estás convalescente, então iremos apenas dormir.
 -Não pensei em outra coisa. – dizia Simone enquanto suas expressões a contradizia.

Riram e foram tirar as malas de Rúbia do quarto de hospedes para que os pais da moça pudessem pernoitar. A espanhola vestiu um robe e foi ao banheiro enquanto a jornalista aguardava na sala.

-Conhecer os sogros tão rápido. – Augusto sorria.
-Não era intencional. – a moça devolveu a brincadeira. – ela tem uma magoa profunda.
-Pude sentir. Faz parte da sua missão ajudá-la nisso também. Qual o nome do filme?
-Missão Impossível?
-Esta esperta. Seus sogros chegaram. Boa sorte. – assim como chegou, augusto se foi.”

A campainha tocou e Simone abriu a porta olhando aquelas duas figuras envelhecidas e maltratadas pelo tempo. sua mãe não era mais aquela mulher de olhar altivo. Estava mais para resignado. Seu pai andava com o auxilio de uma bengala e do braço da esposa. Levaram longos minutos reconhecendo-se. O silencio fez com que Rúbia viesse ao encontro de Simone chamando-a ternamente.

-Cariño?!

Os três pares de olhares focaram nela. Simone encantava ao vê-la e seus pais pensando em qual relação sua filha teria com essa moça. Quem seria ela para Simone.

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