Nossa Forma de Amar - Capitulo XLVII


47 – Primeiros Sinais

-E aí, mana? Vai fazer como para ver a sua amada? – Dalila perguntava a irmã enquanto estavam andando pelo terreiro para ver se tinha alguma avaria ou algo quebrado pelos vândalos.
-Daremos um jeito.
-Ei! “Daremos”?
-Sim, irmã querida. Nós daremos. – gargalhou da expressão indignada da outra.

  ****************************************************************************

-Acordou? – o homem falava ao telefone eufórico. –Graças ao Senhor.

Jose falava ao telefone com sua esposa na pequena sala de administração da igreja quando Moises ao ouvir a conversa quando o pastor comemorava o despertar da filha, parou esperando as próximas palavras.

-Amanhã irei ao primeiro horário. Quem mais sabe que ela acordou?
-Os médicos que já vieram examina-la. – falou a mulher no corredor que dava acesso a recepção do hospital.
-Ótimo. Não quero que aquela enviada do mal desconfie. – referia-se a Milena.
-Vou desligar. Fique com o Senhor.

Assim que desligou já iria sair da sala quando foi abordado por Moises. Deu-lhe a noticia com o mesmo entusiasmo que sentiu quando sua filha disse a palavra “papai” pela primeira vez. Moises indagou sobre a recuperação da moça.

-E ela falou o que aconteceu?
-Se falou a Maria não sei. – o homem revelou pensativo.
-Quando ela vai para casa? Gostaria de fazer uma visita.

O pastor ainda não havia pensado nessa questão. Será que a jovem Luiza iria querer retornar para o seio da família? Ela não voltaria para a casa da filha da adoradora de inimigo. Ele não deixaria. Por fim respondeu a pergunta do homem que aguardava a sua frente.


-Breve. Amanhã vou lá vê-la. Mas agora diga quais são os problemas que você encontrou na fiação.


Saíram conversando sobre a fiação partida que estava impossibilitando a realização dos cultos à noite. Jose nem desconfiava, mas o homem que abrigara era o algoz de sua filha.

    **************************************************************************

Simone remexeu-se na cama e percebeu que não estava só. Rúbia ressonava tranquila. Havia se desenrolado durante a madrugada devido ao calor e Simone contemplava a camisola de seda que mais mostrava do que escondia os atributos espanhóis.

Respirou fundo e com um pouco de dificuldade foi ao banheiro. Olhou-se no espelho e sorriu ao olhar de soslaio a moça em sua cama. Há tempos atrás provavelmente a estaria despertando com beijos inflamados.

Hoje se contentava em apenas vigiar seu sono. Lavou o rosto e foi à cozinha preparar algo para ela e seus hospedes, a desejada e os inesperados. Pegou o bule e colocou água para ferver. Faria seu tradicional café de forma artesanal. Embora tivesse uma cafeteira da mais moderna não abria mão do café matinal ser preparado por ela como na sua cidade natal.

Pegou o pó e adicionou a água esperando os primeiros sinais de fervura. Com o coador em mãos distraia-se observando o liquido cair na garrafa térmica. Seus pensamentos voavam tanto que não percebeu ser observada durante certo tempo. Quando se virava para pegar algo no armário percebeu quem a olhava.

-Há quanto tempo estava aí? – perguntou desconcertada por ter sido pega em um momento de descontração.
-Tempo suficiente. – Rúbia deu um sorriso de lado.
-O café esta pronto. – disse saindo do transe no qual se encontrava.
-Não irá chamar seus pais?
-Não precisa. – a voz feminina anunciou. – Já estamos aqui.

A senhora ajudava seu marido a locomover-se. Sentou-se com cuidado começando a servir seu marido. O silencio reinou. O ar pesou. Rúbia observava a conversa silenciosa. Sentiu um perfume conhecido no ar instante antes de ouvir seu mentor sussurrar.

-Essa família necessita do perdão. Que se perdoem. Este pobre homem cansado devido ao tempo que viveu nas condições que viveu espera apenas o perdão de sua filha para partir deste plano. Sua esposa e alma gêmea consegue compreender tudo que ele nunca lhe disse em silencio.

A jovem suspirou. Sabia que a jornalista tinha uma caixa de Pandora guardada em si e não saberia precisar o que sairia dali. Pediu licença retirando-se. Precisava checar seus emails e dar a privacidade que a família precisava para iniciar “a conversa”. Cansada daquela falta de palavras, Simone quebrou o silencio em seu tom mais indiferente.

-O que vocês querem aqui? – perguntou ao depositar sua xícara na mesa.

   ***************************************************************************

Lucimara preparava o almoço para seu “batalhão” enquanto os rapazes pintavam as paredes ao redor do terreiro e as moças colocavam as roupas dos orixás no sol. A temperatura naquele dia excepcionalmente estava mais alta que o normal.

Lucimara sentia o calor emanado pelo fogão. Assim que terminou de temperar a carne deixou que fervesse. Dirigiu-se a geladeira servindo-se de um copo de água gelada. A sorveu de forma sedenta e quando virava o corpo para depositar o copo na pia sentiu uma pequena vertigem.

Amparou seu corpo na coluna da parede e esperou que aquilo passasse. Não se sentia assim a um bom tempo e agora havia recomeçado. Procuraria um medico no dia seguinte. Por hora não falaria com as filhas. Sentou em um banco que ganhara de um dos filhos e utilizava para cozinhar. Na medida em que o almoço terminava, seus filhos começaram a aparecer movidos pelo cheiro.

Comentários